Um amigo libanês com o qual almocei diariamente durante os quatro anos que passei em França, descrevia-nos com orgulho a vida da sua irmã a viver em Beirute, uma rapariga dinâmica nas palavras dele, que trabalhava numa rádio, se vestia bem e até escolhia os namorados. No entanto, quando o motivo de conversa era Israel, ele não escondia a sua simpatia pelo Hezbollah, justificando que era o único movimento que fazia frente a Israel, que na altura ainda ocupava o sul do Líbano. Perante a sua simpatia pelo Hezbollah, juntamente com um colega francês, fizemos-lhe notar que se o Hezbollah alguma vez fosse governo no Líbano a sua irmã seria obrigada a cobrir o cabelo, deixaria de trabalhar na rádio e passaria os dias em casa à mercê de um marido que muito provavelmente não iria escolher.
As nossas palavras não lhe foram indiferentes, sem o referir directamente, deu-nos a entender que só tolerava o lado fascista do Hezbollah enquanto Israel ocupasse ou ameaçasse o sul do Líbano.
Este amigo libanês não é um caso isolado, grande parte do apoio ao Hezbollah possui este cariz. No fundo é um apoio que não partilha da doutrina do movimento, mas que o considera fundamental no conflito permanente contra Israel. E é aqui que discordo (apenas parcialmente) do Luís.
Não são os ataques de Israel ao Hezbollah que me incomodaram - pelos quais não verti a menor lágrima - o que me incomodou foi ver o Líbano bombardeado a eito, o que me incomodou foi o ataque ao Líbano país e não ao Hezbollah no Líbano, foi ver pontes destruidas, o aeroporto esburacado, uma maré negra de dezenas de quilómetros e ver libaneses muçulmanos, judeus e cristãos com a casa às costas perdidos no seu próprio país. Isto vai ter o seu preço e será um preço alto: o reforço do Hezbollah em simpatizantes, militantes e activistas. A próxima geração de vingança e de ódio está já na forja. Não será surpresa nenhuma se o Hezbollah aderir à moda dos atentados suicida.
A justificação do ataque ao Líbano país, às suas infrastruturas e às suas vias de comunicação, segundo a qual era necessário para impedir o fornecimento de armas ao Hezbollah é muito manhosa. E é manhosa por duas razões:
1 - Porque este ataque constituiu de facto um castigo (vingança diria o P. Varela Gomes) ao Estado Libanês, por não desarmar o Hezbollah. Para um país que viveu longos anos de guerra civil, desarmar o Hezbollah poderia significar o reacender dos velhos ódios e mergulhar de novo o país na guerra. As manifestações de apoio ao Hezbollah depois da saída das tropas Sírias são disso um indicador.
2 - Porque grande parte do circuito de fornecimento de armas ao Hezbollah passa por território de países "amigos" dos EUA. Actualmente, o Qatar é uma das maiores placas giratórias do tráfico de armas destinadas a grupos políticos como o Hezbollah. Diariamente, aterram e levantam voo Antonovs carregados de armas. A CIA sabe-o e até sabe mais ou menos para onde voam. Ora, será certamente mais eficaz para Israel - que já controla o espaço aéreo e marítimo do Líbano - pedir aos EUA para lhe dar uma ajuda no nó do tráfico de armas baseado no Qatar do que esburacar o aeroporto e escavacar os portos marítimos libaneses. Só que isso acarreta uma dificuldade. O negócio faraónico de armas em troca de petróleo entre os EUA e o Qatar poderia sofrer um abalo e a administração Bush não está disposta a isso. É mais fácil esburacar o aeroporto de Beirute...
Assim que o Líbano começou a ser bombardeado de alto a baixo enviei um email ao meu amigo libanês. Recebi resposta há poucos dias. Afinal ainda estava em França. Disse-me que a família no Líbano estava bem. O que me escreveu a seguir confirma os meus piores receios. O Hezbollah vai ter sem dúvida um vertiginoso acréscimo de popularidade e de simpatia. Infelizmente, é esta a verdadeira vitória do Hezbollah, é a vitória de um reforço político, do reforço de um fascismo alimentado pelo desejo de vingança e pelo ódio.
quinta-feira, agosto 31, 2006
quarta-feira, agosto 30, 2006
Armas de destruição em massa: Fanta
Cada garrafa de 1,5l contém:
- o equivalente a mais de 40 colheres-de-chá de açucar
- cerca de 700 kcal
Necessidades diárias:
homem - 2200 kcal
mulher - 1800 kcal
- o equivalente a mais de 40 colheres-de-chá de açucar
- cerca de 700 kcal
Necessidades diárias:
homem - 2200 kcal
mulher - 1800 kcal
segunda-feira, agosto 28, 2006
domingo, agosto 27, 2006
Charlie e a fábrica de chocolate: o original
Para os cinéfilos:
Hoje, no canal ARTE às 19.40 (uma boa hora para boicotar os telejornais kitsh das nossas televisões) será transmitido o filme original "Charlie e a fábrica de chocolate" realizado por Mel Stuart
35 anos antes da versão de Tim Burton.
