quinta-feira, setembro 29, 2011

Mais populismo rasca de Medina Carreira a nu

"um dos [problemas] que condiciona a implementação de mudanças é o peso do Estado na vida do país. (...) hoje, entre funcionários e pensionistas, “há 5 a 6 milhões de portugueses que recebem do Estado e que não estão nada preocupados... porque acham que o Estado paga sempre.”.
Medina Carreira, Casino da Figueira da Foz, 20/09/2011

A este exercício de ilusionismo populista responde muito bem o meu conterrâneo Alexandre Campos no blogue Aldeia Olímpica:
"Sempre pensei que os funcionários públicos ganham o seu ordenado à custa do seu trabalho; que os reformados, sejam públicos ou privados, têm direito à sua reforma porque a ganharam e descontaram para tal; que os desempregados têm direito ao subsídio a partir do momento que não lhes garantem trabalho, e porque, é muito importante compreender isto, enquanto trabalhadores fizeram os seus descontos, pagaram os seus impostos."

Caro Alexandre, é que esse "xico-esperto e lambe-botas do poder económico actual", como bem classificas acha que os reformados e os funcionários públicos são todos uns "vadios" e uns "pelintras" que estão é a roubar o estado, se fizeram descontos ou se são profissionais no seu trabalho, isso pouco interessa. O que é interessa é que ele não abdica da sua reformazita choruda do estado por dois miseráveis anos em que foi ministro das finanças durante os quais o FMI teve que intervir e a economia ficou em pantanas. Reforma esta que certamente acumula com outras reformas dos tachos dos grupos económicos por onde passou depois de ser ministro.

A não perder também este delicioso texto do Fernando Campos, destaco:
"A sua boca é uma torneira a deitar enormidades; que não caem em saco roto: a sua audiência é um imenso balde sem fundo e de boca aberta."

quarta-feira, setembro 28, 2011

Relatório Marisa Matias sobre investigação aprovado no PE



Um excelente trabalho da Marisa que culminou na aprovação do relatório sobre o financiamento da investigação e inovação na União Europeia para 2014-2020. Foram meses de negociações e de debates onde participaram investigadores portugueses e de toda Europa, inclusivamente prémios Nobel.

Agora um conselho de amigo, Marisa: vai dormir. Desconfio que não deves ter tido uma noite de 8 horas de sono nos últimos meses.

terça-feira, setembro 27, 2011

The Third Industrial Revolution de Jeremy Rifkin

Jeremy Rifkin é um dos meus pensadores de eleição. Dirige a Foundation on Economic Trends, foi conselheiro de Prodi na Comissão Europeia e escreveu obras muito interessantes como "O Sonho Europeu" e "A Economia do Hidrogénio" que aqui serviram para variados textos.
Hoje Rifkin lançou um novo livro "The Third Industrial Revolution - How Lateral Power Is Transforming Energy, the Economy, and the World". A minha biblioteca já me dirigiu um ultimato para adquirir a nova obra do senhor Jeremy.

O populismo rasca de Medina Carreira a nu

Resolveu-se nos últimos anos endeusar as universidades. Mas então por que é que estamos tão mal? Porque não precisamos de tantos doutores, precisamos é de gente média que saiba fazer. As universidades aturam uma data de vadios e preparam a meia dúzia de gente que sempre foi boa
Medina Carreira, Casino da Figueira da Foz, 20/09/2011.

Esta trapalhada rasca e mal educada num país saudável nem teria resposta. Mas dada a tribuna mediática - sempre sem contraditório - que é atribuída a este indivíduo, se não se responder, estas asneiras tantas vezes proferidas passam a ser verdade.

A primeira frase revela apenas que os progressos significativos registados nas universidades públicas e na ciência incomodam Medina Carreira. Porquê? Atrapalha a sua intervenção política em prol das ideologias do estado mínimo. O falhanço estrondoso de uma sociedade fortemente dependente dos mercados responde à segunda frase, que no nosso caso se traduz numa dívida privada de 220% do PIB (sobretudo externa), dívida que Medina Carreira evita evocar. A terceira frase revela um misto de ignorância e rasteireza. Portugal não tem licenciados (doutores em medina-carreirês) a mais, tem licenciados a menos. Todos os países com melhor nível de vida que nosso têm uma maior percentagem de pessoas formadas no ensino superior do que nós temos. Nesses países os quadros médios (gente média em medina-carreirês) passaram quase todos pelo ensino superior (escolas técnicas, bacharéis ou licenciaturas). Essa ideia é reforçada pelo relatório que estabelece os objectivos científicos da União Europeia, "Towards 3%: attainment of the Barcelona target", que descreve o sucesso da aposta da Finlândia na ciência e nas universidades nos anos 90 para responder à maior recessão registada num país da Europa ocidental desde a II Guerra Mundial, a uma taxa de desemprego de 20% e a uma dívida externa incomportável.

