O relatório World Water Development de 2006 da ONU faz o ponto da situação sobre a crise mundial de água potável - ou água doce se quisermos ser mais abrangentes - e a conclusão deste relatório é que estamos bem pior do que se pensava. A penúria de água potável já afecta cerca de um terço da população mundial, cenário que se julgava ocorrer somente dentro de duas décadas. Os números sobre a utilização da água são muito preocupantes. Exemplos (ver resumo elaborado pela WWF):
- O consumo diário de água nas zonas urbanas da América do Norte é de 350 l/pessoa, 200 l/pessoa na Europa e 20 l/pessoa na África Subsariana;
- Para produzir um copo de leite são necessários cerca de 200 litros de água, um ovo cerca de 135 litros de água, um hambúrguer cerca de 2400 l, uma t-shirt cerca de 4100 l e um par de sapatos cerca de 8000 l.
- A Austrália é o continente mais seco e perdeu cerca de 15% da sua taxa de pluviosidade desde 1970. Convém referir que a Austrália é o maior emissor de gases de efeito de estufa per capita. Os EUA são o maior emissor em termos absolutos (cerca de 25% das emissões globais).
Na Semana Mundial da Água a decorrer em Estocolmo está a ser discutido o impacto planetário da actividade humana nos recursos naturais, as políticas a adoptar e o estudo dos complexos sistemas naturais.
Parece evidente que a forma como estão organizadas as nossas sociedades, sobretudo a "ocidental", vai ter que mudar muito. As nossas noções de produtividade, de consumo, de propriedade, etc., vão ter que mudar muito sob pena de pagarmos o preço forte causado por penúrias extremas de água potável em certas zonas do planeta (a península Ibérica é uma das de maior risco): migrações incontroláveis, conflitos, concentrações excessivas de populações, epidemias, mortes em massa, etc.
O folclore habitual destas coisas
Obviamente, já sabemos que os João Miranda e os engenheiros (atenção não se esqueçam que o homem é engenheiro) Rui Moura deste mundo vão ler nisto mais uma campanha contra a sacro-santa administração Bush e consequentemente contra toda a sua catequese de liberalismo selvagem num contexto neo-conservador. Mas até tem a sua piada, faz parte do folclore que rodeia a história da ciência, como a célebre história dos monges que gozaram com Galileu agarrando-se a colunas para não caírem quando este lhes anunciou que a Terra se movia.
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