Hoje, no canal ARTE às 19.40 (uma boa hora para boicotar os telejornais kitsh das nossas televisões) será transmitido o filme original "Charlie e a fábrica de chocolate" realizado por Mel Stuart
35 anos antes da versão de Tim Burton.
Vasco Graça Moura invertendo a realidade
Na resposta de Vasco Graça Moura (edição de 3 de Agosto do DN) a um desinteressante comentário de um leitor podemos ler o seguinte:
"na verdade, a esquerda tem defendido o terrorismo ao longo das décadas: (...) fê-lo na defesa do Hamas, da Al-Qaeda, ou do Hezbollah..."
Esfreguem bem os olhos. Leram bem Al-Qaeda, não leram?
Ora, se Vasco Graça Moura se desse ao trabalho de ler as páginas 48 à 54 da obra "Against all enemies" de Richard Clarke - coordenador da Security Infrastructure Protection and Counterterrorism entre 1998 e 2003 - poderia poupar-nos de mais uma estrondosa bojarda. Ao longo dessas 7 páginas Richard Clarke explica detalhadamente como a CIA escolheu, formou e apoiou Ben Laden e os talibãs. Clarke descreve detalhadamente o apoio dado aos grupos armados constituídos por aqueles que viriam a ser os talibãs, nomeadamente através do fornecimento de mísseis Stinger, mísseis esses que foram essenciais para aniquilar os helicópteros soviéticos Hind-D. Podemos ler como o falcão Richard Perle teve a brilhante ideia de criar campos de treino para mujahedines no Paquistão (tão uteis que foram depois para Ben Laden). E podemos ainda ler o processo de recrutamento de Ben Laden seguindo a sugestão dos serviços secretos sauditas.
Esta forma de inverter a realidade, de dar cambalhotas à história, de transmutar o agredido em agressor e vice-versa tem sido uma arma frequentemente utilizada pelos mais radicais defensores da administração Bush. Não espanta pois o resultado da famosa sondagem em que os americanos designaram maioritariamente como sendo iraquiana a nacionalidade dos autores do 11 de Setembro e não a nacionalidade dominante: a Saudita.
"na verdade, a esquerda tem defendido o terrorismo ao longo das décadas: (...) fê-lo na defesa do Hamas, da Al-Qaeda, ou do Hezbollah..."
Esfreguem bem os olhos. Leram bem Al-Qaeda, não leram?
Ora, se Vasco Graça Moura se desse ao trabalho de ler as páginas 48 à 54 da obra "Against all enemies" de Richard Clarke - coordenador da Security Infrastructure Protection and Counterterrorism entre 1998 e 2003 - poderia poupar-nos de mais uma estrondosa bojarda. Ao longo dessas 7 páginas Richard Clarke explica detalhadamente como a CIA escolheu, formou e apoiou Ben Laden e os talibãs. Clarke descreve detalhadamente o apoio dado aos grupos armados constituídos por aqueles que viriam a ser os talibãs, nomeadamente através do fornecimento de mísseis Stinger, mísseis esses que foram essenciais para aniquilar os helicópteros soviéticos Hind-D. Podemos ler como o falcão Richard Perle teve a brilhante ideia de criar campos de treino para mujahedines no Paquistão (tão uteis que foram depois para Ben Laden). E podemos ainda ler o processo de recrutamento de Ben Laden seguindo a sugestão dos serviços secretos sauditas.
Esta forma de inverter a realidade, de dar cambalhotas à história, de transmutar o agredido em agressor e vice-versa tem sido uma arma frequentemente utilizada pelos mais radicais defensores da administração Bush. Não espanta pois o resultado da famosa sondagem em que os americanos designaram maioritariamente como sendo iraquiana a nacionalidade dos autores do 11 de Setembro e não a nacionalidade dominante: a Saudita.
quinta-feira, agosto 24, 2006
Plutão perdeu o estatuto planeta
A partir de agora é assim:
Depois do voto sobre a nova definição de planeta ocorrido na sessão de hoje da Assembleia Geral da União Astronómica Internacional em Praga, a nova catalogação dos corpos principais do sistema solar divide-se entre planeta e planeta-anão. Plutão passa a pertencer a esta última categoria. A frequência crescente a que estavam a ser descobertos corpos semelhantes a Plutão para lá da órbita deste ex-planeta foi a gota que fez transbordar o copo para que uma nova definição de planeta fosse estabelecida.
