segunda-feira, julho 02, 2007

O pão nosso de cada dia



"Our daily bread" de Nikolaus Geyrhalter é uma sucessão de imagens sobre a produção agrícola e pecuária em massa praticada em vários países europeus que não deixa indiferente o espectador. Ao longo dos 80 minutos de filme somos interpelados sobre a nossa forma de produzir, de consumir e de trabalhar no sector primário na Europa. Depois de "Our daily bread", a ida a um supermercado é certamente encarada de outra forma. É impossível ficar indiferente a tomates e legumes produzidos em massa sem qualquer contacto com a natureza, criados em estufas de cimento, onde cada tomateiro é depositado sobre um extracto de fibra carbónica. Também não se fica indiferente ao nascimento, vida e morte de porcos e de frangos, em clausura absoluta em fábricas onde pintos são projectados de estrado para estrado rolante formando compactos jactos amarelos como se de milho se tratasse e onde são simulados dois dias e duas noites, durante as 24 horas de um dia, recorrendo à iluminação artificial.

Será que vale a pena este tipo de produção massificada, num continente com problemas de produção excedentária? A nossa qualidade de vida é ameaçada em que medida pelo desaparecimento do sabor genuíno dos alimentos, pela ausência de contacto com a natureza e pela utilização em massa de pesticidas? Será que devemos tratar os animais desta forma cínica e cruel, chegando ao ponto de lhes trocar as voltas dos dias e das noites para que cresçam rapidamente? Quais são as consequências sociais do trabalho praticado nestas explorações, um trabalho mal pago, deprimente, desumanizado e por vezes no limite da escravidão? Vale a pena esta alienação da produção para termos os supermercados cheios de produtos baratos, mas sem sabor e com qualidade nutritiva duvidosa, para depois queimarmos quantidades industriais de excedentes?

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