Número de publicações científicas por ano de autoria ou co-autoria de investigadores portugueses incluídas no Science Citation Index Expanded (Thomson Reuters/ISI).

No tempo de Medina Carreira não eram os melhores alunos que entravam nas universidades, eram os filhos dos ricos. O próprio Medina frequentou a universidade graças ao nível de vida do seu pai, o historiador António Barbosa Carreira. Nesse tempo, tirando algumas honrosas excepções Portugal era praticamente um zero em ciência. Havia departamentos inteiros nas universidades que não tinham qualquer actividade científica. A maioria dos alunos andava a passear os livros, não acabava o curso, mas isso não os impedia de ostentar o título de doutor no quotidiano (começamos a perceber a origem do medina-carreirês). No entanto a aposta que foi feita nos últimos 20 anos nas universidades e na ciência teve um retorno científico exponencial (ver gráfico). O número de patentes e de empresas científicas e tecnológicas disparou. Quer instituições quer empresas de investigação participam hoje em redes científicas internacionais juntamente com a ESA, o CERN e outras instituições muito prestigiadas. Apesar de tudo ainda há um caminho longo a percorrer, mas prefiro de longe esta universidade de "vadios" do que a velha universidade de filhinhos do papá.

domingo, setembro 25, 2011

Medina Carreira em registo tasca vínica

A palete de odores oscila entre o vinagre e o carrascão, num canto um velhinho mutilado trauteia uma moda num acordeão, sobre um banco corrido duas meretrizes asseguram a um cavalheiro que também são virgens, por baixo de uma das mesas um cão com duas feridas no dorso suspira. O cavalheiro de olhar esguio, levanta-se desconcertadamente tornando visíveis várias manchas tintas imprimidas na camisa e duas gotas grossas que lhe escorrem entre a cara e o pescoço, soltando em seguida esta frase em alta voz:

As universidades aturam uma data de vadios e preparam a meia dúzia de gente que sempre foi boa”.


Nah, estou a reinar. Isto foi proferido por Medina Carreira, ao que parece em estado sóbrio, em ambiente muito respeitável do Casino da Figueira na passada terça-feira.

sexta-feira, setembro 23, 2011

Cuidado com a cabeça


É para esta tarde que está prevista a entrada na atmosfera dos destroços do satélite UARS, um satélite meteorológico lançado em 1991. A probabilidade que nos caia na cabeça é pequena, mas é bem mais provável assistir a um espectáculo de estrelas cadentes de origem humana. Para quem quer acompanhara a par e passo a queda do satélite seguir para esta página da NASA.

quinta-feira, setembro 22, 2011

A Figueira no Mapa



Na capa deste magnífico deste Atlas Maior de Joan Blaeu de 1665, reeditado pela Taschen, identificamos uma secção da nossa costa. Em destaque o Cabo Mondego. Ao lado desfilam localidades com nomes familiares: Buarcos, Santa Catarina, Figueira, Tavarede, Lavos, etc.

Publicações figueirenses



Os dois livros que sugiro na minha crónica "Pontos de Vista desta semana.
É com especial prazer que divulgo o trabalho do Nuno Camarneiro, um ex-autor aqui da casa.

segunda-feira, setembro 19, 2011

O capitalismo falhou II

Neste diagrama interactivo que mostra a distribuição de riqueza entre os 10% mais ricos e os restantes 90% da população americana mostra-se que os anos Reagan foram fatais para as classes média e baixa, enquanto os ricos ficavam cada vez mais ricos.

Manifesto Ciência lança propostas em Livro Branco

(publicado no portal Esquerda.net)

Tal como se temia, as medidas de austeridade alastraram à ciência, tendo-se traduzido muito recentemente na diminuição considerável do número de projectos financiados no concurso de 2011 pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. O caso de sucesso da Finlândia, que reforçou a aposta na ciência aquando da profunda recessão em que o país mergulhou no início dos anos 90 (consultar relatório da União Europeia, "Towards 3%: attainment of the Barcelona target"), não serviu de exemplo para o novo governo. Sem uma estratégia, nem a curto, nem a longo prazo, sem ministério, a ciência portuguesa está neste momento à deriva. Ninguém sabe, ninguém faz a menor ideia do que serão os próximos anos.

