"Mulholland Drive" é um filme bastante estimulante cuja narrativa oferece várias soluções, embora eu considere que há soluções que são mais soluções do que outras. Para quem possui DVD, aconselho as dicas que vêm nos extras, mas aviso já que se corre o risco de aumentar o leque de soluções possíveis. Eu gosto particularmente daquela em que Betty imagina um doce "começar de novo" com Rita, com preliminares dignos de uma paixão violenta não correspondida e de horas de solidão passadas na pequena casa onde jaziam as melhores recordações.
"Mulholland Drive" é o filme de David Lynch que mais gozo me deu assistir, fez-me reconciliar com o realizador depois daquele engodo televisivo do "Twin Peaks", mas há um pequeno detalhe que não lhe perdoo. Não havia nexcessidade de despir Laura Harring...foi como receber um presente de aniversário desembrulhado. A onda do filme era a de dar asas à matéria cinzenta, e mesmo se não tem interesse nenhum para a narrativa, os fantasmas que muitos espectadores construíram durante o filme ao contemplar a actriz mexicana na tela evaporaram-se por completo perante a exibição do seu corpo despido.
Excepção cultural francesa no cinema americano
"Mulholland Drive" é um filme francês realizado pelo americano David Lynch. Tal como muitos realizadores americanos, David Lynch tem recorrido a fundos franceses para não ficar refém das imposições moralistas e estritamente comerciais do cinema produzido em Hollywood. Desde o referendo francês que houve uma reedição do anti-francesismo militante e a excepção cultural francesa incomoda muita gente. É apresentada como uma espécie de egoísmo francês, mas a verdade é que a excepção cultural francesa tem ajudado a lançar cinema, música e literatura de todo mundo, em dezenas de línguas diferentes. Por exemplo, a grande edição de música africana é realizada em França. O cinema europeu tem sido fortemente dinamizado pela França e Portugal é um dos grandes beneficiários. Têm sido frequentes os filmes portugueses financiados por empresas francesas e pelo estado francês. Nos últimos anos, os franceses têm servido de abono família ao cinema americano mais incómodo, como o cinema de David Lynch.
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