Depois do voto sobre a nova definição de planeta ocorrido na sessão de hoje da Assembleia Geral da União Astronómica Internacional em Praga, a nova catalogação dos corpos principais do sistema solar divide-se entre planeta e planeta-anão. Plutão passa a pertencer a esta última categoria. A frequência crescente a que estavam a ser descobertos corpos semelhantes a Plutão para lá da órbita deste ex-planeta foi a gota que fez transbordar o copo para que uma nova definição de planeta fosse estabelecida.
Hezbollah: vantagem simbólica do fascismo fashionable
Nos últimos tempos, poucos blogues me têm dado tanto prazer a ler como o Natureza do Mal. Apesar de não concordar com tudo o que o Luís tem escrito sobre o conflito entre Israel e o Hezbollah - mais tarde me explicarei sobre isso - gosto da forma autónoma como tem abordado o assunto, bem como a sua valiosa contribuição para o enriquecimento do debate à esquerda na blogosfera. Bem melhor e bem longe do habitual e seco ping-pong ideológico de duas partes que não cedem nem um passo que caracterizaram muitos debates anteriores da blogosfera.
Sobre a entrada do Luís "Hezbollah fashionable", independentemente de não subscrever tudo o que escreveu, destaco a passagem em que o Luís faz referência ao "grafismo poderoso do Hezbollah, uma mistura de orientalismo com fascismo fashionable". Ora esse mesmo fascismo fashionable, essa sedução, esse prestígio transmitido pelas diversas representações simbólicas do Hezbollah é abordado de uma forma interessante por Bernard-Henri Lévy nas suas respostas ao New York Times (registo gratuito):
"...the eternal rivalry between what in France we call the Girodins and the Montagnards, the moderates and the hardliners, the partisans of compromise and the apostles of violence or simply of radicality. We have known since 1789 that it is the latter who most often defeat the former. We know that there is a frightful prestige associated with the radical spirit. More precisely: we know that there is a terrible seductiveness, an ideologial and symbolic advantage, that goes with the Montagnard spirit. That, I think, is what is happening in the Muslim world today."
No passado esse deslumbramento pelo fascismo fashionable passou pelo barulho das botas dos desfiles da Juventude Hitleriana, do Exército Vermelho e da Mocidade Portuguesa, entre outros...
Sobre a entrada do Luís "Hezbollah fashionable", independentemente de não subscrever tudo o que escreveu, destaco a passagem em que o Luís faz referência ao "grafismo poderoso do Hezbollah, uma mistura de orientalismo com fascismo fashionable". Ora esse mesmo fascismo fashionable, essa sedução, esse prestígio transmitido pelas diversas representações simbólicas do Hezbollah é abordado de uma forma interessante por Bernard-Henri Lévy nas suas respostas ao New York Times (registo gratuito):
"...the eternal rivalry between what in France we call the Girodins and the Montagnards, the moderates and the hardliners, the partisans of compromise and the apostles of violence or simply of radicality. We have known since 1789 that it is the latter who most often defeat the former. We know that there is a frightful prestige associated with the radical spirit. More precisely: we know that there is a terrible seductiveness, an ideologial and symbolic advantage, that goes with the Montagnard spirit. That, I think, is what is happening in the Muslim world today."
No passado esse deslumbramento pelo fascismo fashionable passou pelo barulho das botas dos desfiles da Juventude Hitleriana, do Exército Vermelho e da Mocidade Portuguesa, entre outros...
quarta-feira, agosto 23, 2006
A crise mundial de água potável
O relatório World Water Development de 2006 da ONU faz o ponto da situação sobre a crise mundial de água potável - ou água doce se quisermos ser mais abrangentes - e a conclusão deste relatório é que estamos bem pior do que se pensava. A penúria de água potável já afecta cerca de um terço da população mundial, cenário que se julgava ocorrer somente dentro de duas décadas. Os números sobre a utilização da água são muito preocupantes. Exemplos (ver resumo elaborado pela WWF):
- O consumo diário de água nas zonas urbanas da América do Norte é de 350 l/pessoa, 200 l/pessoa na Europa e 20 l/pessoa na África Subsariana;
- Para produzir um copo de leite são necessários cerca de 200 litros de água, um ovo cerca de 135 litros de água, um hambúrguer cerca de 2400 l, uma t-shirt cerca de 4100 l e um par de sapatos cerca de 8000 l.