Perante este cenário, o movimento Manifesto Ciência lançou na forma de Livro Branco um conjunto de propostas que realçam o impacto da ciência no desenvolvimento económico das sociedades e o seu potencial para combater o desemprego e para ultrapassar períodos de crise. Neste particular são apresentadas propostas “que promovam a transferência de tecnologia e o empreendedorismo alicerçados na ciência portuguesa”. Mas também são apresentadas propostas muito relevantes para evitar um estado de deriva nos laboratórios e nos centros de investigação nacionais e para assegurar a sua sustentabilidade económica sem prejuízo da qualidade da investigação aí realizada. Uma das propostas apela para a abertura de concursos de projectos e de bolsas todos os anos, sempre na mesma data, com um período de avaliação e comunicação de resultados que não deverá exceder os 6 meses. À semelhança do que acontece no Reino Unido, apela-se à suspensão ou redução substancial do IVA (23%) no âmbito de despesas com os projectos de investigação. O IVA é neste momento um real problema no encorajamento à competição a financiamentos europeus e internacionais, dado que neste tipo de financiamentos as despesas de IVA não são aceites como despesas elegíveis. É proposto também um sistema misto para os recursos humanos: bolsas e contratos – actualmente não é garantido que o sistema de contratos se mantenha. Finalmente, de forma a garantir o desenvolvimento da cultura científica, a Manifesto Ciência propõe o incremento do número de revistas científicas subscritas pelos centros de investigação e universidades, “alargando a sua disponibilidade e reduzindo os custos de subscrição”.

sexta-feira, setembro 16, 2011

O foguetão da NASA que substitui o vaivém



A NASA já anunciou o sucessor do vaivém. Optou-se por uma opção clássica, um foguetão mais potente que todos os outros da agência, designado por SLS (Space Launch System). Ver mais aqui.

quinta-feira, setembro 15, 2011

Menos figueirenses, mais betão

Já há resultados preliminares dos censos de 2011. O concelho da Figueira perdeu quase 500 habitantes relativamente a 2001, nada de dramático em 10 anos, menos de 1%. O que cresceu significativamente em 10 anos foi o número de alojamentos, quase 15%. Era também disto que se falava quando se falava da betonização da Figueira da Foz.
















quarta-feira, setembro 14, 2011

O capitalismo falhou

É preciso repeti-lo. O capitalismo falhou.
A emissão de dívida europeia proposta por Krugmann vem com mais de um ano de atraso. Entretanto as políticas de austeridade pagam-se com muito desemprego e degradação dos serviços públicos.

segunda-feira, setembro 12, 2011

Pontos de Vista

Esta semana comecei a colaborar no programa Pontos de Vista da Rádio Clube Foz do Mondego. Eis o alinhamento das crónicas:


2ª-feira: Rui Curado Silva
3ª-feira: João Portugal
4ª-feira: Nélson Fernandes
5ª-feira: Miguel Almeida
6ª-feira: Pedro Daniel Santos.

Horário: 10h45 com repetição às 18h40.

terça-feira, setembro 06, 2011

DSK não interessa à esquerda


(via cartoons)

Deixando de lado as questões judiciais (teoria da conspiração ou violação), o comportamento de DSK (Dominique Strauss-Kahn) é inaceitável para um distinto representante da esquerda. DSK não teve qualquer pudor em despejar em cima do sistema judicial americano toda a sua fortuna familiar, revelando um completo desprezo pela desigualdade colossal entre a sua condição socioeconómica e a da queixosa. Percebe-se que não acredita num sistema judicial igualitário, onde ricos e pobres possam ter os mesmos instrumentos de defesa, nem tem interesse que assim seja. Ficámos a conhecer melhor um homem cujas opções de vida pessoal e familiar demonstram que não acredita no ensino público, nos transportes públicos, revelaram um indivíduo marialvista e que não hesita em fazer uso do seu poder em instituições públicas para resolver situações pessoais (ler carta da funcionária húngara que saiu do FMI depois do caso com DSK). As suas opções políticas à frente do FMI falam por si.

