sexta-feira, julho 29, 2011

Como assanhar fanáticos II

O Ricardo Alves tem razão ao interpelar nesta entrada o Blasfémias sobre os atentados na Noruega. Relembremos que no Blasfémias também se fez futurismo à moda de Breivik nesta entrada, por exemplo, onde se representa o seguinte mapa:




Estou com um dilema futurista. Será que vamos ser todos pulverizados já para o ano pela Maldição Maia de 2012 ou seremos invadidos pelos mouros em 2015?
A memória é muito curta e esquece-se que há 100 anos, as "vítimas" deste mapa da treta de 2015 eram os "invasores" deste mapa que ainda não passou completamente à história:

terça-feira, julho 26, 2011

Como assanhar fanáticos

Até poderia ser uma das muitas passagens futurista do manifesto de Breivik, mas não, o texto abaixo transcrito foi publicado por Vasco Graça Moura na edição do Diário de Notícias de 19 de Fevereiro de 2003, na ressaca do voto do Parlamento Europeu contra a intervenção americana no Iraque.
O mais irónico é que neste texto os EUA são retratados em 2033 como a última reserva de branquitude, de cristianismo e de pureza onomástica. Abençoado Hussein Obama.


Europa, 17 de Fevereiro de 2033

Paris. O presidente Moustapha Ahmed Ibn Dupont aprovou várias medidas de apoio à alta costura francesa para a promoção do chador no mundo. Os oculistas protestam e afirmam que os óculos é que dão mais valor às mulheres, quando elas só mostram os olhos. No Centre Pompidou abriu uma exposição pós-pós-moderna de sapatos acumulados à entrada de Notre-Dame. Um crítico de arte imprudente que falou de souliers de Satan foi defenestrado por blasfémia do alto de um minarete em Montparnasse. Só depois se verificou tratar-se de uma gralha tipográfica. O revisor responsável foi lapidado.

Berlim. O chanceler Abdul Klaus von Rundfunk interditou a Nona Sinfonia de Beethoven em audições públicas ou privadas. A simples detenção de partituras ou discos implicará o corte das orelhas dos prevaricadores. Vai ser intensificada a investigação sobre tecnologia dos altos fornos. Altos responsáveis desmentem quaisquer preocupações étnicas na matéria.

Bruxelas. O rei Babadur-al-Alrun de Hohenlohe convocou o primeiro-ministro Abu-Akhbar Desfôrets e o ministro francófono Hassan Ibn Cocasse com vista à preparação de mais uma acção de sensibilização da opinião pública contra a separação entre a religião e o estado, uma vez que ou o estado se conforma com os preceitos da religião e é dispensável, ou diverge deles e é nefasto. O aiatola Eustache Ibn Gamal, reitor da Universidade Aladdin de Lovaina, falou do “eixo do mel” na abertura do seminário internacional sobre o papel da apicultura intensiva na redução do choque das civilizações. Confirma-se o achado de documentação relativa à extinta União Europeia num bunker da Rue de la Loi: foi nomeada uma comissão de expurgo, presidida pelo ministro flamengo Mohamed van der Roeckwaerts.

Vaticano. O papa Omar I relatou pormenorizadamente ao colégio dos cardeais a sua última peregrinação a Meca, explicando as razões atendíveis por que não foi autorizado a entrar no santuário. Foi aprovada a substituição do tratamento de “Sua Santidade” pelo de “Sua Obediência” e a exportação de vacinas de água-benta para os territórios em que ainda se detecte a presença do vírus da varíola, em consequência da última jihad de libertação da Europa, ocorrida há 30 anos. O consistório, como prova de boa vontade e tolerância, mandou revestir os frescos da Capela Sixtina com azulejos sobrantes da casa de banho de um dos palácios de Saddam Hussein.

Córdova. O rei Tarik II incumbiu o conde Julian Al-Barabi de Mora y Moro das obras de construção da nova e esplendorosa capital da Ibéria. O mulá Osama Extchgandiarra manifestou a sua preferência por Bilbao para sede do califado.

