Na minha opinião só faz sentido falar em grupo, quando as prestações do conjunto de jogadores são superiores à soma das prestações individuais de cada um desses jogadores. Um exemplo típico é a selecção da Grécia, campeã europeia pelas mãos de Otto Rehhagel. Com um conjunto de valores futebolísticos secundários a nível europeu (onde estão a jogar os campeões europeus do Euro2004?), Otto construiu uma equipa campeã.
A maior virtude apontada a Scolari é a capacidade de formar um grupo (já que a estratégia e a táctica enfim...). Eu discordo. Acho que o caso de Scolari é o contrário do caso de Rehhagel. Scolari durante o europeu tinha o melhor conjunto de individualidades e nas duas partidas contra a Grécia, a soma dessas individualidades foi inferior a uma equipa de pés quadrados. Acabado o Mundial, pareceu-me existirem apenas duas equipas mais bem recheadas de valores individuais que Portugal: a França e o Brasil. A Itália, a Argentina e a Inglaterra eram as equipas do nosso pelotão. De todos estas equipas apenas a Itália conseguiu fazer render a equipa para lá dos seus valores individuais, e é isso que eu entendo como um verdadeiro grupo. Outras selecções com conjuntos acima das suas individualidades foram a Austrália, a Alemanha e a Suiça (que não sofreu nenhum golo).
Se houveram treinadores nos últimos 20 anos que formaram verdadeiros grupos eles foram: José Maria Pedroto, Carlos Queiroz e José Mourinho. O trabalho de Carlos Queiroz nas camadas jovens foi brilhante, partindo literalmente do zero, Queiroz descobriu talentos dispersos pelo país, numa altura em que não existia qualquer tradição de trabalho no futebol juvenil e em que pouca atenção se dava à selecção. O grupo de Queiroz, campeão do mundo júnior por duas vezes, foi apelidado mundialmente como a Geração de Ouro.
Pedroto tirou o FC Porto de um jejum de vitórias de 20 anos e construiu um grupo que se viria a sagrar Campeão Europeu de clubes pelas mãos de Artur Jorge.
O trabalho de Mourinho ainda está fresco na memória dos portugueses, Mourinho construiu um grupo repescando Maniche à equipa B do Benfica, Nuno Valente e Derlei ao União de Leiria, Paulo Ferreira ao Setúbal, recuperando o capitão Jorge Costa - já não prestava para Octávio - colocando Baía de novo no topo do futebol mundial e aproveitando a qualidade já existente no plantel do Porto: Ricardo Carvalho, Deco, Costinha e McCarthy. As duas vitórias consecutivas em competições europeias foram o corolário de um excelente trabalho, bem estruturado e sistemático.
A mim parece-me evidente que o trabalho mais positivo de Scolari foi em larga medida surfar neste grupo que lhe foi oferecido por Mourinho. Digo surfar; apanhar a onda e não trabalhar ou desenvolver. Mas, curiosamente Scolari só começou a surfar neste grupo após a primeira derrota com a Grécia, acabando depois por seguir aquela que era a opinião de 95% dos comentadores de futebol. O verdadeiro grupo de Scolari, aquele que Scolari constituiu de mau resultado em mau resultado até essa primeira derrota com a Grécia, está imprimido nos números das camisolas da selecção, que ele atribuiu meticulosamente de 1 a 11 tal como tinha feito com a selecção brasileira campeã do mundo: 1- Ricardo; 2- Paulo Ferreira; 3- Rui Jorge; 4- Jorge Andrade; 5- Fernando Couto; 6- Costinha; 7-Figo; 8- Petit; 9- Pauleta; 10- Rui Costa; 11- Simão. Era este grupo de Scolari. Ricardo Carvalho era o 16, Miguel o 13, Nuno Valente o 14, Deco o 20, Cristiano o 17 e Maniche o 18. A vergonha da derrota no jogo inaugural fê-lo tomar a atitude mais inteligente que teve durante os 4 anos de seleccionador e mudou tudo, mudou para a estrutura de Mourinho à qual foram adicionadas as estrelas da companhia. No entanto aqueles números que vão do 13 ao 20 ficarão na história como um amargo sapo que Scolari teve que engolir e o fim do genuino grupo de Scolari.
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