Na sua edição de Dezembro a revista Ler dedica uma secção a escritores não traduzidos para português, na sequência de mais um Nobel da Literatura atribuído a um escritor praticamente desprezado pelas nossas editoras. Preparava-me para acrescentar Beigbeder a essa lista, quando descubro que há 10 anos atrás a Editorial Presença publicou o original 99 Francs com o título "14,99€ - A Outra Face da Moeda". O seu estilo auto-ficcional, libertino e intelectual é lido e traduzido nos países balticos, Rússia e na conservadora Turquia. A sua obra já deu origem a dois filmes, o novíssimo "L'amour dure trois ans" e o espirituoso "99 Francs" com Jean Dujardin. Mas Frédéric Beigbeder apresenta alguns inconvenientes para os nossos editores: não é marialvista, não escreve sobre sopas de peixe com leite de mamas, não se leva a sério e goza a fundo consigo mesmo (esta o macho luso não perdoa). É pena, passa-nos ao lado a prosa de um escritor que descreve intencionalmente o seu tempo, que vive a fundo o seu tempo, que gosta do seu tempo, que descreve o mundanismo dos nossos dias, uma espécie de Balzac do século XXI, enfim um escritor que daqui a 200 anos será apreciado por transmitir um retrato fiel das vivências da nossa geração.
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