Assim que ouvi a notícia do pedido de perdão do governo australiano aos arborígenes, esperava a indignação de Pacheco Pereira, esperava um daqueles artigos amargos e esperava, obviamente, um texto cheio de referências obsessivas ao "politicamente correcto". O texto surgiu, não me enganei. Qualitativamente resume-se em três pontos:
1) Muito bem documentado sobre a história recente da Austrália;
2) Fraco e diria até escorregadio na sua conclusão política, na teoria do boomerang;
3) Radical na sua linha política.
Sobre o ponto 2), na conclusão do texto podemos ler:
"Há certas ideias que funcionam como o boomerang, a gente atira-as convencidos das nossas melhores intenções e elas voltam para nos bater na cabeça."
Sobre este caso não há um único indício no texto que fundamente que esteja eminente qualquer efeito boomerang na Austrália. Pior ainda, alguns de nós ainda se recordam certamente dos distúrbios racistas ocorridos em Cronulla em 2005. É certo que não ocorreram contra australianos arborígenes, mas ocorreram contra outros australianos, australianos "estrangeiros", quase arborígenes, quiçá entre eles alguns luso-descendentes. No entanto, em Cronulla o boomerang bateu mesmo. E em que cabeça bateu? Será que bateu ou não em todas as cabeças que defendem os pilares fundamentais da democracia?
Sobre o ponto 3) esta passagem do texto é bem ilustrativa:
"se tomarmos à letra o significado profundo destes pedidos de perdão pela História, ainda acabamos por dar razão à Al-Qaeda, que nos considera como "cruzados", logo um alvo a abater pelo novo Saladino"
Estamos no mesmo registo do "não há Islão moderado", bem denunciado pelo FNV do Mar Salgado. Estamos no registo de um mundo muito simples, de um mundo onde os maus e os bons são marcados a tinta fluorescente de cor diferente, onde não há Islão moderado, que no fundo é o mesmo tipo de mundo dos que consideram que todos os Israelitas são ortodoxos e gananciosos, todos os Mexicanos são malandros e que todos os negros são pouco inteligentes. É um mundo sem gente moderada, ou são bons ou são maus. E se por acaso alguns de nós, dos bons, brancos, católicos, ocidentais, tal como o Primeiro-Ministro australiano, adoptarmos um gesto de respeito (aqui trata-se apenas e só de respeito, ler "Sul Politically Correct", em "A Passo de Caranguejo" de Umberto Ecco) em favor de um dos que está marcado com tinta fluorescente de uma cor diferente da nossa, automaticamente "acabamos por dar razão à Al-Qaeda". Grande conclusão, uma conclusão moderada, sem dúvida moderada...
1) Muito bem documentado sobre a história recente da Austrália;
2) Fraco e diria até escorregadio na sua conclusão política, na teoria do boomerang;
3) Radical na sua linha política.
Sobre o ponto 2), na conclusão do texto podemos ler:
"Há certas ideias que funcionam como o boomerang, a gente atira-as convencidos das nossas melhores intenções e elas voltam para nos bater na cabeça."
Sobre este caso não há um único indício no texto que fundamente que esteja eminente qualquer efeito boomerang na Austrália. Pior ainda, alguns de nós ainda se recordam certamente dos distúrbios racistas ocorridos em Cronulla em 2005. É certo que não ocorreram contra australianos arborígenes, mas ocorreram contra outros australianos, australianos "estrangeiros", quase arborígenes, quiçá entre eles alguns luso-descendentes. No entanto, em Cronulla o boomerang bateu mesmo. E em que cabeça bateu? Será que bateu ou não em todas as cabeças que defendem os pilares fundamentais da democracia?
Sobre o ponto 3) esta passagem do texto é bem ilustrativa:
"se tomarmos à letra o significado profundo destes pedidos de perdão pela História, ainda acabamos por dar razão à Al-Qaeda, que nos considera como "cruzados", logo um alvo a abater pelo novo Saladino"
Estamos no mesmo registo do "não há Islão moderado", bem denunciado pelo FNV do Mar Salgado. Estamos no registo de um mundo muito simples, de um mundo onde os maus e os bons são marcados a tinta fluorescente de cor diferente, onde não há Islão moderado, que no fundo é o mesmo tipo de mundo dos que consideram que todos os Israelitas são ortodoxos e gananciosos, todos os Mexicanos são malandros e que todos os negros são pouco inteligentes. É um mundo sem gente moderada, ou são bons ou são maus. E se por acaso alguns de nós, dos bons, brancos, católicos, ocidentais, tal como o Primeiro-Ministro australiano, adoptarmos um gesto de respeito (aqui trata-se apenas e só de respeito, ler "Sul Politically Correct", em "A Passo de Caranguejo" de Umberto Ecco) em favor de um dos que está marcado com tinta fluorescente de uma cor diferente da nossa, automaticamente "acabamos por dar razão à Al-Qaeda". Grande conclusão, uma conclusão moderada, sem dúvida moderada...
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