O que mais me perturba é energia que se gasta à esquerda para tentar desculpar o indesculpável relativo a DSK. Há bem melhores candidatos em França para bater Sarkozy.

segunda-feira, setembro 05, 2011

Lançada maior turbina para energia de correntes marítimas

(publicado no portal Esquerda.net)

Esta semana foi lançada ao largo da Bretanha a maior turbina do mundo (16 metros de diâmetro e 1000 toneladas de peso) destinada à produção de energia a partir de correntes submarinas.Instalada a 35 metros de profundidade, ao largo da costa de Paimpol e da ilha de Bréhat, a referida turbina deverá passar uma série de testes em condições reais, em particular a sua resposta às correntes e ao meio natural. Depois desta fase de testes a EDF (Electricité De France) instalará outras três turbinas na mesma zona ao curso de 2012. O parque de 4 turbinas produzirá um total de 2 MW/h, capazes de alimentar cerca de 2000 a 3000 lares. As turbinas estarão ligadas a um cabo submarino de 15 km que as ligará à rede eléctrica continental.

As turbinas do parque Paimpol-Bréhat foram construídas pela empresa irlandesa Openhydro nos estaleiros militares navais de Brest, tendo sido financiadas em parceria entre a EDF e as autoridades regionais. A região da Bretanha entrou com cerca de 25% dos custos. O projecto tem sido acompanhado pelas associações de recreio, ambientais e pescadores locais tendo sido avaliados os diferentes impactos na região. Neste sentido, a EDF chegou a um acordo com os pescadores locais para financiar em cerca de um milhão de euros um estudo sobre o impacto do parque na migração das lagostas, cuja pesca é importantíssima para a economia local.

Estima-se que o potencial de produção de energia a partir de correntes submarinas é de 2,5 a 3,5 GW em França, o que corresponde a 3 ou 4 % da produção actual de energia do país, ou seja poderá abranger alguns milhões de franceses. No entanto, um dos problemas desta forma de produção de energia é que a sua eficiência depende em grande medida da localização geográfica. O potencial da costa francesa para produzir energia a partir das correntes marítimas estima-se em cerca de 20 a 25% do potencial de toda a Europa. Melhores condições apenas se encontram nas ilhas britânicas. Na Escócia, a empresa ScotishPower Renewables está a implementar desde Fevereiro o maior parque de produção de energia de correntes marítimas, com o objectivo de produzir cerca de 10 MW a distribuir por cerca de 5 mil habitações. As maiores vantagens desta forma de produção de energia são o seu ligeiro impacto ambiental, comparada com outras renováveis, e a grande previsibilidade das correntes marítimas em contraste com a considerável aleatoriedade dos ventos, no caso da energia eólica.

Apesar de a EDF estimar o preço dos primeiros MW produzidos pelas turbinas de Paimpol cerca de 8 vezes mais elevado do que o actual preço de mercado, espera-se que nos próximos anos se consiga reduzir esses custos para um terço. A França tem como objectivo produzir até 2020 cerca de 23% de energia a partir das renováveis. A Escócia estabeleceu uma meta de 80% para a mesma data. Ambas as metas resultarão numa considerável redução de consumo e de importação de petróleo e de gás natural, o que a longo prazo constituirá uma escolha mais económica, visto que o preço destes combustíveis fósseis continuará ao aumentar ao longo das próximas décadas.

sexta-feira, setembro 02, 2011

O mercado tem sempre razão

O título desta notícia do DN diz tudo: "Gestores não executivos recebem 7400 euros por reunião". No texto lê-se "Daniel Proença de Carvalho, António Nogueira Leite, José Pedro Aguiar-Branco, António Lobo Xavier e João Vieira Castro são os "campeões" deste tipo de funções". Em particular sobre o ministro da defesa lê-se "por duas assembleias gerais em 2009, Aguiar-Branco recebeu 8080 euros, ou seja, 4040 por reunião". São as leis do mercado - dirão uns - mas a verdade é que isto são práticas semelhantes às práticas da ENRON.

Lê-se ainda que a Semapa "não divulga o salário do advogado [Aguiar-Branco]". Num país com uma das maiores dívidas privadas da Europa (~240% do PIB, cerca de duas vezes e meia a dívida pública), o mínimo que se exige a um ministro que vem do sector privado é que seja absolutamente transparente sobre os seus rendimentos anteriores. Aqui, desafiamos Aguiar-Branco a divulgar o salário da Semapa, para perceber se o moralismo do governo não passa de retórica.


Energia das correntes

Depois de algum tempo de pousio, os fluidos desta Klepsýdra voltam a circular. Nada melhor para assinalar este facto que a maior turbina do mundo destinada à produção de energia a partir das correntes marítimas, em operação desde ontem ao largo da Bretanha. Aqui fica o filme e a ligação: