A situação de não pagamento de quotas já aqui descrita em relação ao European Southern Observatory (ESO) repete-se no caso do CERN. Enquanto o país anda anestesiado pelo futebol e pela novela Santana Lopes, a credibilidade científica de Portugal está a ir vertiginosamente pelo cano de esgoto abaixo. Todo o capital de confiança que os investigadores portugueses conquistaram a pulso, resultado após resultado, artigo após artigo, está neste momento a ser completamente desbaratado junto das grandes instituições internacionais científicas. Não é difícil imaginar um alemão do ESO ou um suíço do CERN a troçar das nossas proezas futebolísticas: "para isto é que eles têm jeito, agora fazer ciência a sério é para esquecer".
Quando fiz o meu doutoramento em Estrasburgo rapidamente percebi que os portugueses têm uma péssima reputação nos domínios da ciência e da tecnologia. Cheguei à conclusão que a melhor estratégia era apresentar resultados sempre acima das expectativas das pessoas que supervisionavam o meu trabalho de investigação para não ter problemas originados por ideias pré-concebidas sobre os portugueses. Fiz um esforço suplementar para tentar dar outra imagem dos portugueses. E correu bem. Durante a discussão da minha tese houve inclusivamente elogios ao esforço que Portugal estava a fazer para recuperar o atraso na produção científica (mal sabiam eles...). Como eu, muitos investigadores portugueses saíram do país e fizeram um esforço semelhante para mudar a imagem do país no estrangeiro. Muitos de nós regressámos a Portugal entusiasmados com a possibilidade de dar o nosso contributo para mudar a imagem do país. Neste momento eu e muitos colegas sentimos um desânimo profundo. O que está a acontecer é um pesadelo para quem fez um esforço suplementar para mudar as coisas. E há que referir que estávamos a conseguir, basta consultar as estatísticas de produção científica dos últimos anos. Agora fica a sensação que voltámos à estaca zero.
O pesadelo do não pagamento de quotas tem uma parte III, é a Agência Espacial Europeia. Neste caso temo que as sanções possam ser mais severas que o caso do ESO.
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