quarta-feira, junho 30, 2004

A trajectória da Cassini-Huygens

O primeiro ser humano a observar os anéis de Saturno foi Galileu. Essa foi uma das muitas heresias que cometeu com o seu rudimentar telescópio e que o levaram no final da sua vida à desgraça perante a igreja católica. Podem imaginar o que fariam os carrascos de Galileu a alguém que ousasse prever que um dia lançaríamos um objecto para Saturno com a trajectória da figura abaixo apresentada, era fogueira no mínimo!

(Imagem do sítio da NASA)

terça-feira, junho 29, 2004

No vote for Portugal

Como já foi aqui referido o não pagamento das quotas do ESO (European Southern Observatory) fez com que Portugal perdesse o direito de voto dentro desta organização. Na acta da última reunião do ESO, a seguir a cada decisão votada aparece a seguinte frase:

"Council unanimously (no vote from Portugal) approved..."

É uma vergonha para Portugal! Eis o resultado da gestão irresponsável de Pedro Lynce & companhia. Quem andou a apoiar as medidas políticas de Lynce tem aqui um belo exemplo das consequências da gestão mais desastrosa da política científica nacional dos últimos 10 anos.

domingo, junho 27, 2004

Durão não tem ideias sobre a Europa

Durão não deveria nunca ser o presidente da Comissão Europeia. Razões:

1. Durão nunca escreveu um livro onde desenvolvesse temas europeus.
2. Durão nunca promoveu reflexões ou documentos programáticos sobre a Europa.
3. Durão nunca expressou publicamente ideias próprias ou rumos para Europa. Durão limitou-se a assinar de cruz ideias que vinham do interior do PPE, mesmo quando essas ideias contrariavam completamente comentários de circunstância que fazia sobre a Europa. Um caso ilustrativo é congresso do PPE no Casino do Estoril em 2002 de onde saíram as ideias de uma Europa federalista e a ideia de uma constituição que contrariavam comentários anti-europeus que Durão Barroso tinha proferido alguns meses antes. No dia seguinte ao congresso Durão disse que subscrevia essas ideias.
4. Durão não se interessa pela Europa. Basta analisar o comportamento político de Durão Barroso durante estas últimas europeias.
5. Durão foi dos poucos líderes dos partidos que constituem o PPE que foi derrotado nas europeias.
6. Durão não tem ideias nem programa sobre os assuntos em que a Europa é vanguardista como o ambiente, os transportes e a energia. Ou sobre assuntos em que a Europa tem que recuperar algum atraso como as novas tecnologias e a investigação científica.
7. Durão foi um passarinho engolido por falcões na questão iraquiana. Lançou-se de cabeça no apoio à aventura americana sem se informar devidamente de todos os aspectos que envolveram esta acção: o contexto histórico, os reais motivos da guerra do Iraque, a distinção entre a propaganda americana e a realidade, e as consequências prováveis do conflito. A Europa não precisa da visão ingénua do mundo de Durão Barroso.

Questões internas
Quanto ao folclore interno da sucessão de Barroso, interessa-me pouco. Tenho apenas a dizer que a coligação Santana Lopes-Paulo Portas politicamente nada tem a ver com o actual governo. É outro partido no qual os portugueses não votaram. Pessoalmente não os aceito e não lhes reconheço legitimidade governativa. A derrota nas europeias dá ainda menos legitimidade à solução Santana-Portas.

sábado, junho 26, 2004

Sábado em Coimbra XII: outro olhar sobre Coimbra

Recebi um casal francês amigo. Com eles, vou ver Coimbra de outra forma.
O olhar de um habitante sobre a sua cidade está sempre viciado.
O olhar de um visitante é novo, detecta pormenores que não são valorizados
pelo habitante e misérias que já foram assimiladas por quem anda por ali
todos os dias.

Estou atento a todos os reparos sobre a cidade. Mas, não só sobre a cidade.
O estado miserável da EN1 e o elevadíssimo preço das auto-estradas foram
as primeiras notas negativas dos meus amigos. Concordo plenamente.

Sábado em Coimbra XI

sexta-feira, junho 25, 2004

Nobody fucks with the Jesus

Ao som de "Bienvenido al Hotel California", Jesus Quintana (John Turturro) faz um lançamento cheio de elegância e perfeição que derruba todos os pinos. Depois de arrumar a tralha, antes de sair, passa junto ao Dude e começa a troca de "galhardetes":

Jesus Quintana: You ready to be fucked man? I see you rolled your way into the semis. Dios mio, man. Liam and me, we're gonna fuck you up.
The Dude: Yeah, well, that's just, like, your opinion, man.
Jesus Quintana: Let me tell you something, pendejo. You pull any of your crazy shit with us, you flash a piece out on the lanes, I'll take it away from you, stick it up your ass and pull the fucking trigger 'til it goes "click."
The Dude: Jesus!!
Jesus Quintana: You said it man. Nobody fucks with the Jesus.
Walter Sobchak: Eight year-olds, Dude...


