Sempre que surgem ondas de histeria anti-francesa lá vêm as críticas à excepção cultural francesa (quase sempre mal informadas). Ora o Reino Unido é talvez o país da Europa que tem mais excepções (culturais, económicas, sociais, políticas, etc.). Para quem aprecia a Europa da diversidade por contraponto à tacanhez da Europa das nações, as excpções britânicas são mais motivo de interesse do que de repulsa. Os ingleses conduzem do lado esquerdo, utilizam o sistema imperial de medida, preferem a libra ao euro, possuem uma câmara de Lords, não possuem constituição e professam uma religião nacional, o anglicanismo. Há muita gente no continente que se incomoda com isto, mas este é o Reino Unido que os britânicos querem, faz parte das suas opções legítimas. Este incómodo não é muito diferente dos que criticam a excepção cultural francesa, são irrelevantes tiques de provincianismo.
Uma das excepções inglesas que já não têm muita piada é a relação com a Escócia e a Irlanda do Norte, territórios nem sempre tratados como parceiros iguais do Reino, revelando certa política inglesa tiques colonialistas mal disfarçados.
Outra excepção é o "desconto para amigos" concedido pela CEE desde 1984 ao Reino Unido após uma birra de Margaret Thatcher, "I want my money back", disse ela. Segundo Thatcher o Reino Unido contribuia mais do que recebia para a CEE (o que é normal entre países ricos: Alemanha, França, Dinamarca, Holanda) e considerava que a PAC beneficiava mais a França (o que é verdade mas o Reino Unido não se pode queixar muito, principalmente a rainha, a maior beneficiária individual de fundos europeus até há bem pouco tempo). Desde então a contribuição do Reino Unido é feita abaixo da base de cálculo que rege toda a União Europeia (UE). As perspectivas financeiras que se discutem hoje em Bruxelas vão ser marcadas pelo protesto dos restantes 24 países europeus contra excepção britânica, o que faz sentido numa Europa a 25 que necessita de maior solidariedade. A chave para acabar com os privilégios britânicos talvez estivesse na cedência da França em relação aos benefícios que obtém dos fundos destinados à PAC, fundos esses que têm um peso excessivo dentro do orçamento da UE. O mais certo é prevalecer a atitude de marretas por parte da França e do Reino Unido, aquilo dá muitos votos a nível interno, mas perdem todos na UE.
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