segunda-feira, julho 30, 2007

Armar o Médio Oriente até aos dentes

Os EUA continuam a encher de armas uma das mais sinistras ditaduras do mundo: a Arábia Saudita (já aqui escrevi que a Arábia Saudita faz parte do top ten mundial de orçamentos militares). 20 mil milhões de dólares em armas é o que consta nos contratos que envolvem ainda outros regimes ditatoriais e teocráticos: Emiratos Árabes Unidos, Kuwait, Qatar, Bahrein e Omã.

A notícia gerou protestos em Israel, que na minha opinião são absolutamente compreensíveis. Se perguntarem a um Saudita contra quem aquelas armas deveriam ser utilizadas ou a um Israelita para adivinhar para onde elas serão apontadas a resposta é a mesma: Israel. Para compensar o governo americano decidiu aumentar a ajuda militar a Israel para 3 mil milhões de dólares por ano... Estão a ver o mesmo filme que eu, não estão? Assim que forem assinados os contratos, a cotação das acções das empresas americanas produtoras de armas terão todas as condições para subir tipo Amstrong no Col do Turini. À próxima escaramuça que venha a acontecer no Médio Oriente adivinha-se um saudável incremento de vendas de casa com piscina e de carros de luxo aos investidores e aos quadros das empresas de armamento envolvidas no negócio.

É este o verdadeiro modo de vida que Bush deseja exportar para o Médio Oriente, é o fanatismo religioso de basooka ao ombro ao serviço do ultraliberalismo económico. Exportar democracia não produz adrenalina nos mercados, nem pó para os narizes dos investidores das bolsas.

American Taliban

Recomendado por Richard Dawkins, American Taliban é uma recolha de gloriosas citações pronunciadas pelos maiores fanáticos religiosos americanos. A minha preferida é a de James Watt, Secretário de Estado da administração Reagan:

"We don't have to protect the environment, the Second Coming is at hand"

Para quem não sabe: Second Coming é segunda aparição de Cristo na Terra, que ocorrerá quando o mundo estiver para acabar, obviamente...

domingo, julho 29, 2007

Segurança da Portela

Enquanto estive ausente, o acidente aéreo de São Paulo veio ilustrar da pior maneira tudo o que aqui escrevi sobre a Portela. Qualquer estudo sobre a continuidade da Portela que não contemple um detalhado e rigoroso estudo sobre a segurança (cálculo de riscos, quem assume a responsabilidade em caso de acidente, indemnização de vítimas, etc.) pode ir directamente para o lixo.

quinta-feira, julho 26, 2007

Delos

De onde escrevo avisto Delos. A ilha sagrada onde nasceu Apolo.
Fecho os olhos e mergulho no mar Egeu.
Assim que venho 'a tona avisto uma frota de naus helenicas.
Salto para dentro da nau de Aquiles, de Ajax e de Ulisses de grande prudencia.
Garanto que Aquiles nao se parece minimamente com o Brad Pitt!
Nao sei para onde rumam estas velozes naus, mas nao e' para Troia, dizem-me.
A unica certeza que tenho e' que no fim da viagem retornaremos a Itaka.
Ao chegarmos faremos generosas oferendas aos deuses,
o vinho sera preparado em grandes crateras, libaremos ao Olimpo,
enquanto arvores inteiras serao queimadas em soberbas fogueiras,
os maiores animais da ilha serao sacrificados pelo fogo e partilhados por todos,
trataremos mal as mulheres e trocaremos escravos por anforas cheias de vinho,
e' assim a Grecia antiga...

sábado, julho 21, 2007

4 anos, sempre a mesma febre

A Klepsydra faz hoje 4 anos. A febre mantem-se, como se de o primeiro dia se tratasse. Estes 4 anos nao seriam 4 anos se nao organizasse, com algo atraso, a habitual festa:

Abertura solene

00.00-00.15 - Discurso de Spike Lee, Mestre de Cerimónias das comemorações deste ano, intitulado: "No Harlem, a febre da Klepsydra vende-se na tabacaria do Turturro, vai para 4 anos!" .

Klepsydra Club Session

00.15-00.45 - Warm Up - Monika Kruse
00.45-01.45 - Kuffdam & Plant
01.45-02.45 - David Morales
02.45-03.00 - Jeff Mills Warm Up - DJ Muxaxo
03.00-04.45 - Jeff Mills
04.45-05.30 - DJ Guga
05.30-06.00 - Expander DJ
06.00-06.30 - Monsieur Philippe Corti

quinta-feira, julho 12, 2007

Bolseira descobre água fora do sistema solar

Ler aqui a grande descoberta de Giovanna Tinetti, uma bolseira da ESA no Institute d’Astrophysique de Paris. Tinetti descobriu evidências da existência de água no exoplaneta HD 189733b (ao lado representação artística da ESA), que se encontra a 63 anos-luz do nosso sistema solar, na constelação Vulpecula, a partir dos dados do Telescópio Espacial Spitzer da NASA.

Esta descoberta suscita-me as seguintes questões: para quando a primeira Universidade com um reitor bolseiro? para quando juízes bolseiros a julgar nos tribunais? para quando generais do exército bolseiros? para quando um primeiro-ministro bolseiro ou um presidente da república a recibos verdes?...

quarta-feira, julho 11, 2007

Ideologia neoconservadora contra a ciência

Há uns meses escrevi este texto para o blogue Cinco Dias em que dava conta da ofensiva neoconservadora contra a ciência em várias frentes negacionistas: do aquecimento global, do big-bang e do darwinismo. No mesmo texto dei conta da publicação do novo livro de Richard Dawkins, "The God Delusion", mal eu sabia que o próprio Dawkins descrevia quase nos mesmos termos a origem destas ofensivas à ciência:

"In parts of the United States, science is under attack from well-organized, politically well-connected and, above all, well-financed opposition, and the teaching of evolution is in the front line trench."
"The God Delusion", Richard Dawkins, Bantam Press, 2006, pag. 66.

terça-feira, julho 10, 2007

O futuro sem petróleo

A ler o ensaio "O futuro sem petróleo" do capitão Armando Dias Correia publicado pelo Paulo Querido.

A escassez do petróleo colocará uma série de desafios importantes a médio prazo. No sector do transporte aéreo, por exemplo, já se discute na UE sobre a possibilidade de limitar o número de voos para distâncias inferiores a 1000 km, substituindo o avião pelo transporte ferroviário de alta velocidade, que tem ainda a vantagem de ser menos poluente e de ser mais rápido numa grande parte dos percursos de curta distância. O eldorado dos voos de baixo custo está também a ser posto em causa, dado que o turismo de fim de semana em que se fazem dois mil quilómetros a uma sexta-feira para ir a uma praia ou visitar uma cidade para se voltar na segunda-feira seguinte ao trabalho, não é sustentável do ponto de vista ambiental.

O pão nosso de cada dia (caixa de comentários)

O direito ao contraditório do meu leitor que assina sob o nome de Lowlander à entrada "O pão nosso de cada dia":

1 - Qualidade nutritiva. Com que base e que o Rui afirma existir alguma diferenca na qualidade nutritiva dos animais produzidos em intensivo dos outros? E essencial nao confundir diferentes pontos da cadeia alimentar. Os problemas nutricionais actualmente existentes nas populacoes sao consequencias do processamento terciario de alimentos (que ocorre nas cozinhas) e nao da materia prima em si.

2 - Sabor. Mais uma vez, nao esta demonstrado convenientemente. Se comparar melhores praticas com melhores praticas de producao entre diferentes sistemas de producao e colocar consumidores de olhos vendados a testar produtos nao sao detectadas diferencas.

