segunda-feira, janeiro 15, 2007

Grandes Portugueses + IVA



Adoro a estética kitsch do nosso país, principalmente a das televisões.
Quando acedi à página da RTP e deparei com o banner daquele que seria o meu escolhido se votasse (não gosto de "votar + IVA") não fiquei indiferente à composição. A imagem do Infante com um ar angelical ao lado de um número de telefone e do preço da chamada + IVA, com pormenor das mãos em posição de oração ali pelo meio, é uma obra-prima da RTP. Só falta um rodapé com um sms romântico da Sónia Vanessa dirigido ao Bernardo da linha.

Porquê o Infante? (um momento de incontenção verbal)
Na minha opinião um grande qualquer-coisa (Português, Espanhol, Basco, Chinês, Zulu, etc.) tem que obedecer a três critérios básicos: 1) A contribuição para a sua tribo deve comportar um esforço (intelectual e/ou físico) construtivo considerável; 2) Deve existir um antes e um depois do grande personagem; 3) Inovação. (Isto parece um formulário da FCT)

O extenso e exigente trabalho multidisciplinar (científico, tecnológico, humano, etc.) de planificação das descobertas bem sucedidas na costa de África dirigido pelo Infante merece toda a minha vénia. Acresce o mérito de as descobertas terem sido envolvidas em grande secretismo e em alguma competição com países bem mais apetrechados e bem mais poderosos do que Portugal.

Sem querer minimizar a brilhante obra de Camões, não escolheria o poeta por uma razão que é frequentemente desprezada quando se dá Camões na escola secundária. A principal obra de Camões, Os Lusíadas, segue uma receita que foi utilizada com frequência na Europa, que é a receita da Odisseia (o pormenor dos deuses que manipulam Vasco da Gama vai mais longe que outras obras na colagem à Odisseia), e nesse aspecto não é uma obra tão inovadora como possa parecer. O que nos enche de orgulho e que atribui uma dimensão simbólica muito poderosa aos Lusíadas é que o nosso Ulisses (Vasco da Gama) era real, existiu mesmo e foi lá ao fim do mundo e voltou!

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