O programa e os painéis do colóquio "Darwinismo versus Criacionismo - Onde começa e onde acaba uma teoria científica" (via Causa Nossa), organizado pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, deixam entender que se vai explicar porque é que o Darwinismo é ciência e o Criacionismo (desenho inteligente incluído) não é ciência nenhuma. No entanto, há dois reparos importantes a fazer.
Primeiro, o título lança desnecessariamente alguma confusão sobre o assunto, pois o Darwinismo não pode ser comparado com o Criacionismo à luz da ciência. Compará-los tem tanto significado como comparar batatas com sereias. O Darwinismo é perfeitamente fundamentado pela ciência - há poucas teorias para as quais tenham sido reunidas tantas provas que as validem - enquanto o Criacionismo (e a sua última moda do desenho inteligente) não tem qualquer base científica, não existe qualquer trabalho científico válido que verifique as hipóteses de base criacionista.
O segundo reparo a fazer a este colóquio é que se trata de mais um broche à ideologia neoconservadora com origem nos EUA, que é a única ideologia hoje em dia que alimenta este tipo de pseudociência. Quem conhece um bocadinho os manobrismos que os neoconservadores ensaiam na Europa, sabe muito bem de onde surgem este delírios. Fundaçõezinhas e fundaçõezecas, do tipo da fundação do mafioso George Soros, multiplicam-se pelo continente europeu, principalmente na Europa de Leste com o objectivo de evangelizar os europeus aos maiores delírios do neoconsevadorismo americano. O menu neoconservador é composto por uma catequese espiritual e outra materialista. A catequese materialista baseia-se no ultraliberalismo do Estado Mínimo contra o Modelo Social Europeu. A catequese espiritual baseia-se no combate cerrado à ciência, através do negacionismo do Darwinismo, do Big Bang e do Aquecimento Global. Os recentes desenvolvimentos científicos sobre as alterações climáticas desferiram um rude golpe à ideologia neoconservadora, mas o dinheiro dos poços de petróleo continua a jorrar para alimentar os delírios pseudo-científicos. Infelizmente, este colóquio tem tudo para ser considerado mais um broche à ideologia neoconservadora do que propriamente uma oportunidade para esclarecer o grande público sobre a importância do método científico na complexidade das sociedades actuais.
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