Joel e Ethan Coen, "The Big Lebowski", 1998

quinta-feira, junho 24, 2004

Aba de Heisenberg

Começou há um ano com o mote: "a incerteza como princípio". Um dos Abas chutou-o por email, não me lembro quem foi. De seguida escrevi a primeira entrada da Aba de Heisenberg. Foi uma espécie de "um, dois, três, experiência" onde simultaneamente se anunciava à blogosfera o nosso mote: "a incerteza como princípio...". Mais tarde saí, mas revejo-me sempre nesse mote e nesse blogue que é um dos mais interessantes da blogosfera.

Mundo de Aventuras III


(Viena, Áustria, Janeiro de 2004)

Mundo de Aventuras II

quarta-feira, junho 23, 2004

Eslovacos e Checos reencontram-se na União Europeia

Ali no blogue do Miguel Vale de Almeida por causa de um "post-scriptum" (atabalhoado na minha opinião) de um texto provocatório sobre a Croácia gerou-se uma discussão nas caixas de comentários à volta da independência da Croácia. Croácia essa que vai reencontrar os velhos parceiros da federação Jugoslava quando entrar para a União Europeia lá para 2010. Lembrei-me de um velho artigo do Le Monde sobre a mesma problemática, mas desta feita envolvendo o reencontro da Eslováquia e da República Checa na União Europeia. Aqui vai:

Les Slovaques retrouveront les Tchèques

Plus jeune Etat d'Europe, la Slovaquie va rejoindre l'Union européenne. A 95 ans, la grand-mère d'Eva ne compte plus les retournements. Elle a voté oui, "pour les enfants". Dans la famille d'Eva B., tout le monde a voté oui à l'Europe. Jusqu'à la grand-mère, 95 ans, invalide : des représentants du bureau de vote se sont déplacés chez elle avec l'urne, tellement elle y tenait. Alzbeta est née sous l'Empire austro-hongrois, elle a traversé le communisme, vécu les deux naissances et les deux morts de la Tchécoslovaquie (créée en 1919, dissoute en 1939, reconstituée en 1945 et enterrée en 1993). L'Histoire ayant voulu qu'elle ne soit plus ni austro-hongroise, ni tchécoslovaque, ni soviétisée, mais seulement slovaque, elle tient maintenant à mourir en paix, dans l'Union européenne. "Ce n'est pas pour moi, je n'ai plus le temps, dit cette petite dame souriante, les yeux bleus pétillants. C'est pour les enfants. Nos gouvernants nous trimballent de gauche à droite, dans l'Europe ils seront encadrés. Les enfants pourront partir, ils auront une meilleure vie."
(...)
Officiellement, la Slovaquie, plus jeune Etat d'Europe après le divorce à l'amiable de la Tchécoslovaquie, se réjouit de revivre pleinement son identité. Pourtant des intellectuels nostalgiques aux commerçants qui ont perdu de la clientèle, rares sont ceux qui, en Slovaquie, se réjouissent de la partition. Bratislava a gardé son allure provinciale. A Kosice, la deuxième ville du pays, à l'extrême sud-est, où Hongrois et Tziganes vivent nombreux, une universitaire pleure sa capitale perdue, Prague. Elle fait valoir que ce divorce a davantage encore isolé l'est du pays, plus
pauvre, de la région de Bratislava, où se concentrent tous les efforts. Il faut entre cinq et huit heures pour traverser le pays d'ouest en est (450 kilomètres), en train ou en voiture. L'infrastructure routière est déficiente. La carte du pays montre des bouts d'autoroute épars, anarchiquement disposés. Là encore, l'Europe est attendue. Comme une manière, pour les Tchèques et les
Slovaques, de se retrouver ensemble. Les relations entre les deux Etats sont au mieux. Partie de loin, handicapée par la structure de son économie (agriculture, industrie lourde et d'armement au service de l'Union soviétique), d'abord mise au ban de l'Europe et de l'OTAN à cause de l'autoritaire et nationaliste Vladimir Meciar, l'ex-premier ministre, qui eut pour tâche de fonder le nouvel Etat, la Slovaquie a notablement rattrape son retard.


