Os dois artigos de Barreto sobre a educação publicados no Publico são mais um contributo para as velhas e cansadas opiniões que fazem a apologia do ensino no passado (ler artigo I e artigo II). Se olharmos para trás encontramos sempre este tipo de opiniões. Foi assim há 20 anos, foi assim há 40 anos, há 60, há 80, etc. O JPT do Ma-Schamba num dos comentários aos meus textos sobre este tipo de visão sobre a educação desabafa : "envelhecer custa imenso". Parece-me que o JPT anda muito próximo da verdade.
Confesso que os dois artigos de António Barreto são muito mais bem fundamentados do que o normal deste tipo de artigos (basta comparar com o medíocre artigo de Fátima Bonifácio). Barreto contextualiza historicamente os seus pontos de vista de uma forma muito interessante, mas na ânsia de passar um atestado de incompetência às novas gerações erra, e erra bastante!
Por agora, fico-me pela crítica a esta afirmação de Barreto: "Os progressos reais na educação, nas taxas de aproveitamento, nos níveis de conhecimento, nos graus de formação científica, cultural e profissional, não parecem proporcionais a tão relevante aumento da despesa nacional pública".
De facto os progressos não parecem proporcionais, porque nalguns domínios não são proporcionais são exponenciais, o que é bastante melhor. Na formação científica isso é mais do que óbvio (quase todos os gráficos de produção científica dos últimos anos são exponenciais). Na formação profissional, a mão-de-obra qualificada e o número de empresas contratadas por grandes empresas e instituições internacionais de renome (ESA, CERN, NASA, etc.) tem crescido a um ritmo impressionante e exponencial (consultar sítio da FCT). Nos níveis de conhecimento e de formação cultural Barreto também se engana (ler Jorge Paulinhos do BdE). Quanto às taxas de aproveitamento, considero um erro Barreto misturar este indicador com os restantes. Uma baixa taxa de aproveitamento tanto pode indiciar um grande grau de exigência de ensino como uma pobre formação dos alunos na preparação das provas. Se esta última conclusão é negativa, a primeira pode ser bastante positiva.
Como já tinha referido em textos anteriores sobre o ensino em Portugal, o nosso problema não é o investimento a mais, é sim o investimento a menos e sempre feito com algum atraso em relação aos outros países da Europa. O artigo de Carlos Fiolhais "O atraso português" publicado no Primeiro de Janeiro e no livro "A coisa mais preciosa que temos" não deixa dúvidas em relação ao problema do investimento no ensino. O que é pior no artigo de Barreto é este transmitir a ideia errada de que Portugal nos últimos anos investe acima dos valores investidos pelos países mais desenvolvidos. Essa ideia é desmentida pelos dados da "Education at Glance - 2004", apresentados pela OCDE, como relembra o próprio Jorge Paulinhos.
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