quarta-feira, abril 26, 2006

Os erros de Chernobyl


O Reactor 4 alguns dias depois do acidente (foto Chernobyl International)

O acidente que ocorreu em Chernobyl deveu-se a um acumular de negligências e de erros que começaram logo pela construção da própria central. Se a central tivesse sido construída de acordo com os planos, se o mesmo acidente se tivesse produzido o reactor teria cessado o seu funcionamento sem ser precisa qualquer intervenção humana. Mas o reactor n°4 nunca funcionou bem e funcionava continuamente em sub-regime.

Ironicamente o acidente produziu-se após um teste ao reactor que visava determinar a resposta dos sistemas a um corte de energia. A equipa responsável pela segurança da central nem sequer sabia que o teste ia ser realizado. Se o teste tivesse sido feito na presença dos responsáveis dos sistemas de segurança o acidente seria facilmente evitado. O problema é que estávamos em plena decadência da União Soviética, época em que o tráfico de influências e em que as amizades e os ódios estavam acima de qualquer ética. A União Soviética tinha dos melhores técnicos e engenheiros nucleares do mundo, era líder em várias áreas da tecnologia e da teoria nuclear (tal como ainda hoje o é a Rússia), mas a falta de dinheiro e a sobreposição da lógica do Partido sobre a lógica do mérito fizeram com que em Chernobyl se tenham concentrado uma série de indivíduos que no meio científico se costumam apelidar de nulidades. Estas nulidades também deram o seu valioso contributo para a catástrofe.
Outro factor importante para que a catástrofe tivesse acontecido foi o excesso de confiança. A lei do segredo que reinava nos programas nucleares soviético e americano impedia que não apenas um país desconhecesse os acidentes que ocorriam no outro, como dentro do próprio país qualquer acidente por pequeno que fosse era prontamente abafado. Assim, os engenheiros soviéticos não tinham qualquer informação dos problemas que iam acontecendo nas outras centrais, o que para todos os efeitos representava uma estatística de acidentes enganadora e próxima de zero. Criou-se deste modo um mito de segurança das centrais que ajudou a cultivar o excesso de confiança e o desleixo.

No dia 26 de Abril de 1986 cerca da uma e meia da manhã, na sequência do teste ao reactor 4 de Chernobyl, uma fuga num tubo do líquido de arrefecimento provocou um sobreaquecimento que estoirou os tubos que continham o combustível nuclear. Este material extremamente quente ao entrar em contacto com a água do circuito de arrefecimento produziu instantaneamente uma quantidade brutal de vapor, originando uma explosão que fez ir pelos ares as 1000 toneladas da cúpula do reactor. Faço notar que não houve qualquer explosão nuclear em Chernobyl. Pelo buraco resultante da explosão foram expelidos o combustível nuclear do reactor e a grafite que servia de moderador, ambos altamente radioactivos e que foram os responsáveis pela contaminação provocada pelo acidente.

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