quarta-feira, novembro 30, 2005

Exportações têxteis (caixa de comentários)

O que desejamos comprar: um produto de qualidade, com design moderno e actual e com imaginação, ou um produto de qualidade, com design atrasado e sem imaginação?
A diferença, entre Portugal e Itália reside aqui e não na qualidade do pano que se fabrica; mas há mais de quinze anos que se sabia que o modelo de produção que usávamos no têxtil estava ultrapassado e a confecção não foi suficientemente apoiada para vingar rapidamente; há dezassete anos que os espanhóis promovem, apoiam, incentivam os seus criadores, entre outras coisas nasceu a Zara, nós continuamos com o têxtil a feição para cliente estrangeiro, e só agora começam a surgir alguns criadores de moda. O que se passou para estarmos nesta situação? O que se passou, se sabíamos há mais de dez anos quais as consequências da entrada dos têxteis chineses no mercado mundial?
Continuamos a elaborar os diagnósticos e a esperar que as soluções cheguem de avião....por alguém...


Adriano Volframista

terça-feira, novembro 29, 2005

Irreversible

"Irreversible" de Gaspar Noé é um filme de enredo em espiral, uma espiral que se desenrola ao contrário para percebermos como a espiral, a da vida, se desenrola por vezes com uma tal vertigem que nos impede de perceber a absurdidade crescente dos nossos actos. Marcus (Vincent Cassel) é espelho da absurdidade fora de controlo. Nas suas acções existe muito do que se designa em França por la haine, que é mais do que simples ódio, é o ódio do próximo, um ódio de punho cerrado. Quem viveu numa grande cidade francesa, quem quotidianamente andou pelos seus transportes públicos, pelos seus lugares de la France d'en bas conhece esse ódio, essa tensão de punho cerrado. A absurdidade de Marcus acaba no Rectum, onde começa o filme. E mais não digo, convido-vos a desenrolar o resto até à Monica Bellucci...

A minha teoria sobre a Monica Bellucci
Eu tinha uma teoria sobre a Monica Belluci, mas foi por água abaixo quando percebi que a Monica tem 41 anos de idade. Alguns amigos acham que a Monica Bellucci é a mais bela actriz de cinema, mas eu sempre contrariei essa teoria. Achava que a Monica tinha que ganhar uns anitos. Dava-lhe entre os 25 e os 30 anos de idade, por isso costumava afirmar que quando a Monica chegasse aos 35 e começasse a ganhar umas rugas ou umas expressões faciais mais características e mais interessantes, aí sim, seria a brincar a mais bonita de todas as actrizes. Afinal já lá vão os anos do primeiro amadurecimento e nem uma marca se vislumbra sobre o rosto da Monica. A minha teoria ficou assim quase reduzida a cinzas. Resta alguma esperança ainda entre os 41 e os 50. Como forma de protesto contra o excesso de cosméticos e de tratamentos de pele, continuo a proclamar a Fanny Ardente como a grande diva da sétima arte.

segunda-feira, novembro 28, 2005

Os cientistas não engoliram a treta do Iraque

Há dias em que me orgulho de ser cientista, foi o que aconteceu quando descobri esta sondagem realizada nos EUA pelo Pew Research Center e que foi publicada entre nós no Courrier International desta semana. O resultado da sondagem que dá os cientistas e os engenheiros americanos como o grupo mais céptico em relação à decisão e às consequências para o terrorismo da invasão do Iraque (88% e 84% de avaliações negativas), não constitui grande novidade para mim. De facto, todos investigadores americanos com quem tive oportunidade de trocar umas ideias sobre política tratam George W. Bush de asno para baixo. Se fossem europeus eram logo considerados anti-americanos primários, claro está. Todos eles se queixam do caos que se está a gerar no planeta com a intervenção americana no Iraque e de outras burrices de Bush ainda mais perigosas, como o desprezo pelo aquecimento global. Apesar de conhecer apenas este tipo de opiniões julgava não serem amostras representativas. Afinal esta sondagem confirma que aqueles americanos que no seu dia a dia fazem uso frequente do cepticismo, da precaução, da demonstração, da prova e da humildade perante o risco, não engolem a treta trapalhona servida pelos fanáticos que rodeiam Bush. Afinal ainda há esperança do outro lado do Atlântico.

