terça-feira, setembro 11, 2007

Propinas, Nível Educacional e Abandono Escolar

Portugal é o país europeu com o nível educacional mais baixo da Europa (excluindo Malta): apenas cerca de 26% dos portugueses concluíram o 12º ano, a percentagem da população com o ensino superior é a mais baixa e as taxas de analfabetismo e de abandono escolar são as mais elevadas da Europa. O país europeu cujo nível educacional está a seguir ao nosso é Espanha com cerca de 40% da população com o 12º ano concluído, quase o dobro de Portugal. Há muito que aqui defendo que o combate a este flagelo deveria ser a prioridade número 1 nacional. Por esta razão, à luz dos referidos dados considero que o último parágrafo desta contribuição de Vital Moreira para o debate não traz nada de positivo ao combate do problema. E para não entrarmos em esquemas de pescadinha de rabo na boca respondendo à oposição às propinas afirmando que com mais propinas há mais apoio social escolar, convém ter uma ideia do nível a partir do qual um estudante português tem acesso a esse apoio social e do nível de investimento que os outros países da UE consagram ao apoio social escolar. Os números lançados pelo Pedro Sales são muito significativos. As diferenças negativas de todos os indicadores de apoio escolar não são uns meros 2 ou 3% em relação à média dos restantes países, são cerca de 20% ou mais. Estes números para um país que precisa de recuperar um atraso educacional enorme são uma vergonha. Se o Vital Moreira entregar estes números aos seus pares europeus trocando o nome dos países por letras (Portugal=A, Espanha=B, França=C, etc.), tenho a certeza que lhe responderão que o país A (Portugal) é um país rico, com um alto nível educacional, abandono escolar residual e analfabetismo inexistente. Convido-o vivamente a fazer a experiência via email com os seus ex-colegas da Comissão de Veneza, por exemplo.

O "contra" do Pedro Sales é muito bem fundamentado, está muito longe de ser um "Porque Sim". O "a favor" do Vital Moreira é que é justificado de uma forma muito fraquinha e não é apenas do ponto de vista quantitativo, como demonstram os números lançados pelo Pedro. Do ponto de vista qualitativo gostaria que o Vital Moreira me respondesse objectivamente qual é a racionalidade de, num país que tem de recuperar um enorme atraso educacional, pedir o esforço de investimento a uma larga fracção (já excluindo os ricos) dos que deveriam ser o alvo desse mesmo investimento, pelos custos acrescidos que já comportam? Se há alguma causa pela qual vale a pena pagar impostos em Portugal é a causa da recuperação do nosso atraso educacional, essa sim é verdadeiramente uma CAUSA NOSSA. Para além disso, o Vital Moreira acha que os estudantes deslocados cujos rendimentos familiares ficam um pouco acima do nível para beneficiar do apoio escolar - que é uma grande percentagem dos estudantes nas zonas mais pobres do país - se sentem ou são encorajados para estudar na Universidade com o nível de propinas que é praticado? Sobretudo quando na família e na terrinha ninguém fez esse percurso, não há hábitos de estudo, de leitura e ainda se olha com desconfiança quem estuda.

Sem comentários: