domingo, novembro 27, 2005
10,4 % de baixa nas exportações têxteis
Assim que voltei de Bolonha comprei o Expresso e a sua tonelada de desperdício publicitário (que deveria ser proibido ou fortemente taxado) onde leio um artigo assinado por Margarida Cardoso sobre os efeitos da concorrência chinesa no sector têxtil nacional. Um gráfico mostra um decréscimo de exportações nacionais de 10,4% durante o primeiro semestre do ano. Em igual período as exportações italianas cresceram 6,2%. Voltado de fresco de Itália os números não me espantam absolutamente nada. Em Itália desde a produção até à apresentação do produto existe um nível de cuidado e de preocupação que nada tem a ver com o sector têxtil português. Em Portugal começa logo pela região de produção têxtil que é uma autêntica javardice. Conheço ali uma série de empresas de confecções entre a Maia e Vila do Conde que, exceptuando algumas boas surpresas, é o exemplo da ganância associada à ignorância e da ideologia do Estado Mínimo. Ali vale tudo. Pode-se poluir, construir onde haja um palmo de terreno e explorar tudo e todos. Onde se cria tanta riqueza há décadas vê-se uma pobreza chocante nas caóticas ruas de aldeolas de casas de alumínio e de muretes tortos de tijolo e de cimento feito à pressa. Trabalho qualificado ou salários dignos são coisa interdita em muitas daquelas empresas. Depois deste filme de terror, quando se aterra em Itália tudo parece bonito. As regiões industriais são bonitas e visitáveis. Qualquer empresa que se preze dá uma grande importância à qualificação da sua mão-de-obra, seja a técnica, sejam os designers. Depois o resultado vê-se nas lojas, nas vendas e nas exportações. Apesar da ofensiva chinesa o mercado têxtil italiano resiste aos preços baixos, através da qualidade, da variedade e da originalidade. O excelente catálogo à italiana da Intimissimi que aqui vos deixo é apenas um exemplo de tudo isto que aqui referi. Para além destas grandes cadeias de franchising, o têxtil italiano de qualidade vende-se igualmente nas pequenas lojas locais de comércio tradicional, trazendo para a vida urbana o prazer de fazer compras que se perde nas grandes superfícies, o doce passeio pelas ruas da cidade, a montra que se vê depois de um café numa esplanada, enfim uma outra filosofia que em grande medida nos é alheia.
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