Nos anos 60, um engenheiro da República Democrática da Alemanha foi
apresentar a um salão internacional de eletrodomésticos uma lâmpada que
segundo o próprio não se fundia. Orgulhoso da sua invenção, o engenheiro
alemão estranhou a falta de interesse que a invenção despertou entre os
seus concorrentes. Um deles chamou-o à parte e disse-lhe que se
comercializasse essa lâmpada nos EUA todos iriam perder uma margem
considerável de lucro. Desde 1925 que os principais fabricantes de
lâmpadas (Phoebus, Osram, Philips, e General Electric) tinham chegado a
um acordo para estabelecer uma longevidade de 1000 horas em vez da média
de 2500 horas que eram registadas nos testes.
A longevidade programada de eletrodomésticos e aparelhos eletrónicos
não é um problema de hoje, mas está a tomar proporções sem precedentes à
medida que aumenta o número de multinacionais que aderem à filosofia de
produtos não reparáveis associados a esquemas em que é estabelecido
propositadamente um tempo de vida limitado a um componente basilar de
funcionamento do aparelho. Empresas como a Epson e a Apple foram
recentemente objeto de denúncias públicas significativas deste tipo de
práticas. A Epson começou a equipar impressoras onde um dos chips que
controlava a execução da impressão era programado de raiz para funcionar
até às 18000 cópias. A partir desse número, o software da impressora deixa de transmitir a ordem de impressão (vale a pena ler a desculpa da Epson).
No caso da Apple, desde 2003 telefones e leitores de música começaram a
ser equipados com baterias integradas de curta longevidade (cerca de
dois anos) que não permitem uma substituição trivial.
Um grupo de admiradores dos produtos Apple e de ex-trabalhadores da
empresa, desiludidos com a política da longevidade programada criaram a empresa iFixit dedicada
à reparação de eletrodomésticos e aparelhos eletrónicos objeto de
longevidade programada. No seu sítio explicam como reparar em casa
alguns desses aparelhos.
Podemos descobrir aí os métodos perversos da Apple para impedir a
substituição das baterias (colas, parafusos incompatíveis com as chaves
de fendas, armadilhas mecânicas), obrigando o cliente a dirigir-se às
lojas Apple para resolver o problema onde os custos da substituição da
bateria são de cerca de 70% do valor do produto. Na prática o cliente é
forçado a trocar o seu modelo pelo novo modelo lançado no mercado. Como
resultado de protestos, processos em tribunal e do ativismo de variados grupos de cidadãos, a Apple começou a alterar alguma da sua política de longevidade programada.
Entretanto, em Livermore, Califórnia, no quartel dos bombeiros locais existe uma lâmpada acesa em contínuo desde 1901 (na foto).
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