Antevendo a morte do Papa, Miguel Portas ensaia uma síntese do seu pontificado que é um exemplo pela sua raridade no equilíbrio da análise. Num tempo em que os comentadores políticos se batem num frenesim classificativo dos homens que forjaram os séculos entre o epíteto de terrorista e o de herói, o Miguel dá o exemplo de como se pode respeitar, criticar e elogiar, com a devida ponderação, figuras longe do seu campo político na delicada hora da sua morte. É raro nos dias que correm. A recente morte de Arafat mostrou essa mórbida competição do comentário político entre o herói e o terrorista. Vivemos em tempos em que alguém que tenha morto mais do que uma pessoa é facilmente catalogada como terrorista (claro, se os mortos forem ocidentais branquinhos, as mortes na América latina ou em África pouco contam). De Arafat a Massoud muito terrorista apareceu por aí nas bocas dos comentadores. Até Massoud vejam só...aquele que andava a lutar sozinho contra o regime talibã, na altura em que empresários e políticos receberam no Texas uma delegação de talibãs para tratar de negócios.
O mais fácil era um esquerdista alinhar pela mesma bitola de algum comentário de direita, ensaiar uma contabilidade baseada numa estimativa de mortes por SIDA registada nas regiões onde existem missões católicas em África onde se rejeita distribuir o preservativo e daí extrapolar um adjectivo: terrorista (por comparação com o número de mortes de Arafat, por exemplo). Ou então, ao bom estilo de José Manuel Fernandes, seria fácil a um esquerdista invocar o passado da igreja, comparar com o número de mortes provocadas por Hitler e Estaline.
A boa diferença do comentário de Miguel Portas é que podemos ler um texto crítico de quem está distante da igreja, do "homem que vive como se Deus não existisse", sem levar em cima com todo o lixo do frenesim do comentário político de diabolização do personagem.
Coisas que não se podem esquecer sobre Karol Wojtyla
Sobre a orientação do pontificado de Karol Wojtyla, Miguel Portas chama a atenção para algo muito importante que será talvez esquecido intencionalmente por muitos comentadores políticos nos próximos dias: "um programa evangélico e político. O fio invisível que liga o seu anticomunismo dos primórdios à actual recusa da guerra preventiva"
(texto também disponível na página pessoal do Miguel Portas)
Começou o maior espectáculo do mundo
Nas televisões portuguesas:
É p'ró menino e p´rá menina! Aprocheguem-se caros amigos! A TVI dá mais sangue! A SIC mostra o Papamóvel a sacar piões! Na RTP sãoooo láááágrimaaaaas!!! É pegar ou largar! À dúzia é mais barato! E as entrevistas de rua, meu Deus, as entrevistas de rua, ao pai, à tia, ao primo, à freira, à vizinha, ao canário, ao cão...
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