Marion Van Renterghem, 26 de Junho de 2003, Le Monde.

terça-feira, junho 22, 2004

Morangos no supermercado

Produzido por Emir Kusturica "Jagoda u supermarketu" (Morangos no supermercdo) é um filme de Dusan Milic. Neste filme, Branka Katic - uma das minhas actrizes preferidas - é Jagoda (Morango), uma empregada de supermercado. Na cena inicial Branka aparece com a cara tapada pela revista Cosmopolitan onde se pode ver Uma Thurman. Cheirou-me a humor balcânico. Uma Thurman como empregada de supermercado até faz algum sentido depois desta ter caído num latão de tinta amarela.

A história gira à volta da implantação de um supermercado Yugo-American que destabiliza um pequeno bairro de Belgrado. O filme é assumidamente anti-americano, mas de um anti-americanismo saudável e compreensível para um país onde o cidadão médio tem uma cultura largamente superior ao do cidadão médio do país que o bombardeou recentemente. A moral de pacotilha dos EUA não colhe grande apoio junto do cidadão sérvio médio e isso é bastante explícito neste interessantíssimo filme. Srdjan Todorovic (Dadan de Gato Preto Gato Branco) é um veterano da guerra contra os EUA, vive perturbado e traumatizado. Tal como John Rambo no Vietname, Srdjan fazia parte do melhor corpo de elite do exército sérvio. Mas há uma diferença substancial entre John Rambo e Srdjan Todorovic (Marko). Para a conhecer é melhor ver o filme, mas posso adiantar que mete morangos e outras frutas. Não sei se este filme já circula em Portugal. Suspeito que não. Com a habitual ditadura anglo-saxónica que existe na distribuição de filmes neste país, o mais certo é não vermos este belo filme nas nossas telas.

segunda-feira, junho 21, 2004

Salam Pax

Salam Pax está neste momento a ser entrevistado no plateau do "Tout le Monde en Parle". É mudar para a TV5.

Mundo de Aventuras II

Busco aquele casal de uma tela de Jack Vettriano que dança sobre a água baixa da praia. Será aquele casal de vermelho, agora já com alguns anitos em cima?

(Seaside, Oregon, EUA, 2003)

Mundo de Aventuras I

sábado, junho 19, 2004

Sábado em Coimbra XI: 007 ao serviço da boa cozinha

"007" é nome de um daqueles restaurantezinhos conimbricenses onde se come por um preço bastante razoável, mas o 007 distingue-se de todos os outros pela qualidade da comida, pela apresentação, pelo serviço e pela variedade de pratos. Já subiu à segunda posição dos meus restaurantes preferidos de Coimbra atrás do mítico Zé Manel dos Ossos. No 007 podemos comer pratos da estação. Nesta altura do ano há todos os dias sardinha assada, mas por exemplo em Novembro há míscaros e em Maio serve-se arroz de lampreia. O 007 é um restaurante pequenino asseado e tratado com esmero que fica numa das ruazinhas paralelas à rua do Zé Manel dos Ossos. Hoje foi uma generosa dose de sardinhas (4,50 €).

Sábado em Coimbra X

sexta-feira, junho 18, 2004

CERN, ESA e ESO: Não pagaaaaaaamos!

Enquanto alguns andavam a pedir cargas de bastão para os estudantes que através do slogan "não pagamos" protestavam contra a nova lei do financiamento do ensino superior, o Ministério da Ciência e do Ensino Superior ía mais longe do que os estudantes e pela calada dos gabinetes do ministério furtava-se ao pagamento da quota anual da nossa participação no CERN, na ESA e no ESO (European Southern Observatory). Era uma espécie de "não pagamos" silencioso de Lynce & companhia que andavam na altura bastante ocupados a cozinhar uma cunha. As quotas do CERN tanto quanto sei já foram pagas, mas Portugal pagou apenas parcialmente as quotas da ESA dos últimos dois anos e não pagou nem as quotas de 2003 nem as de 2004 do ESO. Desde que o ESO existe este tipo de situação nunca tinha acontecido com nenhum dos outros países membros. Esta semana a direcção do ESO reuniu para aplicar sanções a Portugal. Chegou a ser ponderada a hipótese de impedir os investigadores portugueses de utilizar o melhor telescópio óptico do mundo (o Very Large Telescope, Chile). A sanção numa primeira fase ficou-se pela perda do direito de voto de Portugal dentro da organização. Esta situação é uma vergonha para um país como Portugal que está a tentar recuperar uma imagem negativa que possui no meio científico internacional.

