Alguma da angústia adicional que senti ao ver o filme foi causada pelo sentimento de tudo aquilo me ser muito próximo, não pelo contexto geográfico ou pela cultura hutu ou tutsi que me são distantes, mas pela contemporaneidade. A tragédia do Ruanda ocorreu em 1994. Enquanto decorria a matança estava eu em Itália como estudante Erasmus num ambiente de antítese completa à xenofobia assassina que dizimava o Ruanda. Lembro-me como se fosse hoje, quem me chamou a atenção para a notícia no jornal que denunciava a tragédia, foi um colega alemão. À roda da mesa em que me encontrava perfazíamos umas 6 ou 7 nacionalidades diferentes, divertíamo-nos a escrever um dicionário de palavrões em todas as línguas...
O que torna esta matança entre Hutus e Tutsis ainda mais mórbida é que a distinção entre os dois povos é mais artificial do que real. Essa distinção teve origem durante o período colonial belga, período durante o qual estes se divertiram a separar os povos dos grandes lagos segundo características puramente físicas. Os Tutsis foram escolhidos entre os mais dotados fisicamente segundo os belgas, sendo classificados como raça superior e os Hutus como uma raça inferior que precisava de ser liderada.
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Do ponto de vista técnico, "Hotel Ruanda" é um filme com um formato clássico, produzido sem grandes meios. Os actores não foram muito ajudados pela errada escolha da língua inglesa para todos os diálogos do filme. Já começo a ter pouca pachorra para ver filmes em que Romanos, Árabes, Japoneses e Mexicanos falam inglês entre si. Um dos maiores atentados a que assisti ultimamente foi a série "Napoleão" e a série "Casanova" que a RTP teve a brilhante ideia de passar na versão inglesa em vez de passar na versão original. Os diálogos foram dizimados. Em Hotel Ruanda, fiquei com a mesma sensação. Diálogos que poderiam ter sido interessantes falados em francês, em kinyarwanda ou em swahili foram dizimados pela simplicidade do inglês. Seria para vender? A Paixão de Cristo também vendeu falada em latim, hebreu e aramaico.
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