O actor Arnold Schwarzenegger apresentou-se como candidato a governador do estado da Califórnia. Esta notícia tem simultaneamente algo de interessante e de preocupante.
O interessante é que Schwarzenegger é um Austríaco que encontrou o seu lugar nos EUA, país que o acolheu e que agora lhe oferece a oportunidade de poder ser candidato a governador de um dos seus estados. Isto é bonito e faz parte daquele rol de coisas interessantes que os EUA têm para oferecer ao mundo. Outra coisa que adoro é que Schwarzenegger não domina completamente a língua inglesa e nota-se o seu forte sotaque germânico. Representa assim uma grande parte do eleitorado que possui o mesmo problema. Relembro que a Califórnia é um estado onde a língua Castelhana é quase maioritária e onde existe uma forte presença de asiáticos com problemas linguísticos.
Se acontecesse uma destas em Portugal o nosso sector liberal-conservador ficava à beira de um ataque de nervos!
O aspecto mais preocupante prende-se com aquilo que Schwarzenegger representa.
Num estado onde a indústria cinematográfica tem um papel dominante parece-me natural que um candidato a governador possa vir desse sector. Até aqui tudo bem. Seria por isso normal existirem candidatos ligados a funções directivas (como produtores ou realizadores) na indústria cinematográfica. Mas porque não um actor? Apesar de não ser um fã da maior parte dos productos de Hollywood reconheço que existem muitos actores que poderiam dar candidatos capazes de trazer assuntos interessantes à política do estado da Califórnia (como o Sean Penn, o Robin Williams, o William Hurt, o Dustin Hoffman, etc). Mas não, saíu na “rifa” um actor que representa o que há de mais primário dentro da grande produção Hollywoodesca. Era difícil arranjar pior. O que é que pode oferecer um candidato que fez filmes obscenos como o “Comando” ou cuja imagem no cinema apareceu constantemente associada a armas de grande calibre e a cenas de grande violência física?
Parte da resposta já foi dada: apesar de Schwarzenergger aparecer como “polícia”, ironicamente, foram sobretudo as máfias e os gangs que absorveram os métodos que representou no cinema (algumas máfias possuem refúgios forradas de posters de Schwarzenegger).
A outra parte da resposta deu-a Schwarzenegger: combater o crime (pois claro!) para que as empresas deixem de fugir da Califórnia e este estado volte a ser atractivo para a captação de novas empresas que por sua vez criarão emprego e mais emprego poderá diminuir a criminalidade (tem lógica!).
O problema é que o estado da Califórnia não tem feito outra coisa na última década. A Califórnia tem uma altíssima taxa de criminalidade apesar de ter leis duríssimas. Por exemplo se alguém for condenado três vezes por delito comum, por menores que sejam os crimes, é condenado a prisão perpétua. A consequência é que a Califórnia gasta mais dinheiro do seu orçamento no sistema prisional do que na educação. Se calhar era melhor que fosse ao contrário…
Schwarzenegger é mais do mesmo, mas talvez a diferença resida apenas no calibre das armas e na massa muscular dos futuros polícias californianos. É pena, porque os EUA ainda hoje andam a pagar muito caro a excessiva dependência da sua economia dos combustíveis fósseis e da indústria de armamento resultante da administração de outro actor da “fina flôr” Hollywoodesca: Ronald Reagan.
A seu tempo escreverei aqui um pouco mais sobre o estado da Califórnia, que é lindíssimo, mas que infelizmente é vítima de problemas terríveis como o atentado ecológico de Palm Springs ou a muralha da vergonha construída entre os EUA e México. Não penso que estes problemas preocupem Schwarzenegger ou Larry Flynt que é o possível candidato dos democratas (sempre tem mais nível que o Arnaldo!).
Samsa não me batas! ;>
Sem comentários:
Enviar um comentário