quarta-feira, julho 28, 2004

O Sudão esquecido recordado por Lévy em 2001

Pouco depois do 11 de Setembro Bernard-Henri Lévy (BHL) lançou "Réflexions sur la Guerre, le Mal et la Fin de l´Histoire" que continha uma parte intitulada "les damnés de la guerre" dedicada ao que ele chamava os esquecidos da história. Entre os esquecidos da história estavam os Angolanos, os Sri-lanqueses, os Colombianos, os Ruandeses e os Sudaneses. Fiquei chocado com o que li na altura sobre o Sudão, com o esquecimento. Quando se começou a debater a urgência de intervir no Iraque em 2002 ouvi em Portugal não raras vezes pessoas informadas e com cargos políticos destacados a pintar o cenário no Iraque como se fosse o único problema humanitário do mundo, ignorando completamente as situações gravíssimas que BHL denunciou. A alguns destes políticos enviei pelos canais possíveis algumas notas em que referia esta situação do Sudão como uma situação muito mais urgente do que a do Iraque. Transcrevi parágrafos como estes do livro de BHL:

"...cette guerre, la plus ancienne du monde, qui a déjà fait deux millions de morts (davantage que la Bosnie, le Kosovo, le Rwanda réunis), quatre millions et demi de déplacés (trois Sud-Soudanais sur quatre)..."

"...la Greater Nile Petroleum Operating Company, le consortium regroupe la firme canadienne Talisman Energy, des intérêts chinois et malais ainsi que la compagnie nationale Sudapet. Et nous avons eu la confirmation de ce que les ONG, Amnesty International, le gouvernement canadien lui-même, soupçonnent depuis des années mais que nient farouchement les compagnies pétrolières et l'Etat. A savoir que le gouvernement "nettoie" systématiquement le terrain, dans un périmètre de 30, 50, parfois 100 km, autour des puits de pétrole; que la moindre concession pétrolière signifie des villages harcelés, bombardés, rasés, et des colonnes de pauvres gens chassés de chez eux..."

"Guerre oubliée ou cachée? (...) l'Occident des pétroliers ne porte-t-il pas, pour un coup, une responsabilité écrasante? (...) que l'on agisse avec ce pétrole-ci comme on l'a fait avec celui de Saddam Hussein, que l'on montre aussi déterminé..."

Os nossos políticos continuaram para bingo em relação a Saddam repetindo a propaganda de Rumsfeld e companhia - que hoje se sabe ser falsa - até ao dia da invasão do Iraque, ficando assim o Sudão no esquecimento absoluto em Portugal. Em França BHL bateu recordes de vendas com este livro contribuindo para uma maior maturidade da opinião pública francesa que mais tarde rejeitou e bem a intervenção no Iraque.

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