quinta-feira, julho 17, 2008

Bolonha sem carros

São 10 da noite, várias ruas do centro de Bolonha estão fechadas à circulação automóvel. Os restaurantes e os bares de vinhos instalaram as mesas em plena rua, disfarçando o traçado da estrada recorrendo a grandes vasos de plantas, tochas elegantes, sofás e pequenos palcos onde se toca música ao vivo. A rua parece viva, avisto famílias e grupos de amigos em amena cavaqueira, gesticulando obviamente, belas italianas abordadas por jovens impacientes, casais em cenas românticas e até um cantinho recatado destinado à leitura, ao qual adiro imediatamente.

Já lá vai o tempo da Bolonha atulhada de carros e motoretas, da Via Independenza negra do fumo dos tubos de escape. Ao contrário do que se fez em Portugal, o célebre dia sem carros, evoluiu para outras formas de restrição de circulação automóvel, inicialmente a restrição estava programada para certos dias da semana evoluindo progressivamente para a restrição completa do acesso ao centro excepto transportes públicos, velocípedes e das viaturas dos habitantes locais. Estamos a falar da cidade onde vive Luca di Montezemolo, o presidente da Fiat e da Ferrari.

Por cá continuamos quase há 10 anos na fase do dia sem carros, seguido de 364 dias sem cérebro. Aliás, o dia sem carros tem servido mais ao já habitual marialvismo anti-ecológico dos nossos cronistas mais provincianos, do que propriamente para preparar e reflectir sobre o futuro, esse futuro escasso em combustíveis fósseis. Continuam a construir-se viadutos caríssimos e túneis faraónicos que incitam a usar ainda mais o transporte individual, mas o pior é que quase toda a gente acha tudo isto normal...

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