- A Austrália é o continente mais seco e perdeu cerca de 15% da sua taxa de pluviosidade desde 1970. Convém referir que a Austrália é o maior emissor de gases de efeito de estufa per capita. Os EUA são o maior emissor em termos absolutos (cerca de 25% das emissões globais).
Na Semana Mundial da Água a decorrer em Estocolmo está a ser discutido o impacto planetário da actividade humana nos recursos naturais, as políticas a adoptar e o estudo dos complexos sistemas naturais.
Parece evidente que a forma como estão organizadas as nossas sociedades, sobretudo a "ocidental", vai ter que mudar muito. As nossas noções de produtividade, de consumo, de propriedade, etc., vão ter que mudar muito sob pena de pagarmos o preço forte causado por penúrias extremas de água potável em certas zonas do planeta (a península Ibérica é uma das de maior risco): migrações incontroláveis, conflitos, concentrações excessivas de populações, epidemias, mortes em massa, etc.
O folclore habitual destas coisas
Obviamente, já sabemos que os João Miranda e os engenheiros (atenção não se esqueçam que o homem é engenheiro) Rui Moura deste mundo vão ler nisto mais uma campanha contra a sacro-santa administração Bush e consequentemente contra toda a sua catequese de liberalismo selvagem num contexto neo-conservador. Mas até tem a sua piada, faz parte do folclore que rodeia a história da ciência, como a célebre história dos monges que gozaram com Galileu agarrando-se a colunas para não caírem quando este lhes anunciou que a Terra se movia.
- O consumo diário de água nas zonas urbanas da América do Norte é de 350 l/pessoa, 200 l/pessoa na Europa e 20 l/pessoa na África Subsariana;
- Para produzir um copo de leite são necessários cerca de 200 litros de água, um ovo cerca de 135 litros de água, um hambúrguer cerca de 2400 l, uma t-shirt cerca de 4100 l e um par de sapatos cerca de 8000 l.
- A Austrália é o continente mais seco e perdeu cerca de 15% da sua taxa de pluviosidade desde 1970. Convém referir que a Austrália é o maior emissor de gases de efeito de estufa per capita. Os EUA são o maior emissor em termos absolutos (cerca de 25% das emissões globais).
Na Semana Mundial da Água a decorrer em Estocolmo está a ser discutido o impacto planetário da actividade humana nos recursos naturais, as políticas a adoptar e o estudo dos complexos sistemas naturais.
Parece evidente que a forma como estão organizadas as nossas sociedades, sobretudo a "ocidental", vai ter que mudar muito. As nossas noções de produtividade, de consumo, de propriedade, etc., vão ter que mudar muito sob pena de pagarmos o preço forte causado por penúrias extremas de água potável em certas zonas do planeta (a península Ibérica é uma das de maior risco): migrações incontroláveis, conflitos, concentrações excessivas de populações, epidemias, mortes em massa, etc.
O folclore habitual destas coisas
Obviamente, já sabemos que os João Miranda e os engenheiros (atenção não se esqueçam que o homem é engenheiro) Rui Moura deste mundo vão ler nisto mais uma campanha contra a sacro-santa administração Bush e consequentemente contra toda a sua catequese de liberalismo selvagem num contexto neo-conservador. Mas até tem a sua piada, faz parte do folclore que rodeia a história da ciência, como a célebre história dos monges que gozaram com Galileu agarrando-se a colunas para não caírem quando este lhes anunciou que a Terra se movia.
terça-feira, agosto 22, 2006
Bernard-Henri Lévy sobre Israel
Mais um post atrasado:
Aqui, ensaio de Bernard-Henri Lévy (BHL) sobre Israel no New York Times (o registo é gratuito).
Questões a BHL sobre o mesmo ensaio.
No dia em que saiu o ensaio lembro-me de BHL ser capa de alguns jornais alemães à venda em Portugal. No mesmo dia, nos nossos jornais (DN e Público), nada encontrei sobre o ensaio de BHL. O Correio da Manhã, o jornal do Portugal kitsch, vendia-se às molhadas. Do ponto de vista intelectual foi um dia deprimente, mas foi também um excelente dia de férias, entre pinheiros mansos, dunas e generosas ondas do Oceano Atlântico.
Aqui, ensaio de Bernard-Henri Lévy (BHL) sobre Israel no New York Times (o registo é gratuito).
Questões a BHL sobre o mesmo ensaio.
