Publicado no portal Esquerda.net. O futuro do telescópio James Webb, o telescópio espacial que deverá substituir o telescópio Hubble, foi posto em causa por uma proposta de cancelamento da missão elaborada pelo comité responsável pela execução financeira da Câmara dos Representantes dos EUA. No entanto, esta decisão deverá ainda passar pelo voto da Câmara dos Representantes cuja maioria é republicana e pelo voto do Senado onde a maioria é democrata.
O James Webb é um projecto comum da ESA, da NASA e da Agência Espacial Canadiana. Do ponto de vista científico será o telescópio espacial mais importante para a astronomia e a astrofísica nas próximas décadas e o substituto do actual telescópio Hubble.
O referido comité, onde a direita tem a maioria, justificou a decisão pelos elevados custos do projecto relembrando as actuais condicionantes orçamentais dos EUA para combater a crise da dívida. Estes argumentos foram denunciados pelo movimento Defend Science que evocou os gastos com os sistemas de ar condicionado utilizados no Afeganistão e no Iraque superiores a 20 mil milhões de dólares por ano, a cargo do contribuinte americano. A poupança que significaria o cancelamento do James Webb seria cerca de 1,6 mil milhões de dólares, para um custo total de cerca de 6,5 mil milhões - três quartos desta verba foi já implementada no projecto.
No entanto, frequentemente a direita americana tem tomado posições niilistas em relação à ciência realizada pelo telescópio Hubble, em particular as descobertas relativas ao Big Bang. Os sectores mais ortodoxos do Partido Republicano continuam a fazer pressão para que o criacionismo seja a explicação exclusiva da origem do Universo. Obviamente, para estes sectores o telescópio James Webb poderá realizar muitas descobertas inconvenientes, dado que entre os principais objectivos desta missão estão a observação dos primeiros objectos celestes formados após o Big Bang, a observação da formação de galáxias, do nascimento de estrelas, de sistemas protoplanetários e o estudo da origem da vida. Não seria de estranhar que a argumentação economicista seja apenas uma justificação de fachada para alimentar a cruzada contra a ciência dos sectores mais ortodoxos da direita americana.