Entre os díspares NÃO franceses, o que mais pode reclamar vitória é o NÃO de parte do PS, de parte dos Verdes, da LCR e da Lutte Ouvrière. Os discursos da Europa das Nações de Le Pen, de De Villiers e de um punhado de neo-liberais não atraiu mais eleitores à causa do NÃO, eram os mesmos de sempre. Esse NÃO de esquerda que ganhou adeptos nas últimas semanas, foi o NÃO que exigia uma "Europa mais social". Apesar de ser de esquerda devo dizer que nunca simpatizei com este discurso, acho-o mal informado e algo populista. Não tenhamos ilusões, Fabius (PS) e Besancenot (LCR) são um autêntico deserto de ideias sobre a Europa, muitos dos seus assuntos de campanha eram provincianos e sem interesse para os não franceses, era um discurso essencialmente para a paróquia gaulesa.
Pedir à Europa apenas para ser mais social, é pedir muito pouco. Convém realçar que apesar de não ser nenhuma perfeição, a Europa de hoje quando comparada com outras regiões do mundo é um espaço geográfico mais ecológico, com mais qualidade de vida, mais sensível às mulheres, mais respeitadora da espiritualidade e da religião, mais sensível à sexualidade e muito mais do que apenas uma Europa Social. Com ou sem Tratado, a Europa deve continuar esta tradição, se não deixa de ser a Europa e passa a ser o Bobby do Tio Sam (Busca Bobby! Busca as armas no Iraque!). A esquerda tem obrigação de ser mais exigente, deve exigir mais das referidas saudáveis políticas em que é líder, mais Europa social obviamente, mas deve exigir sobretudo uma Europa mais defensora da diplomacia internacional, mais tecnológica, mais multicultural, mais aberta à imigração, mais científica e mais justa no mercado mundial em relação a parceiros mais fracos.
Não há nexcedidade de ficarmos histéricos
Ao contrário do que muitos defensores do SIM e do NÃO mais histéricos alegaram, não haverá nenhuma catástrofe se o Tratado Constitucional entrar ou não entrar em vigor. Qualitativamente a Europa deste Tratado muda pouco em relação à Europa depois do Tratado de Nice. Grosso modo a orientação política mantém-se. Agora, há que deixar os outros países que escolheram a via do referendo pronunciarem-se. Apesar do NÃO francês ser simbolicamente poderosíssimo, a França não é a UE. Mas existem já lições políticas a serem tiradas:
1- O pobre esforço da esmagadora maioria dos responsáveis políticos das instituições europeias para informar os cidadãos sobre o funcionamento da UE deveria ser alvo de uma severa reflexão. Talvez ensinando a UE na escola integrada numa disciplina de ciência política. Isto tudo não invalida o esforço individual que cada um deverá fazer no futuro para se informar.
2- Os referendos europeus deverão ser mais frequentes. Isso ajuda os eleitores a distinguir quando o seu voto é utilizado para o fim ao qual se destina o referendo da situação em que o seu voto é manipulado para fins de política interna. Além disso ajuda a limpar o debate político europeu de toxinas provincianas quando este é debatido por políticos nacionais.
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