A propósito do filme "Babel", três entradas em blogues diferentes (Almareios, Arrastão e A Natureza do Mal) coincidem na crítica aos próprios críticos de cinema nacionais. Junto-me a essas crítica. A minha crítica começa logo pela falta de exigência dos jornais na escolha dos críticos de cinema. Quem escreve sobre cinema em jornais com dezenas ou centenas de milhares de leitores e é pago por isso tem que oferecer ao leitor algo mais do que uma conversa de café ou algo mais do que se escreve nos blogues. O que se verifica é que a maior parte dos críticos de cinema não vê muito cinema. Vêm aquele cinemazeco de algibeira de Hollywood, as lamechices da Disney e pouco mais. Provavelmente, menos de 25% dos críticos saem deste perfil e vão um bocadinho mais longe, já vêm uns David Lynchs, uns Tim Burtons ou uns Cronenbergs, mas muitos ficam-se por aqui. São muito poucos os que vêm todo o tipo de cinema, que vão à Cinemateca, que frequentam cine-clubes, que alugam filmes antigos, que vêm filmes em canais de TV que passam bom cinema (o canal ARTE por exemplo). Obviamente, depois a qualidade da crítica reflecte muito a qualidade e amplitude do cinema que se vê.
Lembro-me de ler críticas sucintas de um ou dois parágrafos que espremidos se resumiam a: "este filme é maniqueísta" ou "este filme é politicamente correcto", sem fundamentação da opinião expressa. Frequentemente, as críticas não enquadram o filme no contexto da obra dos autores, não se pesquisa sobre o local e sobre o contexto histórico da acção, não se citam os filmes que estiveram na origem de remakes, mas escreve-se demais sobre os milhões que custou filme A, B ou C, sobre a receita de bilheteira e fazem-se primeiras páginas muito generosas e simpáticas de filmes fraquíssimos produzidos por grandes companhias (serão essas primeiras páginas de borla?). Para completar o ramalhete de misérias, acho ridícula a mania dos ódios de estimação. Parece que para se ser crítico de cinema é preciso ter ódios de estimação. Um odeia o cinema francês, outro odeia o Michael Moore, outro o Woody Allen, outro a Barbra Streisand (os que têm falta de imaginação), e julgam-se muito engraçadinhos porque cortam rente cada vez que aparece um filme ligado ao seu ódio de estimação.
As consequências do baixo nível dos críticos é que muito cinema de qualidade nem sequer passa nas salas portuguesas ("Karakter" por exemplo) ou então passa, mas passa despercebido, como foi o caso caricato da primeira ronda de exibições do filme "Crash" de Paul Haggis, que só depois de vencer o Oscar é que foi exibido nas salas principais do país.
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