domingo, novembro 27, 2005

10,4 % de baixa nas exportações têxteis

Assim que voltei de Bolonha comprei o Expresso e a sua tonelada de desperdício publicitário (que deveria ser proibido ou fortemente taxado) onde leio um artigo assinado por Margarida Cardoso sobre os efeitos da concorrência chinesa no sector têxtil nacional. Um gráfico mostra um decréscimo de exportações nacionais de 10,4% durante o primeiro semestre do ano. Em igual período as exportações italianas cresceram 6,2%. Voltado de fresco de Itália os números não me espantam absolutamente nada. Em Itália desde a produção até à apresentação do produto existe um nível de cuidado e de preocupação que nada tem a ver com o sector têxtil português. Em Portugal começa logo pela região de produção têxtil que é uma autêntica javardice. Conheço ali uma série de empresas de confecções entre a Maia e Vila do Conde que, exceptuando algumas boas surpresas, é o exemplo da ganância associada à ignorância e da ideologia do Estado Mínimo. Ali vale tudo. Pode-se poluir, construir onde haja um palmo de terreno e explorar tudo e todos. Onde se cria tanta riqueza há décadas vê-se uma pobreza chocante nas caóticas ruas de aldeolas de casas de alumínio e de muretes tortos de tijolo e de cimento feito à pressa. Trabalho qualificado ou salários dignos são coisa interdita em muitas daquelas empresas. Depois deste filme de terror, quando se aterra em Itália tudo parece bonito. As regiões industriais são bonitas e visitáveis. Qualquer empresa que se preze dá uma grande importância à qualificação da sua mão-de-obra, seja a técnica, sejam os designers. Depois o resultado vê-se nas lojas, nas vendas e nas exportações. Apesar da ofensiva chinesa o mercado têxtil italiano resiste aos preços baixos, através da qualidade, da variedade e da originalidade. O excelente catálogo à italiana da Intimissimi que aqui vos deixo é apenas um exemplo de tudo isto que aqui referi. Para além destas grandes cadeias de franchising, o têxtil italiano de qualidade vende-se igualmente nas pequenas lojas locais de comércio tradicional, trazendo para a vida urbana o prazer de fazer compras que se perde nas grandes superfícies, o doce passeio pelas ruas da cidade, a montra que se vê depois de um café numa esplanada, enfim uma outra filosofia que em grande medida nos é alheia.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Al-Jazeera e a Bomba Esperta

A intenção de atacar a Al-Jazeera já teve outros episódios menos claros. Leiam esta de uma "bomba inteligente" que acertou nas instalações da Al-Jazeera de Cabul.

Bombardear a Al-Jazeera pela liberdade e pelos valores ocidentais...

Ler esta notícia da CNN. Resposta da Casa Branca: "We are not going to dignify something so outlandish with a response".
Como podem reparar a notícia não foi formalmente desmentida. Para quem conhece a metodologia da Casa Branca sabe que esta resposta significa que a notícia é verdadeira.

quarta-feira, novembro 23, 2005

Mitos culinários: Spaghetti Bolognese

O Spaghetti Bolognese é supostamente um prato italiano, mas que os Italianos só descobrem quando saem do país porque em Itália ninguém designa como Spaghetti Bolognese um prato de esparguete com um refogado de carne de vaca. Os italianos designam-no exactamente desta maneira: massa (esparguete se for o caso) com refogado de carne ou pasta (spaghetti) al ragu di carne (ragu di manzo, di agnello, di vitello, etc.). Curiosamente o que é típico aqui em Bolonha é o refogado de carne acompanhar as massas tagliatelle (lê-se talhiatele) e não o esparguete.

terça-feira, novembro 22, 2005

O Outubro mais quente de sempre

Eu sei que estas entradas já começam a ser repetitivas, mas é só para informar que o mês de Outubro de 2005, tal como aconteceu com Setembro de 2005, foi o Outubro mais quente registado desde que se mede a temperatura da Terra, desde 1880.
Como o aquecimento global não se resolve nem à bastonada nem com bombardeamentos heróicos, continuamos hirtos e firmes a caminhar para um cada vez mais provável suicídio global como se nada se passasse.

Fica também aqui a dica de tema para os candidatos às presidenciais, para os que tiverem interesse em falar de temas importantes e interessantes.

segunda-feira, novembro 21, 2005

Fury (caixa de comentários)

"Esse filme funciona como um símbolo de uma certa postura civilizacional perante a barbárie de uma multidão sedenta de vingança.
No caso de não ter ainda visto o M (provavelmente até já o viu) do mesmo realizador aconselho-o vivamente. Na famosa sequência final, Lang consegue levar o espectador a sentir que mesmo um assassino de crianças tem direitos, não podendo portanto ser sujeito a um julgamento popular, onde estes não estão obviamente salvaguardados.
"

Bruno (Projector Lunar)

Via Aemilia

A Via Aemilia desfila em frente à minha janela, a janela de um pequeno albergo por onde passou Il Duce.

