Publicado no portal Esquerda.net:
As regiões polares do nosso planeta reagem de forma diversa às alterações do clima provocadas pelo aquecimento global. A calote polar do Árctico é consideravelmente mais sensível à variação da temperatura média da Terra, enquanto o Antárctico responde de uma forma muito mais lenta às mesmas variações de temperatura. Um artigo de Spencer Weart, especialista em história da ciência, publicado no sítio RealClimate descreve com rigor as diferenças entre as duas regiões polares.
Desde há cerca de 25 anos que os modelos que descrevem a evolução do Antárctico em função do aquecimento global, prevêem correctamente que a região do Pólo Sul se mantenha fria. Fundamentalmente, esta conclusão decorre da capacidade calorífica da imensa calote polar e da gigantesca massa oceânica que envolve a Antárctida. O aumento da temperatura originado na atmosfera pelos gases de efeito de estufa tem, numa primeira fase, impacto directo apenas sobre as camadas oceânicas mais externas, dado que são estas as primeiras a absorver o excesso de energia capturada pelo planeta. À medida que a concentração dos gases de efeito de estufa aumenta, a dispersão do calor nos oceanos vai progredindo até profundidades sucessivamente superiores, mascarando temporariamente a percepção do aquecimento global. O modelo de Schneider e Thompson1 mostra que o superior volume oceânico do Hemisfério Sul se traduz numa resposta ao aquecimento global desfasada de alguns decénios à posteriori em relação à resposta das massas oceânicas do hemisfério norte, bem menos abundantes. Adicionalmente, a mistura de águas quentes e frias que ocorre a profundidades consideravelmente superiores no Hemisfério Sul em comparação com o Hemisfério Norte, explica também que os mais recentes modelos do clima da Antárctida indiquem que este continente não aqueça perceptivelmente antes de o clima no resto do planeta ter sido alterado radicalmente. Se pelo contrário se verificasse um aquecimento regular e generalizado da Antárctida num curto período de tempo isso significaria que o clima nas restantes regiões da Terra teria entrado numa fase de alterações radicais e consideravelmente perigosas para a humanidade.
Recentemente, o estudo das massas polares tem progredido bastante graças à observação por satélite. O ENVISAT é actualmente o satélite meteorológico da ESA que mais tem contribuído para o conhecimento das alterações climática nos pólos do nosso planeta. Esta animação da NASA composta por imagens de satélite mostra o rápido degelo a que tem estado sujeito o Árctico entre 1979 e 2006, tendo o ENVISAT registando no passado Setembro de 2007 a menor cobertura de gelo do Árctico registada até hoje2 (imagem ESA) em trabalho publicado recentemente da autoria de Comiso e Parkinson.
1- Stephen H. Schneider and S.L. Thompson, J. Geophysical Research 86: 3135-3147 (1981).
2- Josefino Comiso and Claire Parkinson, Geophys. Res. Lett. 35, L01703 (2008)
As regiões polares do nosso planeta reagem de forma diversa às alterações do clima provocadas pelo aquecimento global. A calote polar do Árctico é consideravelmente mais sensível à variação da temperatura média da Terra, enquanto o Antárctico responde de uma forma muito mais lenta às mesmas variações de temperatura. Um artigo de Spencer Weart, especialista em história da ciência, publicado no sítio RealClimate descreve com rigor as diferenças entre as duas regiões polares.
Desde há cerca de 25 anos que os modelos que descrevem a evolução do Antárctico em função do aquecimento global, prevêem correctamente que a região do Pólo Sul se mantenha fria. Fundamentalmente, esta conclusão decorre da capacidade calorífica da imensa calote polar e da gigantesca massa oceânica que envolve a Antárctida. O aumento da temperatura originado na atmosfera pelos gases de efeito de estufa tem, numa primeira fase, impacto directo apenas sobre as camadas oceânicas mais externas, dado que são estas as primeiras a absorver o excesso de energia capturada pelo planeta. À medida que a concentração dos gases de efeito de estufa aumenta, a dispersão do calor nos oceanos vai progredindo até profundidades sucessivamente superiores, mascarando temporariamente a percepção do aquecimento global. O modelo de Schneider e Thompson1 mostra que o superior volume oceânico do Hemisfério Sul se traduz numa resposta ao aquecimento global desfasada de alguns decénios à posteriori em relação à resposta das massas oceânicas do hemisfério norte, bem menos abundantes. Adicionalmente, a mistura de águas quentes e frias que ocorre a profundidades consideravelmente superiores no Hemisfério Sul em comparação com o Hemisfério Norte, explica também que os mais recentes modelos do clima da Antárctida indiquem que este continente não aqueça perceptivelmente antes de o clima no resto do planeta ter sido alterado radicalmente. Se pelo contrário se verificasse um aquecimento regular e generalizado da Antárctida num curto período de tempo isso significaria que o clima nas restantes regiões da Terra teria entrado numa fase de alterações radicais e consideravelmente perigosas para a humanidade.
Recentemente, o estudo das massas polares tem progredido bastante graças à observação por satélite. O ENVISAT é actualmente o satélite meteorológico da ESA que mais tem contribuído para o conhecimento das alterações climática nos pólos do nosso planeta. Esta animação da NASA composta por imagens de satélite mostra o rápido degelo a que tem estado sujeito o Árctico entre 1979 e 2006, tendo o ENVISAT registando no passado Setembro de 2007 a menor cobertura de gelo do Árctico registada até hoje2 (imagem ESA) em trabalho publicado recentemente da autoria de Comiso e Parkinson.
1- Stephen H. Schneider and S.L. Thompson, J. Geophysical Research 86: 3135-3147 (1981).
2- Josefino Comiso and Claire Parkinson, Geophys. Res. Lett. 35, L01703 (2008)
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