3 - Custo/beneficio da producao intensiva na sociedade Ocidental. Caro Rui, a producao intensiva de alimentos comecou com a revolucao industrial na agricultura e chegou a pecuaria na Europa e EUA no principio do sec. XX. Os beneficios sao indiscutiveis: o cidadao medio actual gasta menos de 10% do seu rendimento disponivel na sua alimentacao enquanto que no incio do sec. essa figura andava na casa dos 30 ou 40%. O que isto significa e que sobram recursos para as pessoas se poderem dedicar a outras actividades. A sociedade pos-industrial que actualmente procura a qualidade de vida so se pode debrucar sobre tais temas porque nao tem outras preocupacoes em mente.
Todos os indicadores que avaliam bem-estar de uma sociedade indicam claros progressos DESDE a intrudocao da agro-industria intensiva. Nao foram os avancos da medicina que impulsionaram a melhoria da qualidade de vida das sociedades, eles intensificaram tendencias ja instaladas. Os primers foram a industrializacao e massificacao da producao de todos os bens de consumo essencias entre os quais e notavelmente os bens alimentares.
Concordo que o sistema induza desperdicio e excedente, no entanto, com o sistema economico actualmente em vigor, a unica forma de voce garantir as classes medias alimentos acessiveis e portanto libertar recursos para se poderem dedicar a ouras actividades e precisamente inundando o mercado.

Os sistemas de producao intensivos devem ser regulados e enquadrados. Isto e perfeitamente possivel e desejavel, as politicas da Uniao Europeia sao prova disso mesmo. No entanto esta onda de odio, ressentimento ou desdem, nao sei bem que actualmente se faz sentir em relacao aos alimentos produzidos em larga escala e mais demonstracao de ignorancia que de avanco civilizacional e pior que isso, completamente irrealista nos seus objectivos.


Caríssimo Lowlander, obviamente que estas questões não são lineares, as coisas não são a preto e branco, por isso me preocupei mais em colocar questões do que dar respostas. Alguns especialistas na área pronunciam-se de uma forma muito negativa neste trabalho ,"We feed the world", sobre a qualidade nutritiva e o sabor dos alimentos. Quanto ao ponto 3, são conhecidos todos esses milagres da revolução agrícola e industrial e eu não estou contra esses avanços, o que eu pergunto é se esses "milagres" não estão a ir longe demais e a tornar-se absurdos tendo em conta as reais necessidades de consumo, tal como aconteceu com a PAC. O objectivo inicial da PAC era acabar com a escassez de produção na Europa do pós-guerra. Esse objectivo foi rapidamente atingido, mas a PAC nos dias de hoje é obsoleta e prejudicial sobretudo para muitos produtores fora do espaço europeu.
Quanto à regulação e enquadramento, estou totalmente de acordo.

domingo, julho 08, 2007

Londres de Camisola Amarela

Em dia de final de Wimbledon e de Grande Prémio de Inglaterra, os ingleses aderiram em massa ao Tour do velho rival (foto BBC, AP). Ao longo dos 200 km da etapa de hoje, os ingleses formaram um cordão humano nas estradas percorridas pelo Tour, como é raro ver-se em França. O entusiasmo chegou ao ponto de se organizar um passeio de bicicleta em que todos os participantes vestiam de camisola amarela. Esta é uma amostra da Europa espontânea que interage intensamente há décadas, que emigra, que viaja, que pratica sem preconceitos o comércio, a ciência, o lazer e a cultura juntamente com os outros povos. Esta Europa tem muito pouco a ver com a visão da Europa pintada pelo que resta das elites nacionalistas europeias, bem fechadas nas suas minúsculas capelinhas nacionais, sempre prontas a fomentar a desconfiança e o cinismo entre os povos. Algumas dos nossos cronistas anti-europeístas nunca entenderão estes novos tempos de fusão de culturas, um certo provincianismo crónico turva-lhes o raciocínio.

Ler relacionado: "A Babilónia Europeia" de Marta Rebelo no Cinco Dias.

sábado, julho 07, 2007

7 Novas Maravilhas

É preciso viajar muito, mesmo muito, para se poder votar com algum fundamento nas novas maravilhas do mundo, é preciso ver, tocar, sentir o ambiente e ler a história de cada monumento. Com uma grande margem de erro, aqui vão as minhas escolhas (*: as que vi):

Acrópole, Grécia
Chichen Itza, México*
Grande Muralha, China*
Petra, Jordânia
Pirâmides de Gizé, Egipto
Taj Mahal, Índia
Torre Eiffel, França* (destoa, mas é a mais representativa da nova era industrial)

quinta-feira, julho 05, 2007

As minhas 7

As minhas 7 maravilhas de Portugal, por ordem:

1- Convento de Cristo
2- Torre de Belém
3- Mosteiro da Batalha
4- Mosteiro dos Jerónimos
5- Convento de Mafra
6- Universidade de Coimbra
7- Casa de Mateus


Já anda por a aí circular um concurso dos 7 Horrores de Portugal. As meus 7 horrores preferidos são:

1- Estrada Nacional nº1 (uma espécie de feira da ladra com 300 km onde se vende everything including the girl)
2- Santuário de Fátima
3- 2ª Circular (podiam construir ali mais 10 centros comerciais, 5 estádios de futebol, 19 torres eiffel e 47 aeroportos... bem apertadinho cabe tudo)
4- Aeroporto da Portela (a organização dos corredores das Chegadas rivaliza com o Labirinto de Creta)
5- Fórum Cidade de Coimbra (aquela torre vermelha fica ali a matar)
6- Estádio Nacional (ouvi dizer que esta obra fascizóide agora é monumento nacional...)
7- ex-aequo: Leça da Palmeira, Estarreja, Armação de Pêra, S. Domingos de Rana e Maia (se isto fosse como nos desenhos animados, a coisa resolvia-se com 5 bombas atómicas)

quarta-feira, julho 04, 2007

A estupidez matemática de 27 referendos nacionais

Sou da opinião que todos os tratados europeus deveriam ser aprovados por via referendária, mas se todos os tratados europeus forem submetidos a referendos individuais em cada país, isso é matematicamente uma estupidez. E é uma estupidez porque este é um sistema onde um NÃO num dos países da UE é suficiente para anular o efeito de todos os SIM dos outros países. O NÃO funciona neste caso como um elemento absorvente, tal como o zero na multiplicação.

Vejamos primeiro a probabilidade um tratado europeu ser aprovado por dois países fictícios, no esquema actual de um referendo por país:
Caso 1- Vamos admitir que na República da Galescócia a probabilidade de NÃO e SIM vencerem é de 50% (50/100 ou 1/2) e no Pontificado Varsoshington a probabilidade de NÃO e SIM vencerem é igualmente de 50%. Existem 4 resultados possíveis: SIM+SIM, SIM+NÃO, NÃO+SIM e NÃO+NÃO. Todos com a mesma probabilidade: 25%. Como o NÃO é elemento absorvente, a probabilidade do tratado ser aprovado é apenas de 25%, correspondente à probabilidade de obtenção de SIM+SIM. A operação que fazemos para obter a probabilidade de 25% para que o tratado seja aprovado é a multiplicação simples da probabilidade do SIM vencer em cada país, ou seja: (1/2)*(1/2)=1/4=0,25 -> 25%

Vejamos agora a probabilidade de aprovação de um tratado europeu por 27 países:
Caso 2- Admitindo de novo uma probabilidade de 50% (50/100 ou 1/2) de o SIM ou o NÃO vencerem em cada país, obtemos 1/2 multiplicado por si próprio 27 vezes! Ora (1/2)27=0,0000000075 -> 0,00000075%, obtemos uma probabilidade insignificante para a aprovação do tratado!

Mas a coisa não é assim tão simples, porque os tratados são definidos nas cimeiras de chefes de estado e cada um deles opta por um tratado que reúna um amplo consenso no respectivo país, englobando o máximo de formações políticas. Por esta razão, em geral a probabilidade de um tratado obter um SIM em cada país é elevada. Pode ser superior a 90% no caso de um forte consenso nacional. No entanto vejamos a probabilidade de um tratado ser aprovado num contexto de fortes consensos nacionais:
Caso 3- Admitindo uma probabilidade de 90% (90/100) de o SIM vencer em cada um dos países, a probabilidade do tratado ser aprovado em toda a UE é de (90/100)27=0,058 -> 5,8%! Mas se a probabilidade do SIM vencer em cada país for de 97% (97/100) obtemos: (97/100)27=0,439 -> 43,9% de probabilidade de aprovação... Só quando a probabilidade de o SIM vencer em cada país for superior a 98% é que a probabilidade de aprovação sobe acima dos 50%: (98/100)27=0,580 -> 58,0%

A conclusão destes cálculos é que o actual sistema de referendos atribui um peso excessivo ao NÃO e torna quase impossível a vitória do SIM se os 27 países decidirem realizar um referendo para aprovação do tratado. As hipóteses de vitória do SIM só são realistas quando um conjunto de países aprovam o novo tratado por via parlamentar em vez da via referendária, opção esta obviamente menos democrática. A outra conclusão é que a matemática não é o forte dos participantes das cimeiras, pudera o carreirismo nas jotas partidárias não é lá muito compatível com o estudo da matemática...


