Como se de um romance se tratasse, em "Meltdown Iceland", Roger Boyes (Bloomsbury, 2009) conta-nos a história da ascensão meteórica e queda da Islândia. Essa história está intimamente ligada à do primeiro-ministro que mais tempo esteve em funções (de 1991 a 2004): David Oddsson. Em 1984, aquando de um debate televisivo com a participação de Milton Friedman, Oddsson teve uma revelação divina: a modernidade passava pelas políticas de Reagan e Thatcher.
Nos anos 80, a Islândia era uma sociedade socialista que investia fortemente na saúde e na educação, a taxa de mortalidade infantil era das mais baixas do mundo, bem como o número de habitantes por médico, o nível educacional era dos mais elevados do planeta e o mercado de trabalho andava próximo do pleno emprego. Estavam criadas as condições para que uma nova geração mais ambiciosa desse início a uma festa rija ao som do trio: Friedman, Thatcher e Reagan. Assim que chega ao poder, Oddsson privatiza tudo o que pode. Quem tinha dinheiro e estava no sítio certo na hora certa, independentemente de ser incompetente ou charlatão, partia com um avanço esmagador e dominador num horizonte de décadas. Estávamos em 1991. Formam-se logo nessa altura as primeiras máfias económicas e os primeiros monopólios perversos, graças à ausência de critérios para as privatizações. Uma política de estado mínimo avessa a intervir no sector privado e a desregulação radical dos mercados transformou a Islândia da noite para o dia. Em pouco tempo, o objectivo principal de pescadores e agricultores era apostar nos mercados sobre o sucesso ou falhanço da sua própria produção. Os objectivos das actividades em si passaram para um plano secundário. A banca expandiu-se para lá da ilha, contraindo dívida atrás de dívida, compravam-se lojas de luxo em Londres, cadeias de supermercados na Dinamarca e instituições financeiras na Holanda. Os jovens licenciados em gestão tinham emprego imediato na banca, onde começavam a receber avultados bónus ao fim de pouco mais de um mês de trabalho.
A Islândia era uma ilha resplandecente banhada por um mar de rosas. A Islândia maravilhava Harvard, o país crescia cerca de 7% ao ano, a Moody's mantinha a notação do país sempre lá em cima, os banqueiros liam a Arte da Guerra de Sun Tzu tomando-se por guerreiros vikings dos tempos modernos e mais importante que tudo os reguladores dormiam com os banqueiros - Oddsson foi governador do Banco da Islândia a partir de 2004.
Os três principais bancos islandeses endividaram-se cerca de 8 vezes o PIB da Islândia, muito para lá da capacidade de resposta do Banco da Islândia. Quando os credores britânicos pediram o seu dinheiro de volta, orgulhosa e arrogantemente o governo islandês do partido de Oddsson respondeu que só garantia os depósitos dos islandeses. Ironicamente, o governo britânico accionou de imediato uma lei anti-terrorismo aprovada a pensar nos movimentos financeiros da Al-Qaeda, para congelar todos os bens da banca islandesa no Reino Unido. Abriu-se o alçapão e a Islândia mergulhou no vazio. A política anti-União Europeia, a aposta numa moeda nacional sem dimensão para jogar no mercado global (vários artigos especializados alertaram a Islândia para esse risco) deixou a Islândia isolada no meio do Atlântico, Reagan, Thatcher ou Friedman já tinham saído de cena, sem aliados, sem estruturas económicas a quem pedir auxílio, a Islândia bateu no fundo. Nas últimas páginas, Roger Boyes descreve um país em vésperas das eleições de 2009, em estado de choque, com uma dívida per capita de 400 milhões de dólares, ou seja cada família comportava uma dívida média de 1,6 mil milhões de dólares. Boyes descreve um zombie económico a viver de esmolas da Rússia, à mercê da caridade de banqueiros russos manhosos.
Nos anos 80, a Islândia era uma sociedade socialista que investia fortemente na saúde e na educação, a taxa de mortalidade infantil era das mais baixas do mundo, bem como o número de habitantes por médico, o nível educacional era dos mais elevados do planeta e o mercado de trabalho andava próximo do pleno emprego. Estavam criadas as condições para que uma nova geração mais ambiciosa desse início a uma festa rija ao som do trio: Friedman, Thatcher e Reagan. Assim que chega ao poder, Oddsson privatiza tudo o que pode. Quem tinha dinheiro e estava no sítio certo na hora certa, independentemente de ser incompetente ou charlatão, partia com um avanço esmagador e dominador num horizonte de décadas. Estávamos em 1991. Formam-se logo nessa altura as primeiras máfias económicas e os primeiros monopólios perversos, graças à ausência de critérios para as privatizações. Uma política de estado mínimo avessa a intervir no sector privado e a desregulação radical dos mercados transformou a Islândia da noite para o dia. Em pouco tempo, o objectivo principal de pescadores e agricultores era apostar nos mercados sobre o sucesso ou falhanço da sua própria produção. Os objectivos das actividades em si passaram para um plano secundário. A banca expandiu-se para lá da ilha, contraindo dívida atrás de dívida, compravam-se lojas de luxo em Londres, cadeias de supermercados na Dinamarca e instituições financeiras na Holanda. Os jovens licenciados em gestão tinham emprego imediato na banca, onde começavam a receber avultados bónus ao fim de pouco mais de um mês de trabalho.
A Islândia era uma ilha resplandecente banhada por um mar de rosas. A Islândia maravilhava Harvard, o país crescia cerca de 7% ao ano, a Moody's mantinha a notação do país sempre lá em cima, os banqueiros liam a Arte da Guerra de Sun Tzu tomando-se por guerreiros vikings dos tempos modernos e mais importante que tudo os reguladores dormiam com os banqueiros - Oddsson foi governador do Banco da Islândia a partir de 2004.
Os três principais bancos islandeses endividaram-se cerca de 8 vezes o PIB da Islândia, muito para lá da capacidade de resposta do Banco da Islândia. Quando os credores britânicos pediram o seu dinheiro de volta, orgulhosa e arrogantemente o governo islandês do partido de Oddsson respondeu que só garantia os depósitos dos islandeses. Ironicamente, o governo britânico accionou de imediato uma lei anti-terrorismo aprovada a pensar nos movimentos financeiros da Al-Qaeda, para congelar todos os bens da banca islandesa no Reino Unido. Abriu-se o alçapão e a Islândia mergulhou no vazio. A política anti-União Europeia, a aposta numa moeda nacional sem dimensão para jogar no mercado global (vários artigos especializados alertaram a Islândia para esse risco) deixou a Islândia isolada no meio do Atlântico, Reagan, Thatcher ou Friedman já tinham saído de cena, sem aliados, sem estruturas económicas a quem pedir auxílio, a Islândia bateu no fundo. Nas últimas páginas, Roger Boyes descreve um país em vésperas das eleições de 2009, em estado de choque, com uma dívida per capita de 400 milhões de dólares, ou seja cada família comportava uma dívida média de 1,6 mil milhões de dólares. Boyes descreve um zombie económico a viver de esmolas da Rússia, à mercê da caridade de banqueiros russos manhosos.
Lê-se no cartaz: David (Oddsson) Bin Laden.
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