Para Durão Barroso é melhor mesmo sair de fininho adiando a votação dos comissários. O Parlamento Europeu de facto não é o Parlamento Português onde passa qualquer lixo retrógrado sob pretextos tão edificantes como ser contra o "politicamente correcto", que é agora o argumento da moda em Portugal. Ser contra o "politicamente correcto" é a mãe e o pai de toda a fundamentação política, é o equivalente na política à praga que graça na expressão oral portuguesa de começar todas as frases por "é assim". É um puro vício de argumentação.
Em Portugal nas questões mais modernas, nós somos "politicamente incorrectos" em quase tudo, depois fazemos tudo mal, andamos sempre a correr atrás da Europa, repetimos os erros que foram corrigidos noutros países há 30 ou 40 anos. Mas agora andam aí uns comentadores de peito feito que à falta de melhor argumentação política fazem uso da mais profunda esperteza saloia portuguesa e com desprezo sacam frequentemente do argumento: "ah, isso é o politicamente correcto". É uma espécie de rajada de vento argumentativa, uma mão cheia de nada, mas que vai resultando em Portugal. O problema é que em ambientes internacionais como o Parlamento Europeu, que é constituído por países onde o nível educacional das pessoas é bem acima do português, a retórica duvidosa do xico-esperto Portuga ou latino, como é o caso do sr. Buttiglione, não pega. E ainda bem que não pega.
É por isso é que a direita do sul da Europa é tão diferente da direita do norte da Europa. No norte da Europa a direita é ecologista, dá valor à cultura, à ciência, à liberdade religiosa, etc. No sul da Europa, a nossa direita que se diverte numa cruzada contra o fantasma do "politicamente correcto" faz tudo ao contrário: está-se nas tintas para a ecologia, para a cultura, não separam a igreja do estado, consideram secundários a higiene, a saúde e a segurança no trabalho, etc.
Por isso considero que o passo atrás de hoje de Durão Barroso foi uma victória do norte da Europa sobre o sul. Uma vitória do rigor e da educação sobre a balda, a ignorância e as vacuidades contra o "políticamente correcto". Muito mais isto do que uma vitória da esquerda sobre a direita. É que na Europa do norte a direita não manda a mulher para a cozinha!
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