A Klepsýdra recupera o caudal após alguns dias de trabalho e de reuniões onde a internet sem fios não funcionou.

segunda-feira, novembro 14, 2005

Fury

"Fury" é o primeiro filme realizado por Fritz Lang nos EUA depois de ter abandonado a sua Alemanha natal. O que é notável em "Fury" é o vanguardismo do tema tendo em conta a mentalidade vigente na época em que foi realizado. Através de "Fury", Fritz Lang denuncia a ameaça que constituem as milícias e os linchamentos populares para o estado de direito. Isto em 1936 é notável. Mas Lang não se fica por aqui. Na segunda parte do filme Lang confronta-nos com a vingança e o ódio. Vítima de um equívoco judicial e da população em fúria, Joe Wilson consegue provar a sua inocência e a partir daqui desenvolve-se um processo de vingança pessoal alimentado pelo ódio e pelo rancor contra a população. Embora essa vingança seja executada por processos judiciais legítimos, as pessoas que estão mais perto de Joe já não o reconhecem, nomeadamente a sua querida Katherine Grant.

Apesar de ter sido realizado em 1936, infelizmente "Fury" é um filme muito actual, tanto nos próprios EUA, onde as milícias populares armadas são legais em alguns estados, como em Portugal. Quando vejo os noticiários da TVI que retratam casos judiciais bicudos que mostram grupos de pessoas em fúria a gritar insultos e ameaças às portas dos tribunais contra os acusados, lembro-me de logo de "Fury". Passaram 30 anos desde que somos uma democracia mas ainda não interiorizámos certos conceitos básicos de um estado de direito.

sábado, novembro 12, 2005

Sábado em Coimbra XXV: Baía no Municipal

Hoje às 21:15, Baía vai estar no Estádio Municipal. A selecção do ódio e da exclusão de Scolari é que vai aparecer na TV, mas o relvado, a bola, os Croatas e este vosso conimbricense vão ignorá-la e imaginar que Vítor Baía está ali, onde deve estar, na baliza da verdadeira selecção.

Sábado em Coimbra XXIV

PS- Registei e agradeço a participação entusiasta dos estimados leitores no último "Sábado em Coimbra". Na verdade, eu já calculava que a questão do Tropical era uma questão fundamental e decisiva para vida da cidade. ;)

sexta-feira, novembro 11, 2005

O gueto visto do interior

Rachid Djaidani é um jovem francês das cités, filho de pai marroquino e mãe egípcia (salvo o erro, li o livro há 4 anos), que decidiu descarregar a sua energia para a caneta e para o papel, e posso garantir-vos que o fez com maestria. O seu livro "Boumkoeur" é um romance meio autobiográfico, em que nunca se percebe muito bem onde acaba o romance e onde começam os factos da vida de Rachid Djaidani. Rachid descreve-nos o quotidiano das cités visto por dentro, pelos jovens: a mentalidade vigente, a hierarquia do bairro, o território dos bandos, a merda que fazem diariamente, a relação com os moradores, com a família, com a polícia, com a escola e com os "estrangeiros" ao bairro. Apesar de ser um daqueles jovens qui traine dans les cités, Rachid não tem papas na língua e aponta o dedo aos gremlins, que é como são conhecidos os mais jovens, os putos até aos 14 anos, a quem chamei tiranetes. Rachid é um pouco mais velho e por isso teme-os. Os gremlins toleram-no, mas são xenófobos. Rachid não é nenhum anjo, no entanto descreve-nos como sofre com a vida da cité. Gostava de ser escritor, mas nas cités isso é sinónimo de maricas.
Este romance autobiográfico é muito bom, com um desenrolar muito pouco previsível e espantoso. Só percebi a forma como foi aclamado nos programas de televisão franceses dedicados à leitura (onde se sentia pouco à vontade), quando li o livro. Até aí pensava que estavam apenas a dar uma oportunidade efémera a um jovem de um bairro.
Como sempre em Portugal, estes bons livros que não são escritos na língua de Walt Disney não se traduzem, nem se vendem. É a ditadura cultural anglo-saxónica que temos. Para quem quiser desenferrujar o francês, mas sobretudo para quem quiser perceber o que se passa nas cités francesas, aqui fica a ligação para a Amazon. A escrita tem muito jargão, mas é acessível. Também há o dialecto dos gremlins (uma espécie de françárabe de segunda apanha), mas Rachid fez-nos o favor de traduzir.

quarta-feira, novembro 09, 2005

Venus Express


...3, 2, 1 ...

