sexta-feira, agosto 18, 2006

"Não espiamos os Sauditas. São nossos amigos"

Quem assistiu ao documentário "CIA, guerres secrètes" emitido pelo canal ARTE (pode ser adquirido aqui em DVD ou aqui em VOD) e ouviu as declarações de dezenas de ex-agentes da CIA e do FBI percebeu claramente dois factos relevantes que condicionaram fortemente a política americana de combate ao terrorismo nos últimos anos:

1- A ligação entre a Administração Bush e a família real Saudita.
Ainda antes do 11 de Setembro, mas depois de elementos da CIA descobrirem que o atentado de 1993 na garagem do World Trade Center tinha sido financiado pela família real Saudita, bem como outras tentativas e planos de atentados nos EUA, a resposta da administração Bush foi: "Não espiamos os sauditas. São nossos amigos". Relembro que na altura os EUA espiavam fortemente os seus "amigos" europeus, por exemplo tentando benificiar os negócios em que a Boeing competia com a Airbus (aqui a lista de empresas europeias que foram objecto de espionagem, secção 10.7).
Obviamente, todos nos perguntamos porque é que a família real saudita não é considerada terrorista, tal como a Al-Qaeda, o Irão, a Síria, o Hamas, o Hezbollah e Saddam. O problema é que tal como explicaram estes ex-agentes a Administração Bush está enterrada até às orelhas em petróleo saudita: Bush pai, Bush filho, Cheney e muitas das outras figurinhas secundárias de extrema-direita desta Administração. Todos estiveram ou estão envolvidos em negociatas envolvendo empresas petrolíferas com ligações a financiamento de campanhas e negócios de armas. Podemos pois concluir que só são considerados terroristas aqueles que não fazem negócios com a Administração Bush.

2 - A degradação dramática da CIA após o fim da Guerra Fria.
Os ex-agentes da CIA e da FBI foram unânimes na forte degradação que sofreram as respectivas agências depois do fim da Guerra Fria. A informação não circulava entre as duas agências, Clinton não simpatizava muito com os serviços secretos e a velha rivalidade entre a CIA e o FBI ainda piorava as coisas. Não é de estranhar que o aviso de que o 11 de Setembro estava a ser preparado tenha vindo de fora, de outros serviços secretos: da Alemanha, da França, do Egipto e de Israel. Por exemplo o dossier de Zacarias Moussaoui que os serviços secretos franceses transmitiram à delegação do FBI em Paris no início de 2001 nunca chegou às mãos do FBI nos EUA.

Nota sobre Vasco Graça Moura
Quem viu este excelente documentário ficou suficientemente informado para perceber que este artigo de Vasco Graça Moura é um chorrilho de asneiras de uma ponta à outra, não se aproveita nada.

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