Eu não fui. Mas a verdade é que todos nós andamos a ser objecto de escutas por parte de programas americanos de intercepção de comunicações como o ECHELON ou o NIMD (Novel Intelligence from Massive Data). Grosso modo a coisa funciona à base da busca de palavras-chave utilizadas durante chamadas telefónicas, em trocas de correio electrónico, em páginas internet, etc. Como se deve imaginar a quantidade de dados a investigar resultantes de intercepções de comunicações onde existem palavras chave é colossal. Esse é o ponto fraco deste tipo de programas, a quantidade de informação a processar é tão grande que apenas uma pequena fracção acaba por ser efectivamente analisada.
O amigo (da onça) americano
O que é grave neste tipo de programas é que já foram utilizados mais do que uma vez fora do espírito para o qual tinham sido concebidos, pois tinham como alvo a intercepção de comunicações de países e organizações que ameaçassem a segurança dos EUA. Durante a Guerra Fria era essencialmente o espaço da URSS e restantes países comunistas. Desde o fim da Guerra Fria seriam essencialmente organizações terroristas. Seriam, mas não foram!
Os EUA passaram a utilizar o programa ECHELON para fazer espionagem industrial a algumas das maiores empresas Europeias. Nomeadamente a Airbus perdeu um contracto milionário para a Boieng à custa de informações confidenciais captadas pelo ECHELON. Mas os abusos não se ficaram por aqui. Em Inglaterra, a Princesa Diana (aquando da sua campanha contra as minas pessoais em Angola) e alguns ministros foram objecto de escuta, tendo levado mesmo à demissão de um desses ministros.
Os abusos tomaram uma proporção tal que a União Europeia acabou por lançar uma comissão de inquérito para investigar o programa ECHELON. O relatório é imenso, revelador e revoltante! O relatório pode ser descarregado nesta página da União Europeia (seleccionar pt, para versão portuguesa).
Por exemplo, o relatório enuncia todos os casos de espionagem industrial ilegal e dá instruções sobre o tipo de antenas de espionagem que os EUA espalharam por todo mundo, muitas vezes sem o conhecimento dos governos dos países onde elas foram implantadas.
Depois destas tristes histórias percebemos perfeitamente como é que os EUA encaram a sua relação com a Europa. É por estas e por outras que o editorial de José Manuel Fernandes (entre outros) no Público de domingo, só pode ser visto ou como um penoso exercício de ingenuidade intelectual ou como uma opinião política de um cinismo muito pouco elegante.
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