Fui buscar a minha montada à oficina. O meu Rocinante azul estava doente, constipou-se, vêm as primeiras chuvas e já se sabe. Juntos percorremos mais de 100 mil quilómetros pelos trilhos da Europa. Vimos as praias de Zandvort, subimos aos Tatras, levámos uma multa injusta em Trenčin, espreitámos o Carnaval de Mainz, quisemos imitar Michele Vaillant no Grande Prémio de Paris e fizemos a caótica rotunda do Arco do Triunfo, fizemos Estrasburgo-Figueira três vezes, a última vez com a casa às costas, Praga, Bratislava, Munique, Estugarda, Eindhoven, Bruxelas, Bordéus, Gasteiz, Donostia, Salamanca, Vaduz, Zurique, Basileia, Freiburg e Viena viram-nos passar. Nunca me traiu. O seu coração alemão, o seu corpo catalão e a sua alma ibérica funcionaram sempre como um relógio, ele só me pedia palha e de vez em quando umas ferraduras novas. Ele hoje olhou-me com aqueles faróis tristes, como se estivesse adivinhar que em breve o irei trocar por outra montada mais jovem e fresca. Eu não quero pensar nisso.
Sábado em Coimbra XIII
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