A cidade dourada é Salamanca. Cristovão de Moura é o blogue de Paulo Varela Gomes.
Há algumas semanas durante um debate organizado em Coimbra sobre a Capital Nacional da Cultura ouvi Paulo Varela Gomes proferir aproximadamente as seguintes palavras sobre a cultura e o urbanismo: « …Porto, Lisboa e Coimbra não chegam aos calcanhares de Salamanca ». Na altura achei estas palavras algo exageradas, apesar de achar que Lisboa é de facto uma cidade caótica, o Porto menos e Coimbra caótica mas mesmo assim onde é possível ter alguma qualidade de vida. Por outro lado, Salamanca é uma daquelas cidades que me cativam e sempre que posso arranjo uma desculpa para passar por lá ou permanecer uns dias. Mas desde 98, só tinha passado por lá de « raspão » durante a minha viagem de retorno definitivo de Estrasburgo em Novembro passado. Vi que a cidade estava muito melhor do que em 98 mas não tive tempo para compreender o alcance dessas melhorias. Por isso achei que Varela Gomes tinha exagerado.
Sucede que recentemente organizei uma nova romaria até à Ciudad Dorada e desta vez com tempo para ver Salamanca como já não a via há muito. Agora, o mínimo que posso dizer é que Paulo Varela Gomes tinha razão. A cidade agora abraça calorosamente os visitantes através das suas ruas tentaculares sem deixar os carros entrar, a cidade relaciona-se harmoniosamente com o rio Tormes e toda a envolvente ambiental, o centro histórico encaixa na perfeição nos edifícios novos que foram recobertos com uma pedra idêntica (de côr dourada ao pôr do Sol) à dos edifícios antigos e para além de tudo isto é uma cidade universitária que vive fora do período lectivo: oito mil alunos frequentam cursos de Verão de castelhano e diversos cursos de vocação internacional. Onde é que nós encontramos isto em Portugal ? O pior é que isto não fica por aqui. Castilla y Léon é uma região que deu o « salto ». Se visitarmos Zamora, Toro, Tordesillas, Avila, Segovia, Ciudad Rodrigo ou as aldeias da Peña de Francia observamos a mesma tendência de Salamanca.
Infelizmente Paulo Varela Gomes tinha razão.
Comparando com o resto da Europa, a organização territorial de Portugal dá-me vómitos. Esta região das Beiras onde vivo, exceptuando alguns lugares como a Praia da Tocha ou a Floresta do Buçaco, é uma região feia, porca e manhosa. Aliás como quase todas as outras regiões portuguesas. Felizmente visitei Évora e Beja recentemente, o que me fez pensar que afinal há uma esperança para quem tem um gozo bestial de pertencer ao povo que deu a primeira volta ao mundo e inventou o Nónio e a Passarola.
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