No dia em que saiu o ensaio lembro-me de BHL ser capa de alguns jornais alemães à venda em Portugal. No mesmo dia, nos nossos jornais (DN e Público), nada encontrei sobre o ensaio de BHL. O Correio da Manhã, o jornal do Portugal kitsch, vendia-se às molhadas. Do ponto de vista intelectual foi um dia deprimente, mas foi também um excelente dia de férias, entre pinheiros mansos, dunas e generosas ondas do Oceano Atlântico.
segunda-feira, agosto 21, 2006
O Médio Oriente e a Europa
Tinha este post entalado há três semanas.
Recomendado também pelo Bruno do Avatares, um bom texto crítico de Tomothy Ash sobre as responsabilidades da Europa em Israel e no Médio Oriente.
Recomendado também pelo Bruno do Avatares, um bom texto crítico de Tomothy Ash sobre as responsabilidades da Europa em Israel e no Médio Oriente.
Resposta a JPP: Israel ganhou todas as guerras...
No Abrupto é colocada a seguinte questão:
QUEM “GANHOU” A GUERRA ENTRE ISRAEL E O HEZBOLLAH?
A minha resposta é: Israel ganhou todas as guerras em que participou até hoje, inclusive esta. E se nos lembrarmos bem, no passado Israel ganhou guerras de uma forma ainda mais categórica do que desta vez. E qual é o resultado dessas vitórias militares? Será que se traduziram sempre em vitórias políticas? Não, claro que não. A experiência mostra que ganhar guerras naquela região do mundo não basta e isso já muita gente neste planeta percebeu, inclusive em Israel. Os protestos em Israel contra a intervenção no Líbano não são tanto contra os ataques ao Hezbollah ou contra os danos colaterais, os protestos surgem porque aqueles israelitas, que conseguem manter o sangue frio para fazer uma leitura política moderada, sabem que mesmo ganhando ao Hezbollah, essa vitória não se traduz numa vitória política, sobretudo quando se bombardeia o Líbano a eito, como se o país de norte a sul fosse um feudo de terroristas. Esses Israelitas sabem bem que no rescaldo desta guerra o Hezbollah se reforçou em simpatizantes, militantes e activistas e mais cedo ou mais tarde tudo poderá recomeçar. Esta sim é a verdadeira vitória do Hezbollah. E este é um facto independente do sucesso ou insucesso da força internacional que será colocada no sul do Líbano. É isso que o texto de JPP deixa de fora, é de certa forma um erro semelhante ao que se está a pagar no Iraque.
Reparos à forma como JPP analisa o papel da França no conflito
JPP postula que a vitória de Israel vai depender "do modo como for aplicada a resolução da ONU, em particular do modo como for constituída a força internacional que controlará o sul do Líbano e o modo como esta actuará". Isto é quase sinónimo de afirmar que se tudo correr bem a vitória será mais da França do que Israel, se for a França o país responsável pela força da ONU. Eu sei que JPP não queria ir tão longe, mas é onde o seu raciocínio nos leva.
Depois vale a pena analisar este parágrafo:
"...pode ser uma rara oportunidade para a França (e por interposta França para a UE) assumir um papel positivo na região, onde só tem tido um papel muito negativo, em particular pelas ambiguidades da sua política face ao conflito iraquiano."
Os Franceses e todos os que estão minimamente atentos às manobras internacionais que pretendem fazer da União Europeia um cão de companhia dos EUA, sabem que o sul do Líbano poderá ser aproveitado para preparar uma armadilha à França. Não será difícil fazê-lo, o historial de terrorismo dos EUA no Líbano é reputado - no caso do Líbano o sentido da palavra é realmente adequado, os EUA organizaram atentados à bomba que mataram dezenas de civis nos anos 80. Por isso quando se refere "por interposta França para a UE" está-se a dizer duas coisas: 1) o fracasso de um país membro, é o fracasso de toda a UE. O que levanta uma pergunta: o fracasso do Reino Unido ou da Polónia no Iraque serão também um fracasso da UE? 2) a política externa francesa é igual à da UE. O que é falso, infelizmente. Não seria uma política perfeita mas seria bem melhor do que a actual política da UE.
Finalmente, quando JPP refere que a França "só tem tido um papel muito negativo" na região "pelas ambiguidades da sua política face ao conflito iraquiano", JPP está a falar para os devotos da religião USA, para a tribuna dos fanáticos, tenho a certeza que o próprio JPP não acredita no que escreveu. Se não seria muito estranho que os países da região sugerissem a França para formar a força da ONU. Porque é que os ingleses e os americanos não vão para lá? Não é por problemas logísticos, certamente. Sabemos o que aconteceria: Iraque II.
QUEM “GANHOU” A GUERRA ENTRE ISRAEL E O HEZBOLLAH?
