Foi com alguma tristeza que li grandes declarações de amor a Ronald Reagan por parte de uma série de blogues de direita que tenho em boa conta. Algumas delas, da parte de pessoas que acho interessantes e que sabem discutir política sem descerem ao nível da lama. Leio-os e aprendo com eles. E sobretudo não os gozo, como fazem alguns blogues da esquerda, quando escrevem coisas de que não gostamos.
Ora, algumas dessas pessoas de direita recentemente condenaram com grande fervor simpatias de alguma esquerda em relação à ETA. E fizeram-no com razão. O que eu acho estranho é algumas dessas pessoas virem agora escrever grandes textos de apreço a uma pessoa como Ronald Reagan. Ronald Reagan é talvez o presidente de um regime democrático que mais sangue tem a escorrer-lhe das mãos. E já nem conto aqui com as milhentas guerras civis que fomentou com a ajuda da ex-URSS, como o caso de Angola. Refiro-me a regimes criminosos que apoiou abertamente, nomeadamente os regimes: filipino, chileno, indonésio e argentino. Destaco o seu apoio a Saddam na guerra contra o Irão. Refiro-me ainda ao seu apoio a grupos sanguinários que nada tinham de libertação, como os Contras da Nicarágua e os Talibãs do Afeganistão. Os crimes executados pelos Contras contam-se entre os mais horrendos do planeta Terra. Os Talibãs ergueram apenas a pior ditadura de que há memória nos últimos 50 anos. As consequências do apoio de Reagan aos Talibãs, reflectem-se ainda hoje na dimensão que ganhou a Al-Qaeda. Ilustro as minhas palavras com um excerto do último livro de Robert Clarke:
The overall covert action program expanded greatly in Reagan's second term. Unclassified studies show that it grew from $35 million in 1982 to $600 million in 1987. With few exceptions, the funds bought matériel that was given to Afghan fighters by Pakistan's intelligence service.
"Against All Enemies", Richard Clarke, Free Press, 2004, pag. 50.
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