O caso da Ticha Penicheiro é mais um exemplo da cegueira machista que existe neste país. Com telejornais de uma hora onde 45 minutos são ocupados a falar do homem que obrigou a mulher a engolir o tanque da roupa e os restantes 15 minutos desportivos servem para falar dos treinos dos clubes de Lisboa e do Porto, claro que não sobra espaço para falar das grandes desportistas deste país. Desde que acabou o campeonato de futebol ainda é pior, os noticiários desportivos são preenchidos com jantaradas de "homens do Futebol", de bigode, a falar grosso e de gramática em riste. Nos EUA começou recentemente temporada da WNBA de 2005, a Ticha aparece constantemente nos vários spots de promoção do campeonato nas emissões desportivas...
A Ticha foi apenas por seis anos consecutivos a rainha das assistências da WNBA (de 1998 a 2003) e tem mais dois recordes da WNBA: maior número de roubo de bolas (10) e maior número de assistências (16) numa só partida. Durante anos teve lugar cativo nas 10 jogadas da semana da WNBA, semanas houve em que a Ticha tinha 3 ou 4 jogadas no top ten.
O caso da Ticha não é um caso que apareça do nada, por trás da Ticha está um grande homem, o seu pai João Penicheiro, que foi um dos melhores treinadores de basquete que conheci. Como frequentemente acontece neste país, os grandes génios são segregados, foi o que aconteceu ao pai da Ticha depois de duas temporadas nas categorias jovens em que batemos recordes que permaneceram até hoje. Na altura a Ticha acompanhava-nos aos treinos e aos jogos, era uma criancita como aquelas que andam sempre com a fralda atrás e a resmungar, mas Ticha em vez da fralda driblava uma bola quase do tamanho dela e vociferava jogadas imaginárias. Mais tarde, em jogos mistos que organizávamos nos campos das traseiras dos bairros figueirenses, a Ticha já trocava os olhos a nós, aos matulões, com assistências e passes impressionantes. Daí até à WNBA, a carreira da Ticha evoluiu como um foguete.
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