Esta crónica do Rui Tavares publicada no Público sobre um texto de Helena Matos (suponho publicado no dia anterior no mesmo jornal) deixou-me com os cabelos em pé tal é o grau de ignorância científica (nível escola secundária) que Helena Matos evidencia. Não tenho o texto completo da Helena Matos, por isso corro algum risco de ser injusto, no entanto o parágrafo abaixo transcrito e as citações entre aspas são suficientes para perceber que a Helena Matos não domina nem de perto nem de longe uma das matérias essenciais do ensino secundário: o Método Científico. Eis o referido parágrafo:
Haverá alguma correspondência, como sugeriu ontem Helena Matos, entre os profetas religiosos que declaravam que as catástrofes naturais eram provocadas pelo pecado e aqueles que hoje identificam causas humanas nas alterações climáticas? Poderá considerar-se que a crença numa e na outra coisa é “uma atitude igualmente supersticiosa”? Será legítimo concluir que “onde uns colocavam a vontade de Deus coloca-se agora o equilíbrio da Terra”? Rui Tavares
Qualquer estudo científico moderno está sujeita aos critérios rigorosos e absolutamente cépticos do método científico. De uma forma simplificada podemos dividir o Método Científico em quatro passos:
1- Observação
2- Hipótese
3- Previsão
4- Experimentação
Só depois de um fenómeno ter sido estudado rigorosamente através deste método é que os cientistas produzem uma conclusão fundamentada, conclusão essa que tem sempre um determinado grau de certeza. No caso do aquecimento global, os 1000 melhores investigadores do mundo (de 130 países) em climatologia, depois de 6 anos de trabalho, determinaram um grau de certeza superior a 90% para a origem humana do fenómeno. Ora os profetas religiosos, a superstição, "a vontade de Deus" e o próprio raciocínio da Helena Matos não passam por este processo rigoroso de estudo e por isso mesmo não são ciência, são palpites muito pobrezinhos.
O problema é que a ignorância do que é o método científico tem sido recorrente entre os textos negacionistas do aquecimento global, não é só Helena Matos, são também as toneladas de textos do Blasfémias (todos sobre o criacionismo), do Insurgente, do Mitos Climáticos e do Luciano Amaral no DN a evidenciar o mesmo problema.
Não é por uma falha no programa das escolas secundárias que este flagelo intelectual grassa no país, lembro-me de ter dado o método científico em duas disciplinas: filosofia e física&química. A raiz do problema está na fraquíssima cultura científica do nosso país. Este défice científico da nossa sociedade impede que a maior parte dos cidadãos não perceba que saber o método científico é tão importante como saber a gramática ou história de Portugal.
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