A minha resposta é: Israel ganhou todas as guerras em que participou até hoje, inclusive esta. E se nos lembrarmos bem, no passado Israel ganhou guerras de uma forma ainda mais categórica do que desta vez. E qual é o resultado dessas vitórias militares? Será que se traduziram sempre em vitórias políticas? Não, claro que não. A experiência mostra que ganhar guerras naquela região do mundo não basta e isso já muita gente neste planeta percebeu, inclusive em Israel. Os protestos em Israel contra a intervenção no Líbano não são tanto contra os ataques ao Hezbollah ou contra os danos colaterais, os protestos surgem porque aqueles israelitas, que conseguem manter o sangue frio para fazer uma leitura política moderada, sabem que mesmo ganhando ao Hezbollah, essa vitória não se traduz numa vitória política, sobretudo quando se bombardeia o Líbano a eito, como se o país de norte a sul fosse um feudo de terroristas. Esses Israelitas sabem bem que no rescaldo desta guerra o Hezbollah se reforçou em simpatizantes, militantes e activistas e mais cedo ou mais tarde tudo poderá recomeçar. Esta sim é a verdadeira vitória do Hezbollah. E este é um facto independente do sucesso ou insucesso da força internacional que será colocada no sul do Líbano. É isso que o texto de JPP deixa de fora, é de certa forma um erro semelhante ao que se está a pagar no Iraque.
Reparos à forma como JPP analisa o papel da França no conflito
JPP postula que a vitória de Israel vai depender "do modo como for aplicada a resolução da ONU, em particular do modo como for constituída a força internacional que controlará o sul do Líbano e o modo como esta actuará". Isto é quase sinónimo de afirmar que se tudo correr bem a vitória será mais da França do que Israel, se for a França o país responsável pela força da ONU. Eu sei que JPP não queria ir tão longe, mas é onde o seu raciocínio nos leva.
Depois vale a pena analisar este parágrafo:
"...pode ser uma rara oportunidade para a França (e por interposta França para a UE) assumir um papel positivo na região, onde só tem tido um papel muito negativo, em particular pelas ambiguidades da sua política face ao conflito iraquiano."
Os Franceses e todos os que estão minimamente atentos às manobras internacionais que pretendem fazer da União Europeia um cão de companhia dos EUA, sabem que o sul do Líbano poderá ser aproveitado para preparar uma armadilha à França. Não será difícil fazê-lo, o historial de terrorismo dos EUA no Líbano é reputado - no caso do Líbano o sentido da palavra é realmente adequado, os EUA organizaram atentados à bomba que mataram dezenas de civis nos anos 80. Por isso quando se refere "por interposta França para a UE" está-se a dizer duas coisas: 1) o fracasso de um país membro, é o fracasso de toda a UE. O que levanta uma pergunta: o fracasso do Reino Unido ou da Polónia no Iraque serão também um fracasso da UE? 2) a política externa francesa é igual à da UE. O que é falso, infelizmente. Não seria uma política perfeita mas seria bem melhor do que a actual política da UE.
Finalmente, quando JPP refere que a França "só tem tido um papel muito negativo" na região "pelas ambiguidades da sua política face ao conflito iraquiano", JPP está a falar para os devotos da religião USA, para a tribuna dos fanáticos, tenho a certeza que o próprio JPP não acredita no que escreveu. Se não seria muito estranho que os países da região sugerissem a França para formar a força da ONU. Porque é que os ingleses e os americanos não vão para lá? Não é por problemas logísticos, certamente. Sabemos o que aconteceria: Iraque II.
sexta-feira, agosto 18, 2006
"Não espiamos os Sauditas. São nossos amigos"
Quem assistiu ao documentário "CIA, guerres secrètes" emitido pelo canal ARTE (pode ser adquirido aqui em DVD ou aqui em VOD) e ouviu as declarações de dezenas de ex-agentes da CIA e do FBI percebeu claramente dois factos relevantes que condicionaram fortemente a política americana de combate ao terrorismo nos últimos anos:
1- A ligação entre a Administração Bush e a família real Saudita.
Ainda antes do 11 de Setembro, mas depois de elementos da CIA descobrirem que o atentado de 1993 na garagem do World Trade Center tinha sido financiado pela família real Saudita, bem como outras tentativas e planos de atentados nos EUA, a resposta da administração Bush foi: "Não espiamos os sauditas. São nossos amigos". Relembro que na altura os EUA espiavam fortemente os seus "amigos" europeus, por exemplo tentando benificiar os negócios em que a Boeing competia com a Airbus (aqui a lista de empresas europeias que foram objecto de espionagem, secção 10.7).
