Georges Charpak (Nobel da Física em 92) e Roland Omnès são autores do livro de título irónico "Sede Sábios, Tornai-vos Profetas". Este livro surge na sequência de "Feiticeiros e Cientistas", uma publicação conjunta entre Charpak e Henri Broch, onde ensina o leitor a identificar através da matemática, da estatística e da lógica, os truques e as artimanhas de astrólogos e de outros charlatães. Neste "Sede Sábios, Tornai-vos Profetas", Charpak parte da história da conhecimento e do método científico para analisar a relação da filosofia e da religião com a ciência. Charpak analisa a resposta da filosofia e da religião aos novos desafios colocados pela física moderna, pelo afastamento das leis da natureza da intuição humana e pela transcendência da dimensão humana quando analisamos a imensidade do universo ou quando estudamos partículas sub-atómicas.
Charpak analisa as reflexões de Hume, de Kant e de Nietzsche sobre a ciência. Curiosamente, apesar de estar entre os que mais rapidamente a percebem a importância do método científico, Nietzsche é um dos primeiros a contestar o desenvolvimento da teoria atómica realizada por Dalton e Thompson e critica fortemente o darwinismo. Mais tarde, a aceitação da mecânica quântica sofreu grande resistência de filósofos que deram valiosos contributos para clarificar o significado do conhecimento da científico como Russell, Husserl ou Wittgenstein. Charpak dedica uma secção a Heidegger onde transcreve algumas passagens obscuras que revelam um considerável afastamento entre a sua filosofia e a ciência.
Nesta obra pouco divulgada entre nós, Charpak lança algumas pistas que poderão ajudar a perceber o que está na origem de alguns dos casos de pseudo-ciência apontados por Boghossian na obra recomendada pela Palmira Silva, que já está na minha lista de próximas aquisições.
1 comentário:
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