Agora a Venus Express deverá chegar ao planeta Vénus em Abril de 2006. Fica aqui a ligação para o sítio que descreve as várias etapas da fase de descolgem do foguetão Soyuz-Fregat que transporta a sonda da ESA.

terça-feira, novembro 08, 2005

segunda-feira, novembro 07, 2005

Ler do avesso os acontecimentos em França

"According to the latest statistics from the U.S. Department of Justice, more than two million men and women are now behind bars in the United States."
Human Rights Watch

No país da OCDE com a maior taxa de criminalidade estão nas prisões quase 1% dos cidadãos (mais de dois milhões). Agora por favor leiam o que escreve o Abrupto sobre os tumultos em França:

"(...) o enorme contraste entre o modo europeu de “receber” e integrar os emigrantes envolvendo-os em subsídios e apoios, centrado no estado e no orçamento, hoje naturalmente em crise; e o modo americano que vive acima de tudo do dinamismo da sociedade que lhes dá oportunidades de emprego e ascensão social"

Conclusões desta leitura do Abrupto:
1) A França é a Europa (os restantes 24 países da UE não contam);
2) Um país com cerca de 1% da população na cadeia, é um país de oportunidade e ascensão social. Tal e qual...

sábado, novembro 05, 2005

França: integração em cinzas

Passei quatro anos da minha vida em França, em Estrasburgo, no bairro de Cronenburg, o bairro que dá nome à famosa cerveja Kronenburg com "K". No bairro de Cronenburg havia uma zona relativamente calma, onde eu morava e onde "apenas" vi arder um carro durante esses quatro anos. Foi na minha rua, podia ser o meu carro, que comprei a custo com os tostões que poupei da minha bolsa. Depois Cronenburg tinha um sector mais pesado, o sector dos guetos de habitação social construídos nos anos 60 com a melhor das intenções, mas que só serviram para juntar pessoas com os mesmos problemas, tendo contribuído para amplificar aquilo que de pior existe na sociedade, e em particular entre os grupos imigrantes. Nesse sector chamado ironicamente de Cité Nucleaire, onde se situava o CNRS, o meu local de trabalho, havia diariamente ocorrências violentas, que poderiam ser muito violentas de quando em vez. Lembro-me de um velhinho barbaramente atropelado por um BMW descapotável conduzido por jovens violentos, lembro-me de um colega que foi espancado quase até à morte por ter saído do seu carro para afastar um caixote de lixo em chamas que lhe barrava a estrada e lembro-me do carro que foi lançado em chamas contra a loja de atendimento da assistência social. No Natal e na Passagem de Ano era certo que se queimavam por ali para cima de 20 carros de pessoas humildes que juntavam as suas economias de anos para comprar uma bagnole em segunda mão. Durante o resto do ano ardiam regularmente uns 5 a 10 carros por mês. Poderia encher o blogue até lá baixo, até ao último post, de historiazinhas de violência da cité e das minhas experiências pessoais de violência verbal e física em que me vi envolvido. No meu caso, os motivos dessas cenas de violência foram causas tão importantes como o comprimento dos meus cabelos, uma rapariga cuspida e agredida em plena Universidade e o meu casaco de Inverno. Neste último caso tive muita sorte, mais sorte que os que me tentaram agredir e muita sorte de não ir para o hospital espancado.

Estes são os motivos típicos da violência das cités em França, não é violência para sacar dinheiro para sobreviver ou para alimentar o vício, é uma busca de confronto bastante reaccionário e intolerante que não tem nada de revolucionário. Quem vê nisto algo de revolucionário aconselho a leitura do livro "La gauche contre le peuple" do jornalista de esquerda Hervé Algalarrondo. Na verdade, as cités são o espaço mais fascista, intolerante, machista e xenófobo que conheci, sendo governadas por pequenos tiranetes entre os 12 e os 17 anos.

Obviamente, não me espanta o que está a acontecer em França, tal como não me espantou o resultado de Le Pen nas últimas presidenciais francesas. Aliás este surto de violência não é novidade nenhuma, já aconteceu em 1992, pouco depois dos acontecimentos de Los Angeles. Os guetos de habitação social povoados de imigrantes continuam lá. As referências culturais de origem paterna continuam a ser fantasiadas pela nova geração da pior maneira e deturpada por algumas organizações religiosas fanáticas instaladas em França. A origem e a especificidade dos povos imigrantes continuam a não ser tomadas em conta na política de imigração. E sobretudo as acções políticas tanto da esquerda (mais social) e da direita (mais policial) são executadas com muita distância, são muito poucos os que se dão ao trabalho de ir às cités. E digo-o com conhecimento de causa. Fiz parte de uma coligação de esquerda para as municipais francesas com ecologistas e ATTAC e na hora de ir às cités para participar em conselhos de política de proximidade, não aparecia lá ninguém. Só os funcionários da câmara que eram obrigados a isso e os moradores que ainda não se tinham cansado do autismo. Por outro lado, quando a direita conquistou a câmara de Estrasburgo, aumentou o policiamento e em apenas 6 meses a violência aumentou mais de 200%...

