De Coimbra, para variar, dou razão ao texto "Proibições e paternalismo" do Francisco do Aviz sobre o reitor da Universidade Católica que anda muito preocupado com a influência das discotecas nas prestações dos alunos.
Outra questão interessante a analisar é a de saber se a Católica é uma universidade exemplar no cumprimento das suas obrigações. Não basta apontar o dedo apenas aos alunos, devemos ser igualmente exigentes com os alunos e com a instituição. Qual é que tem sido o contributo de docentes, de investigadores e da direcção da Católica para o desenvolvimento da Universidade Portuguesa?
Tem sido fraco. Basta olhar para os resultados da recente classificação de universidades elaborada pela Universidade de Shangai Jiao Tong. A Católica sendo uma das universidades portuguesas mais antigas não aparece entre as cinco primeiras nacionais e é largamente ultrapassada por novas universidades públicas como a Universidade de Aveiro ou a Nova de Lisboa. Ao contrário das universidades privadas americanas que aparecem no topo da tabela, as privadas portuguesas têm uma produção científica paupérrima (refiro-me também às ciências humanas). O problema é que em geral as universidades privadas portuguesas estão mais preocupadas em rapar o máximo de dinheiro possível aos alunos do que produzir ciência, do que criar parcerias com empresas (nisto as públicas também são más) e de divulgar conhecimento à sociedade. Apesar da Universidade Católica ser um bocadinho melhor do que as outras privadas, os resultados mostram que a Católica é uma universidade um bocadinho cábula. Será que a direcção da Católica e os docentes que deveriam produzir ciência andam distraídos nas discotecas e andam com medo de encontrar por lá os alunos? Ou será que vão demasiado à missa? Ou será ainda que ficam em casa mas passam o tempo a ver o lixo transmitido pela TVI, a televisão criada pelos mesmos mentores da Católica, um verdadeiro mimo de cultura, disciplina e rigor?
Acabar o curso no tempo regulamentar
Aqui também dou razão ao Francisco. Apesar de estarmos longe do clima de há 30 ou 40 anos em que havia numerosos avôs a frequentar as universidades, filhos de boas famílias e que se podiam permitir esse luxo, hoje ainda encontramos aqui e ali umas lendas desculpabilizantes para abrandar o esforço de estudo. No entanto, advirto que não sou um adepto de uma universidade com um formato rígido de escola primária, em que os meninos andam em "fila indiana" do primeiro ao último ano, acho que a universidade deve estar preparada para ser uma instituição flexível e o mais aberta possível à sociedade (empresas, trabalhadores e pessoas licenciadas em reciclagem de conhecimento), mas sendo uma instituição de todos defendo que deve haver regras (ex: número limite de chumbos a cada disciplina) em nome do respeito que merecem todos aqueles que ficam de fora e dos contribuintes que financiam a universidade. Infelizmente, constatei que existe uma lenda que circula com sucesso entre um certo meio estudantil com tiques estalinistas que confunde comportamentos ociosos burgueses com o livre pensamento produtivo e dinâmico. Essa lenda é a de um estudante muito inteligente e esclarecido (imaginem assim uma aura dourada à volta da cabeça) que é tão bom tão bom que só tira notas altíssimas, mas como se interessa por outras coisas nobres da vida só faz uma ou duas cadeiras por ano. Portanto é um modelo a seguir, porque não estuda muito mas quando estuda só tira 19. O problema é que o modelo só é invocado para desculpar o número de cadeiras que se fazem por ano, a parte relativa às boas notas é esquecida porque dá muito trabalho. Este mítico Super-Estudante que inspira muitas cabeças cheias de mofo merecia sem dúvida uma revista da Marvel, se possível desenhada pelo Stan Lee!
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