No Abrupto é colocada a seguinte questão:
QUEM “GANHOU” A GUERRA ENTRE ISRAEL E O HEZBOLLAH?
A minha resposta é: Israel ganhou todas as guerras em que participou até hoje, inclusive esta. E se nos lembrarmos bem, no passado Israel ganhou guerras de uma forma ainda mais categórica do que desta vez. E qual é o resultado dessas vitórias militares? Será que se traduziram sempre em vitórias políticas? Não, claro que não. A experiência mostra que ganhar guerras naquela região do mundo não basta e isso já muita gente neste planeta percebeu, inclusive em Israel. Os protestos em Israel contra a intervenção no Líbano não são tanto contra os ataques ao Hezbollah ou contra os danos colaterais, os protestos surgem porque aqueles israelitas, que conseguem manter o sangue frio para fazer uma leitura política moderada, sabem que mesmo ganhando ao Hezbollah, essa vitória não se traduz numa vitória política, sobretudo quando se bombardeia o Líbano a eito, como se o país de norte a sul fosse um feudo de terroristas. Esses Israelitas sabem bem que no rescaldo desta guerra o Hezbollah se reforçou em simpatizantes, militantes e activistas e mais cedo ou mais tarde tudo poderá recomeçar. Esta sim é a verdadeira vitória do Hezbollah. E este é um facto independente do sucesso ou insucesso da força internacional que será colocada no sul do Líbano. É isso que o texto de JPP deixa de fora, é de certa forma um erro semelhante ao que se está a pagar no Iraque.
Reparos à forma como JPP analisa o papel da França no conflito
JPP postula que a vitória de Israel vai depender "do modo como for aplicada a resolução da ONU, em particular do modo como for constituída a força internacional que controlará o sul do Líbano e o modo como esta actuará". Isto é quase sinónimo de afirmar que se tudo correr bem a vitória será mais da França do que Israel, se for a França o país responsável pela força da ONU. Eu sei que JPP não queria ir tão longe, mas é onde o seu raciocínio nos leva.
Depois vale a pena analisar este parágrafo:
"...pode ser uma rara oportunidade para a França (e por interposta França para a UE) assumir um papel positivo na região, onde só tem tido um papel muito negativo, em particular pelas ambiguidades da sua política face ao conflito iraquiano."
Os Franceses e todos os que estão minimamente atentos às manobras internacionais que pretendem fazer da União Europeia um cão de companhia dos EUA, sabem que o sul do Líbano poderá ser aproveitado para preparar uma armadilha à França. Não será difícil fazê-lo, o historial de terrorismo dos EUA no Líbano é reputado - no caso do Líbano o sentido da palavra é realmente adequado, os EUA organizaram atentados à bomba que mataram dezenas de civis nos anos 80. Por isso quando se refere "por interposta França para a UE" está-se a dizer duas coisas: 1) o fracasso de um país membro, é o fracasso de toda a UE. O que levanta uma pergunta: o fracasso do Reino Unido ou da Polónia no Iraque serão também um fracasso da UE? 2) a política externa francesa é igual à da UE. O que é falso, infelizmente. Não seria uma política perfeita mas seria bem melhor do que a actual política da UE.
Finalmente, quando JPP refere que a França "só tem tido um papel muito negativo" na região "pelas ambiguidades da sua política face ao conflito iraquiano", JPP está a falar para os devotos da religião USA, para a tribuna dos fanáticos, tenho a certeza que o próprio JPP não acredita no que escreveu. Se não seria muito estranho que os países da região sugerissem a França para formar a força da ONU. Porque é que os ingleses e os americanos não vão para lá? Não é por problemas logísticos, certamente. Sabemos o que aconteceria: Iraque II.
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