Lisboa. O ministro da educação, Sheik Al-Nefzaouí da Silva Pimentel, declarou não valer a pena mandar queimar Os Lusíadas pelo seu teor anti-islâmico, uma vez que a obra está fora do mercado e completamente esquecida. Mantém-se todavia a sanção do arrancamento dos olhos para quem os ler. Yassib Neca, presidente do F. C. da Merdaleja, denunciou como “cão infiel” o Dr. Samir Getúlio, presidente da Liga de Clubes. O Dr. Samir recolheu ao Aljube. Depois da remoção das vinhas, o vale do Douro vai passar a produzir sémola em socalcos, com vista à exportação de cuscus. Figuras da meiga esquerda lusitana foram condecoradas a título póstumo com a Ordem do Crescente Suave, por serviços prestados à causa de Bagdad.

Washington. O secretário de Estado da Defesa, John K. Merrywhistler, resumiu em quatro palavras a posição do seu país quanto à presente situação da Europa: “Let them fuck themselves”.

Vasco Graça Moura

Telescópio James Webb ameaçado pela direita americana

Publicado no portal Esquerda.net.

O futuro do telescópio James Webb, o telescópio espacial que deverá substituir o telescópio Hubble, foi posto em causa por uma proposta de cancelamento da missão elaborada pelo comité responsável pela execução financeira da Câmara dos Representantes dos EUA. No entanto, esta decisão deverá ainda passar pelo voto da Câmara dos Representantes cuja maioria é republicana e pelo voto do Senado onde a maioria é democrata.

O James Webb é um projecto comum da ESA, da NASA e da Agência Espacial Canadiana. Do ponto de vista científico será o telescópio espacial mais importante para a astronomia e a astrofísica nas próximas décadas e o substituto do actual telescópio Hubble.

O referido comité, onde a direita tem a maioria, justificou a decisão pelos elevados custos do projecto relembrando as actuais condicionantes orçamentais dos EUA para combater a crise da dívida. Estes argumentos foram denunciados pelo movimento Defend Science que evocou os gastos com os sistemas de ar condicionado utilizados no Afeganistão e no Iraque superiores a 20 mil milhões de dólares por ano, a cargo do contribuinte americano. A poupança que significaria o cancelamento do James Webb seria cerca de 1,6 mil milhões de dólares, para um custo total de cerca de 6,5 mil milhões - três quartos desta verba foi já implementada no projecto.

No entanto, frequentemente a direita americana tem tomado posições niilistas em relação à ciência realizada pelo telescópio Hubble, em particular as descobertas relativas ao Big Bang. Os sectores mais ortodoxos do Partido Republicano continuam a fazer pressão para que o criacionismo seja a explicação exclusiva da origem do Universo. Obviamente, para estes sectores o telescópio James Webb poderá realizar muitas descobertas inconvenientes, dado que entre os principais objectivos desta missão estão a observação dos primeiros objectos celestes formados após o Big Bang, a observação da formação de galáxias, do nascimento de estrelas, de sistemas protoplanetários e o estudo da origem da vida. Não seria de estranhar que a argumentação economicista seja apenas uma justificação de fachada para alimentar a cruzada contra a ciência dos sectores mais ortodoxos da direita americana.

segunda-feira, julho 25, 2011

Entregues aos Jotinhas

É deprimente constatar que ser Jotinha é um dos principais critérios para se ser líder do PS e do PSD. É um critério que atrai incompetência. Arriscamo-nos, em tempo de crise, a ter o binómio primeiro-ministro e líder da oposição mais incompetente de sempre.

sexta-feira, julho 22, 2011

Reestruturação: o Bloco tinha razão

As decisões tomadas ontem durante a Cimeira Europeia configuram uma reestruturação das dívidas da Grécia, Portugal e Irlanda, apesar de ser apenas uma reestruturaçãozinha, ainda tímida. Tal como escrevi nesta entrada sobre a reestruturação da dívida, o tempo iria dar razão ao Bloco.
Pena foram os meses perdidos a insistir em soluções de política de austeridade e aqui há uma grande dose de responsabilidade de Barroso e Van Rompuy. Quem pagou esta inacção foram os europeus através dos seus salários e dos seus empregos.

quinta-feira, julho 21, 2011

Juntem as claques todas do mundo



... e não chegam aos calcanhares desta coreografia dos agricultores do Loire-Atlantique (departamento 44).

