"eu próprio trabalho um pouco com estatísticas e previsões, conhecendo portanto a falibilidade do método. A boa previsão científica é aquela que se faz de forma cautelosa, rodeada de qualificações. Por isso me custa ouvir tantas sentenças definitivas a partir de instrumentos tão falíveis." Luciano Amaral no DN.
Lendo o artigo desta semana do Luciano Amaral fica a sensação de que ele não percebe alguns dos conceitos básicos que envolvem o estudo do aquecimento global. O Luciano "trabalha um pouco com estatísticas", os cientistas do IPCC trabalham a fundo em estatística, e durante os últimos seis anos trabalharam só em estatística climática. Todas as idades do gelo e variações significativas foram estudadas até ao horizonte de 400 mil anos atrás, inclusivamente a pequena idade do gelo do sec. XVI que pelos vistos só agora o Luciano descobriu. E baseados nesses estudos que cobrem um período nunca antes estudado concluíram com 90% de certeza que o aquecimento global é provocado pelo homem. A afirmação "90% de certeza" é em si uma afirmação cautelosa (a maior parte das vezes dizemos que temos a certeza absoluta quando temos apenas 70 ou 80 % de certeza) e de modo nenhum uma "sentença definitiva", sentença definitiva seria dizer 100% de certeza. Só uma amarga sensação de derrota ideológica que o Luciano deve estar a sentir explica este erro grosseiro (será erro?). No fundo, no fundo, o artigo do Luciano trata é de ideologia, a sua ideologia é ameaçada pela política necessária para combater o aquecimento global. O liberalismo selvagem baseado na produção ilimitada de bens tem os seus dias contados, o Estado vai ter que intervir onde as empresas falharam. Ironicamente, as experiências marxistas, o alvo do artigo do Luciano, no que toca à produtividade desmesurada e à poluição produziram resultados muito semelhantes ao liberalismo económico selvagem. Quem conhece bem os EUA e a Europa de Leste sabe que existem zonas industriais americanas que parecem tiradas a papel químico de zonas industriais dos ex-regimes comunistas. Ambas reflectem o mesmo problema: a demissão completa do Estado na regulação da poluição industrial. Na URSS isso acontecia porque o Estado não exigia responsabilidades aos seus funcionários, nos EUA o mesmo acontece porque o Estado não exige responsabilidades às empresas privadas.
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