Depois da crise estalar, a reação nas urnas foi, grosso modo, a de castigar o boneco que estava no poder. Outra reação frequente foi votar no candidato-palhaço. Em Portugal tivemos essa versão em José Manuel Coelho sem grande sucesso, mas em Reiquiavique o palhaço ganhou e governa desde 2010. Depois houve a reação mais clássica que é votar na constelação de partidos ultra-conservadores e nacionalistas, partidos que não têm programa político a médio e a longo prazo, onde tudo se baseia na culpabilidade de uma certa faixa da população por todos os males do país (ciganos, desempregados, imigrantes, judeus, muçulmanos, etc.). Outro clássico é o discurso anti-políticos muito do agrado dos principais culpados da crise, setor financeiro e banca, para sacudir a água do capote. Foi deste discurso anti-políticos, por exemplo, que surgiu a Forza Italia de Berlusconi em meados dos anos 90, depois da operação Mãos Limpas. Eram todos maus e corruptos, exceto ele Berlusconi, aliás como o tempo veio a demonstrar...
Se recuarmos um pouquinho na máquina do tempo, até aos anos 30 do século XX, descobrimos o maravilhoso futuro que este cocktail de nacionalistas, palhaços e políticos anti-políticos reservou à Europa. Foi só a pior catástrofe de sempre. Nunca se destruiu tanto e nunca se morreu tanto na Europa em tão pouco tempo.
Durante as últimas décadas houve algumas famílias políticas que sempre se recusaram a compactuar com uma economia onde o estado e os cidadãos estivessem reféns dos mercados financeiros, que preferiam um modelo onde os mercados estivessem ao serviço dos cidadãos, das empresas e da qualidade de vida. E por isso foram frequentemente ostracizados.
Exemplos conhecidos são a família dos Verdes Europeus, esquerdas alternativas (a que pertence o BE e o Syriza), alguns partidos socialistas e sociais-democratas que não se deslumbraram com os mercados e, à direita, alguns partidos democratas-cristãos genuínos que não venderam a alma ao diabo. Estes partidos raramente governaram nas últimas décadas de devaneio financeiro, é natural.
Dada a gravidade da sua situação, a Islândia foi um dos primeiros casos em que os eleitores perceberam que era preciso escolher os que sempre se bateram contra o tipo de economia que destruiu o país e elegeram a Aliança Social Democrata (partido da família do BE). Em toda a Europa, partidos desta mesma família esquerdista e europeísta (a favor do euro e de mais integração) como o Front de Gauche em França, o Syriza na Grécia, o Partido Socialista na Holanda e partidos da família dos Verdes estão a aumentar consideravelmente a sua representatividade. Os Verdes já governam em Baden-Württemberg. Na Holanda e na Grécia tudo indica que estes partidos poderão discutir a vitória nas próximas eleições. Se forem governo não é garantido que os respetivos países se transformem num mar de rosas, mas uma coisa é certa, os mercados por muito que lhes custe vão começar a trabalhar mais ao serviço do Estado, dos cidadãos, das empresas e dos produtores. A expressão da vontade de mudança dos gregos, aderindo massivamente ao Syriza, é de louvar. O mais fácil seria exprimir a vontade de mudança aderindo aos nacionalismos, aos populismos anti-políticos e aos palhaços cujo programa político é nulo a médio e a longo prazo e que só iria agravar o caso das gerações seguintes. A escolha dos gregos pelo Syriza até poderá revelar-se uma desilusão, mas por muito má que seja essa desilusão esta escolha comportará consigo sempre mais futuro e mais esperança para as próximas gerações do que todas as outras opões, aliás já mais do que batidas.
Boa sorte Syriza!
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