Durante o processo de inspecções do Iraque lideradas por Hans Blix existiu uma constante pressão da administração Bush para montar um cenário de uma suposta ameaça apocalíptica da parte do Iraque sobre o mundo ocidental, os EUA e Israel em particular. Esse cenário em que supostamente armas de destruição em massa (ADM) estariam prontas a ser disparadas em 45 minutos nunca foi verificado por qualquer observação dos inspectores no Iraque liderados por Hans Blix, nem pelos melhores especialistas mundiais de ADM (Departamento de Energia dos EUA, DE; Institute for Science and International Security, ISIS; e Agência Internacional de Energia Atómica, AIEA). Por outro lado a tentativa de montar um cenário apocalíptico por parte dos EUA e do Reino Unido não é uma simples opinião política, essa tentativa foi bem real, está documentada e registada e ironicamente acabou por obter resultados em países em que existe um défice de consciência crítica e de falta de rigor dos políticos em assuntos de carácter científico, como em Portugal.
Hans Blix no seu livro "Irak, les armes introuvables" descreve com detalhe e de uma forma muito fundamentada as ilusões que a propaganda americana e britânica impingiram ao mundo com algum sucesso. Depois do anúncio da comissão americana de inspecções de armamento no Iraque de que não existiam ADM, todos os argumentos apresentados pela administração Bush parecem hoje particularmente ridículos e falsos. No entanto convém recordar os argumentos que sustentaram a existência de ADM no Iraque, para que não caiam no esquecimento:
1- Uma ogiva para explosivos de fragmentação para mísseis de curto alcance encontrada numa sucata de uma fábrica encerrada e decadente. Supostamente serviria para espalhar agentes químicos. Não foi encontrado qualquer vestígio de agentes químicos ou biológico na ferrugem dos restos da ogiva.
2- Um drone com um raio de acção de controlo a partir do solo de 8 km, cuja capacidade de carga útil era inferior a 20 kg. Supostamente serviria para espalhar agentes químicos. Com uma carga útil de 20 kg e um raio de controlo de 8 km deveria ser para matar pássaros na periferia de Bagdad...
3- Tubos de alumínio para enriquecimento de urânio por centrifugação - Foram comprados ilegalmente, mas serviam para a construção de foguetes. O DE e AIEA declararam vezes sem conta que aqueles tubos não serviam para as centrifugadoras. Um dos inspectores americanos depois intervenção no Iraque sugeriu que fossem utilizados em canalizações...
4- "Yellow stone" ou urânio natural supostamente importados pelo Iraque ao Niger é um material cuja utilização em armas nucleares requer um tratamento industrial complexo que a caduca indústria Iraquiana nunca poderia executar. O mais engraçado, é que a suposta importação de "yellow stone" por parte do Iraque é baseada num recibo apresentado pela administração americana e que se provou ser uma falsificação. A administração Bush declarou mais tarde que "alguém" falsificou esse recibo, eles só o tinham apresentado. Nunca se soube quem era esse "alguém". É outra forma de dizer "não sei quem FUI"...
5- Os famosos camiões de armas biológicas apresentados por Powell na ONU, como se veio a confirmar no fim da guerra, eram camiões de transporte de hidrogénio utilizados em balões meteorológicos de alta altitude. Já assisti a um lançamento de um balão a hidrogénio desse tipo e posso garantir que é algo de muito corrente o facto do enchimento ser feito por camiões. Mas o pior de toda esta história é que a ISIS, os especialistas em armas biológicas dos EUA, da Rússia e do Iraque disseram que aquela acusação só revelava uma ignorância tremenda dos serviços secretos britânicos. É que todos os especialistas em armas biológicas, inclusive os Iraquianos, consideravam a opção de utilização de camiões como uma opção perigosíssima, pois basta um pequeno acidente de trânsito para provocar uma catástrofe. O calor que se faz sentir no Iraque torna impraticável a utilização de laboratórios móveis que pudessem funcionar a uma temperatura aceitável sem adulterar os agentes biológicos.
Quase todas estas informações eram conhecidas antes da intervenção, mesmo assim avançou-se para o Iraque sob o pretexto das ADM. O cúmulo do propagandismo americano foi quando Condoleza Rice algumas semanas antes da intervenção no Iraque declarou: "as pessoas só vão dar razão aos EUA quando virem um cogumelo nuclear [produzido pelo Iraque]". Isto depois da AIEA, do DE dos EUA e da ISIS terem dado como finalizadas as inspecções de armas nucleares e como encerrado o programa nuclear Iraquiano...
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