Obviamente, todos nos perguntamos porque é que a família real saudita não é considerada terrorista, tal como a Al-Qaeda, o Irão, a Síria, o Hamas, o Hezbollah e Saddam. O problema é que tal como explicaram estes ex-agentes a Administração Bush está enterrada até às orelhas em petróleo saudita: Bush pai, Bush filho, Cheney e muitas das outras figurinhas secundárias de extrema-direita desta Administração. Todos estiveram ou estão envolvidos em negociatas envolvendo empresas petrolíferas com ligações a financiamento de campanhas e negócios de armas. Podemos pois concluir que só são considerados terroristas aqueles que não fazem negócios com a Administração Bush.
2 - A degradação dramática da CIA após o fim da Guerra Fria.
Os ex-agentes da CIA e da FBI foram unânimes na forte degradação que sofreram as respectivas agências depois do fim da Guerra Fria. A informação não circulava entre as duas agências, Clinton não simpatizava muito com os serviços secretos e a velha rivalidade entre a CIA e o FBI ainda piorava as coisas. Não é de estranhar que o aviso de que o 11 de Setembro estava a ser preparado tenha vindo de fora, de outros serviços secretos: da Alemanha, da França, do Egipto e de Israel. Por exemplo o dossier de Zacarias Moussaoui que os serviços secretos franceses transmitiram à delegação do FBI em Paris no início de 2001 nunca chegou às mãos do FBI nos EUA.
Nota sobre Vasco Graça Moura
Quem viu este excelente documentário ficou suficientemente informado para perceber que este artigo de Vasco Graça Moura é um chorrilho de asneiras de uma ponta à outra, não se aproveita nada.
1- A ligação entre a Administração Bush e a família real Saudita.
Ainda antes do 11 de Setembro, mas depois de elementos da CIA descobrirem que o atentado de 1993 na garagem do World Trade Center tinha sido financiado pela família real Saudita, bem como outras tentativas e planos de atentados nos EUA, a resposta da administração Bush foi: "Não espiamos os sauditas. São nossos amigos". Relembro que na altura os EUA espiavam fortemente os seus "amigos" europeus, por exemplo tentando benificiar os negócios em que a Boeing competia com a Airbus (aqui a lista de empresas europeias que foram objecto de espionagem, secção 10.7).
Obviamente, todos nos perguntamos porque é que a família real saudita não é considerada terrorista, tal como a Al-Qaeda, o Irão, a Síria, o Hamas, o Hezbollah e Saddam. O problema é que tal como explicaram estes ex-agentes a Administração Bush está enterrada até às orelhas em petróleo saudita: Bush pai, Bush filho, Cheney e muitas das outras figurinhas secundárias de extrema-direita desta Administração. Todos estiveram ou estão envolvidos em negociatas envolvendo empresas petrolíferas com ligações a financiamento de campanhas e negócios de armas. Podemos pois concluir que só são considerados terroristas aqueles que não fazem negócios com a Administração Bush.
2 - A degradação dramática da CIA após o fim da Guerra Fria.
Os ex-agentes da CIA e da FBI foram unânimes na forte degradação que sofreram as respectivas agências depois do fim da Guerra Fria. A informação não circulava entre as duas agências, Clinton não simpatizava muito com os serviços secretos e a velha rivalidade entre a CIA e o FBI ainda piorava as coisas. Não é de estranhar que o aviso de que o 11 de Setembro estava a ser preparado tenha vindo de fora, de outros serviços secretos: da Alemanha, da França, do Egipto e de Israel. Por exemplo o dossier de Zacarias Moussaoui que os serviços secretos franceses transmitiram à delegação do FBI em Paris no início de 2001 nunca chegou às mãos do FBI nos EUA.
Nota sobre Vasco Graça Moura
Quem viu este excelente documentário ficou suficientemente informado para perceber que este artigo de Vasco Graça Moura é um chorrilho de asneiras de uma ponta à outra, não se aproveita nada.
quinta-feira, agosto 17, 2006
quarta-feira, agosto 16, 2006
Relembrando as tretas de V. G. Moura
V.G. Moura escreveu dia 2 de Agosto:
"A Europa não está em condições de se defender eficazmente contra o terrorismo. (...) Quando muito, a Europa consegue prevenir algumas acções e lá vai identificando e capturando ex-post uns responsáveis pelos atentados de Madrid e de Londres"
Bastaram 10 dias para a realidade liquidar as tretas que V.G. Moura vai escrevendo cronicamente sobre este assunto. Como já tinha referido antes, foi na Europa, ainda em 2000, que o primeiro atentado da Al-Qaeda foi desmantelado pelas polícias alemã e francesa em Estrasburgo. A probabilidade de V.G. Moura sofrer com o atentado de Estrasburgo estava longe de ser nula, visto que na altura já era eurodeputado e frequentava a cidade regularmente...