Há 8 anos, como se fosse ontem



Há oito anos afixámos esta folha na blogosfera. Desde então, foi esticada ao longo de 2216 textos Mas ainda não estamos saciados, mais dois mil e depois mais mil e mil textos virão.
Este ano o Mestre de Cerimónias do nosso aniversário é Jean-Marc Généreux. Ele ofereceu-se e nós não ousámos recusar. Como é hábito, segue o programa da maluqueira.


2011 Klepsýdra Club Session

00.00-00.15 - Discurso de abertura de Jean-Marc Généreux intitulado: "Desde que leio a Klepsýdra danço o Jive com muito mais pinta".
00.15-00.45 - Warm Up - Se Hou
00.45-01.45 - Monika Kruse
01.45-02.45 - Armin Van Buuren
02.45-03.00 - Tom Craft Grand Warm Up - DJ Muxaxo
03.00-04.45 - Tom Craft
04.45-05.30 - Eric Morillo
05.30-06.00 - ATB
06.00-06.30 - Monsieur Philippe Corti

quarta-feira, julho 13, 2011

Sardanhada

Tendo escolhido este ano a Sardenha para carregar baterias dou-me com uma Itália a resvalar para o mesmo buraco onde caíram Portugal, Irlanda e Grécia. Com uma dívida pública de cerca de 130% do PIB, cerca de 40% mais do que Portugal mas com uma dívida privada e externa inferiores, a Itália pode ser a próxima vítima do liberalismo selvagem. Portugal é muito falado na TV Berlusconi (todos os canais disponíveis) após a despromoção atribuída pelas agências de notação, não passa despercebido o exemplo dos ultra-liberais portugueses que estão a provar do seu próprio veneno.
Mas o pior de tudo, é calma de Barroso e Van Rompuy perante a crise. Tenham dignidade e demitam-se.

Andy Schleck, obviamente

Acredito pouco em fábulas de bifes de vaca com hormonas consumidos num restaurante espanhol na Holanda, guardados em tupperwares que deixam os mesmos resíduos das embalagens de plástico de produtos dopantes.
Por isso quero ver nos Campos Elísios Andy Schleck de amarelo.

sexta-feira, julho 01, 2011

Peter Falk, o Columbo

Peter Falk foi Columbo naquela que é a minha série policial preferida, de longe, muito longe e foi também Columbo em "As Asas do Desejo", o meu filme preferido.

Curiosamente, a deliciosa personagem protagonizada por Peter Falk foi inspirada em Porfiry Petrovich, o detective de "Crime e Castigo" de Dostoiévski. Os autores da série inspiraram-se nas manhas de Petrovich, que se auto-desvalorizava e desvalorizava as perguntas dos interrogatórios a Raskólnikov, para no final aplicar uma ou duas questões que sobressaltavam o assassino de Aliona Ivanovna. Igualmente a estrutura do romance de Dostoiévski foi seguida em Columbo. Fica-se logo a saber quem e como assassinou, guardando-se todo o prazer para o descascar do crime e não para a revelação do criminoso. Depois, em Columbo, havia a gabardina (escolhida por Falk), o Peugeot 403, o cão e a mulher invisível de Columbo. Outro aspecto relevante da série era a afronta aos ricos e poderosos que se desenrolava durante a investigação, aquela gabardina e aquela personagem rapidamente gerava a cólera entre a aristocracia californiana. Em tempos de Guerra Fria, os autores revelaram uma coragem assinalável.