Fui jantar a um estabelecimento da baixa coimbrã onde era proposto um menu a três euros e meio: sopa, prato e sobremesa. Li várias vezes "menu a três euros e meio". Para me certificar de não sei o quê, mudei de página e voltei à página inicial e continuava lá escrito "menu a três euros e meio". Quando chegou a empregada a minha escolha foi clara: "quero um menu a três euros e meio". Queria degustar o sabor da crise. A sopa, de legumes, foi o melhor do menu. Nalgumas tascas do norte da Europa poderia facilmente ser cobrada a três euros e meio. Escolhi salsicha com ovo estrelado, era a opção quatro. A opção um era omelete, a dois era um filete de frango e a terceira não me recordo. O acompanhamento era sempre o mesmo: batata frita e salada. Uma salsicha engelhada de lata (não era Nobre nem Izidoro, era pior) acompanhava um ovo borrachóide com a gema cozida. Era tudo mau no prato principal. A sobremesa era uma gelatina de fruta que poderia integrar sem problemas um menu a 5,99 € de uma cadeia de comida rápida ou que poderia ser vendida à peça na Disneylandia na Califórnia a dez dólares mais taxas.
No final daquele repasto que não foi muito delicado com o meu esófago e as minhas paredes intestinais, fiquei a pensar longamente no esforço de todos aqueles habitantes, transeuntes e trabalhadores da baixa cuja única opção para se manterem à tona é aquele menu a três euros e meio. Mas o meu pensamento foi também para a gente séria da banca e da finança, para aqueles voos de jato da empresa, Lisboa-Nova Iorque, para as senhoras dos gestores irem às compras e para os bravos corretores da City que depois de passarem uma árdua jornada de trabalho a carregar em botões onde se joga a sorte de trabalhadores mal pagos a milhares de quilómetros de Londres acabam o dia num clube hípico local fazendo apostas milionárias nas corridas.
No final daquele repasto que não foi muito delicado com o meu esófago e as minhas paredes intestinais, fiquei a pensar longamente no esforço de todos aqueles habitantes, transeuntes e trabalhadores da baixa cuja única opção para se manterem à tona é aquele menu a três euros e meio. Mas o meu pensamento foi também para a gente séria da banca e da finança, para aqueles voos de jato da empresa, Lisboa-Nova Iorque, para as senhoras dos gestores irem às compras e para os bravos corretores da City que depois de passarem uma árdua jornada de trabalho a carregar em botões onde se joga a sorte de trabalhadores mal pagos a milhares de quilómetros de Londres acabam o dia num clube hípico local fazendo apostas milionárias nas corridas.
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