"A Europa não está em condições de se defender eficazmente contra o terrorismo. (...) Quando muito, a Europa consegue prevenir algumas acções e lá vai identificando e capturando ex-post uns responsáveis pelos atentados de Madrid e de Londres"
Bastaram 10 dias para a realidade liquidar as tretas que V.G. Moura vai escrevendo cronicamente sobre este assunto. Como já tinha referido antes, foi na Europa, ainda em 2000, que o primeiro atentado da Al-Qaeda foi desmantelado pelas polícias alemã e francesa em Estrasburgo. A probabilidade de V.G. Moura sofrer com o atentado de Estrasburgo estava longe de ser nula, visto que na altura já era eurodeputado e frequentava a cidade regularmente...
terça-feira, agosto 15, 2006
CIA guerres secrètes : no canal ARTE
A não perder o documentário "CIA: guerres secrètes", amanhã quarta-feira, no canal ARTE.
segunda-feira, agosto 14, 2006
Bons (mas raros) programas na RTP
Estas últimas semanas registei alguma boa programação na RTP, nomeadamente as séries Dresden e Tempestade, ambas alemãs, bem como uma série documentário sobre a corrida para espaço entre Korolev e Von Braun e uma interessante série sobre a emigração portuguesa. Julgo até, que esta série em vez de ser transmitida na Dois tarde e a más horas, deveria passar em horário nobre na RTP1 dada a importância da emigração na nossa história recente. Alguns portugueses muito incomodados com a recente vaga imigrantes chegados Portugal (cerca de 300 mil) ficariam certamente melhor informados sobre a dimensão da nossa emigração (cerca de 5 milhões de portugueses), sobre os distúrbios e problemas que originou nos países de acolhimento e sobre a componente fortemente ilegal da nosso tipo de emigração, especialmente para a França, a Suiça e a Alemanha.
quinta-feira, agosto 10, 2006
Viajar até Kourou sem sair de casa
Clicar aqui para viajar até à base da ESA de Kourou, na Guiana Francesa.
segunda-feira, agosto 07, 2006
Alinhamento de leitura de jornais
Com todo o tempo do mundo para ler, durante as últimas semanas alinhei assim as minhas leituras de jornais:
Segunda: DN
Terça: Público
Quarta: Público
Quinta: Público
Sexta: Correio Internacional
Sábado: DN
Houve um dia em que troquei o Público pelo DN, irritou-me o aproveitamento do Público da morte de Jorge de Brito para fazer a primeira página.
Segunda: DN
Terça: Público
Quarta: Público
Quinta: Público
Sexta: Correio Internacional
Sábado: DN
Houve um dia em que troquei o Público pelo DN, irritou-me o aproveitamento do Público da morte de Jorge de Brito para fazer a primeira página.
quinta-feira, agosto 03, 2006
A polícia alemã salvou o coiro de V.G. Moura e ele não sabe
No final do ano 2000 a polícia alemã em conjunto com a polícia francesa desmantelaram uma célula da Al Qaeda que se preparava para fazer um atentado no mercado de natal e na sinagoga de Estrasburgo locais habituais de passagem de eurodeputados, tal como V.G. Moura, na altura a cumprirem mandato no PE. O agradecimento do referido eurodeputado às polícias referidas é este.
quarta-feira, agosto 02, 2006
A angústia de um bloguista longe da internet
Longe da internet resta-me imaginar posts que nunca escreverei. Todos os dias passo largos minutos a escrevê-los e até a corrigi-los na minha RAM cerebral. Escrevo sobre um estudo trapalhão publicado no DN sobre o nuclear, sobre Israel e o Líbano, sobre a Maria João Pires, sobre bons livros cronicamente não traduzidos para português, sobre o caos urbanístico do Algarve, sobre as aldeias do litoral alentejano, ainda relativamente intactas, mas viradas de costas para o mar, preferindo o porco ao fresquíssimo peixe do atlântico, preferindo o alcatrão da estrada nacional à excepcional natureza da região, enfim sobre esta democracia Kitsch que é Portugal.
PS- Um grande abraço a todos os que piscaram o olho aos 3 anos da Klepsýdra.
PS- Um grande abraço a todos os que piscaram o olho aos 3 anos da Klepsýdra.
Subscrever:
Mensagens (Atom)