A solução não é nada simples, mas para transformar os tiranetes em putos normais, com as pancadas e os delírios próprios da idade, se calhar a solução anda entre algo como: acabar com as cités e misturar as populações; envolver as populações nas decisões políticas e orçamentais dos bairros; apostar na polícia de proximidade para impedir a criação de zonas de democracia zero controladas por tiranetes de bairro.

O Blasfémias entre a ingenuidade e a xenofobia



O mapa representado nesta entrada infeliz do João Miranda circula em muitas sítios de extrema-direita da mais fanática. No entanto, aquele mapa não passa de uma pobre ficção, ao contrário do mapa colonial de 1914 que aqui represento. Em 1914, os Europeus estavam mesmo instalados em África e na Ásia com os seus representantes dos reinos e dos imperiozinhos. Em 2015 a Federação Albanesa nunca existirá na península itálica, nem a Nova Turquia, nem os Emiratos Ibéricos do mapa do João Miranda, mas em 1914 nós, os Portugueses, estávamos de facto em Angola e em Moçambique e fazíamos mais estragos e mais mortes que toda a violência urbana junta da população imigrante na Europa de hoje. Obviamente, que o João Miranda não considera os ex-Impérios uma ameaça. Agora os imigrantes, cuidado com eles, vão-nos invadir. Buh!

O suicídio demográfico que teme João Miranda não é novidade em Portugal. No início do sec. XVI também se temeu o "suicídio demográfico" causado pelos judeus. A solução da época foi expulsar, perseguir, converter à força e condenar à fogueira milhares de judeus que viviam no nosso país. Ganharam com isso Holandeses, Suíços, Franceses, etc.; ganharam artesãos, artistas e cientistas de qualidade.

O mapa de João Miranda é particularmente infeliz sabendo que Portugal tem cerca de 5 milhões de emigrantes. Como é que é? Em 2015 no Luxemburgo e no Liechtenstein, onde a população portuguesa ronda os 10%, vamos ter uma espécie de Principado Luso Católico-Apostólico-Romano?

Creio que este infeliz post do João Miranda seja fruto de alguma ingenuidade, não o tenho como xenófobo (escrevo-o sinceramente). Mas considero muito triste encontrar posts deste nível num blogue de referência português. Julgo que de certa forma funciona como um insulto aos 5 milhões de portugueses que estão espalhados pelo mundo, particularmente os nossos colegas bloguistas no estrangeiro que não lhe devem achar piada nenhuma.

O Abrupto...

Apesar das discordâncias políticas, gosto de ler o Abrupto. Mas é insuportável lê-lo quando há um acontecimento internacional importante. A culpa é sempre dos jornalistas... O trabalho dos jornalistas portugueses é diariamente o mesmo, muito americanizado, muitas vezes um copiar-colar dos noticiários de outras estações, principalmente da CNN, mas perante grandes acontecimentos o Abrupto vê sempre ali uma conspiração de esquerda ou anti-americana, o que é particularmente ridículo quando notícias da CNN são integralmente copiadas. É uma forma de pressão legítima, no entanto é facilmente desmontável.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Slovenské mamičky

Slovenské mamičky, pekných synov máte,
vychovali ste ich, na vojnu ich dáte, ich dáte.

Vychovali ste ich, ako to vtáčatko
za nimi zaplače, nejedno dievčatko.

Nejedno dievčatko rúčky zalamuje,
škoda ťa, preškoda, na tej krvi vojne bude.

škoda ťa, preškoda, na tej krvi červenej,
ktotá sa vyleje na lučke zelenej.

Na lučke zelenej v zelenom hájičku,
škoda ťa, preškoda, švárny šuhajičku.

terça-feira, novembro 01, 2005

Setembro de 2005, o mais quente de sempre

Desde que é medida a temperatura da superfície da Terra, o que acontece desde 1880, nunca houve um Setembro tão quente como o deste ano.
Aqui fica o aviso para um provável início de 2006 de seca e de falta de água, o terreno propício para os fogos. O melhor é ir prevenindo já.