Referendo em todos os países no mesmo dia
A solução de organizar um referendo europeu no mesmo dia em que os votos de todos os países são somados - essa soma poderia obedecer a um factor de ponderação para os países mais populosos não serem beneficiados - apresenta duas grandes vantagens:
1- Acaba com o falseamento democrático que se verifica actualmente. Somados os votos do NÃO em todos os países provavelmente não obtemos mais do que 30 a 35%.
2- Votando no mesmo dia em toda a UE, assistindo ao escrutínio das urnas, aos resultados, às reacções políticas nos vários países, os diferentes povos europeus cultivariam um sentimento de que vivemos numa casa comum, com um destino comum, em vez do habitual sentimento de que tudo se passa "lá em Bruxelas", "nos gabinetes", "nos corredores", etc.

Esta solução tem no entanto dois obstáculos:
1- A maior parte das constituições nacionais não permite este tipo de processo. Será preciso mudá-las.
2- A oposição feroz dos anti-europeístas (ler JPP no Abrupto 2/6/2005). Estes perceberam bem que o sistema actual os favorece largamente, citando JPP no Abrupto a 15/9/2003: "Basta um país não a ratificar [a Constituição] e não existe". Depois escrevem-se toalhas de textos queixando-se de que não há democracia na UE...

terça-feira, julho 03, 2007

segunda-feira, julho 02, 2007

Sem Muros - o blogue de Miguel Portas

O meu caríssimo amigo Miguel Portas abriu finalmente um blogue, intitulado Sem Muros. Já não era sem tempo! Sempre achei que o Miguel é uma daquelas pessoas que deveria mergulhar na blogosfera. A forma como o Miguel lê o mundo, de uma forma simultaneamente apaixonada e crítica, merece leitura diária.

O pão nosso de cada dia



"Our daily bread" de Nikolaus Geyrhalter é uma sucessão de imagens sobre a produção agrícola e pecuária em massa praticada em vários países europeus que não deixa indiferente o espectador. Ao longo dos 80 minutos de filme somos interpelados sobre a nossa forma de produzir, de consumir e de trabalhar no sector primário na Europa. Depois de "Our daily bread", a ida a um supermercado é certamente encarada de outra forma. É impossível ficar indiferente a tomates e legumes produzidos em massa sem qualquer contacto com a natureza, criados em estufas de cimento, onde cada tomateiro é depositado sobre um extracto de fibra carbónica. Também não se fica indiferente ao nascimento, vida e morte de porcos e de frangos, em clausura absoluta em fábricas onde pintos são projectados de estrado para estrado rolante formando compactos jactos amarelos como se de milho se tratasse e onde são simulados dois dias e duas noites, durante as 24 horas de um dia, recorrendo à iluminação artificial.

Será que vale a pena este tipo de produção massificada, num continente com problemas de produção excedentária? A nossa qualidade de vida é ameaçada em que medida pelo desaparecimento do sabor genuíno dos alimentos, pela ausência de contacto com a natureza e pela utilização em massa de pesticidas? Será que devemos tratar os animais desta forma cínica e cruel, chegando ao ponto de lhes trocar as voltas dos dias e das noites para que cresçam rapidamente? Quais são as consequências sociais do trabalho praticado nestas explorações, um trabalho mal pago, deprimente, desumanizado e por vezes no limite da escravidão? Vale a pena esta alienação da produção para termos os supermercados cheios de produtos baratos, mas sem sabor e com qualidade nutritiva duvidosa, para depois queimarmos quantidades industriais de excedentes?