Cavalo marinho ou chicote?
Os comentadores que andaram a pedir cargas policiais sobre os estudantes que fecharam por um dia a cadeado as portas de uma Universidade, será que vão pedir uma carga de cavalo marinho ou chicote sobre os principais culpados desta situação: Pedro Lynce e seus ex-colaboradores. É que se Portugal perder acesso aos telescópios do ESO e aos programas da ESA, os danos causados são gravíssimos para o futuro da investigação científica portuguesa. Isto não tem nada a ver com o prejuízo causado por uma Universidade que é fechada durante um dia. Se fossem coerentes teriam que pedir que Pedro Lynce fosse fustigado no mínimo a golpes de cavalo marinho, mas é melhor não o fazerem, aí perceberiam o ridículo das suas posições anteriores...

terça-feira, junho 15, 2004

A minha selecção: Česka Republika

A vantagem de ter uma família internacional é que a probabilidade de ganhar um campeonato aumenta. Em princípio iria ter uma probabilidade base de vencer o Euro2004 de 2/16. Mas quando Scolari divulgou os nomes dos jogadores da selecção percebi que não tinha sido convocado. Teria a mesma atitude se o Figo, o Rui Costa, o Pauleta ou o Fernando Couto também tivessem sido excluídos. Não me revejo nesse Portugal do ódio que vai passar os próximos dias a tirar conclusões dos frangos ou não frangos da selecção. A qualidade de um guarda-redes não muda em três ou quatro semanas de Euro2004. Baía foi a estrela escolhida pela UEFA para apresentar a final da Liga dos Campeões, isso vale mais do que 400 comentadores a destilar ódio.
Assim sendo, com muita tristeza minha, pois já fiz muitos milhares de km só para ver a selecção a jogar, a nossa probabilidade de vencer baixou para 1/16. Resta-me a outra selecção cá da casa, uma selecção com belíssimos jogadores e com um futebol bonito: a República Checa. Eis os meus destaques com a fonética correcta dos nomes entre parêntesis.


Petr Čech (Petr Tshérr): Cech (foto, sítio UEFA) é um sério candidato a melhor guarda-redes do torneio juntamente com Buffon, Khan ou até mesmo Sorensen. Cech é talentoso, bonito e inteligente. Tem todas as qualidades para não ser escolhido por Scolari. Felizmente para ele nasceu na Rep. Checa e não em Portugal. Tem 22 anos.

Pavel Nedved: O Paulo Nedved ganhou a bola de ouro da France Football. Na minha opinião até deveria ter ganho o jogador do ano FIFA 2003. Nedved tem lances repentistas incríveis, marca belíssimos golos através de remates explosivos em corrida. Vai ser um regalo vê-lo jogar.

Tomáš Rosický (Tomásh Rozitski): É o meu jogador preferido da Rep. Checa. Tem um estilo latino é um jogador irrequieto cheio de fantasia e faz excelentes assistências.

Karel Poborský: Conhecidíssimo dos portugueses, apesar da veterenia continua em forma. Fez uma excelente época pelo Sparta de Praga.

Vladimír Šmicer (Vladimir Shmitser): É uma das pedras mais importantes do ataque do Liverpool e com os três anteriores jogadores forma um quarteto de médios ofensivos temível.

Jan Koller (Ian Koller): Koller tem dois metros de altura, aquela cabeça é um perigo constante para as defesas adversárias. Para além disso é capaz de fazer excelentes centros. Curiosidade: começou a sua carreira como guarda-redes.

segunda-feira, junho 14, 2004

Não poder comemorar


(Guardo religiosamente este bilhete)

Ganhar e não poder comemorar. Como eu compreendo os adeptos franceses que estavam ontem em minoria no Parque das Nações e que foram insultados e agredidos por hooligans ingleses. Há quatro anos eu estive lá. Estive presente naquela victória fabulosa, na bancada por detrás da baliza onde o Nuno Gomes fez o 3-2. Três quartos do estádio eram adeptos ingleses. O resto eram emigrantes e alguns adeptos portugueses que se tinham deslocado em viagens organizadas. No fim do jogo a vontade era a de fazer a festa, mas o ambiente era pesadíssimo. À saída do estádio o silêncio era de cortar à faca. Não havia um único adepto português com coragem para comemorar. Estávamos cercados por todos os lados por um mar de adeptos ingleses a espumar de raiva. Percebia-se que à mínima faísca aquilo poderia rebentar num linchamento selvático dos adeptos portugueses. Continuei a minha marcha caladinho apesar da bandeira desfraldada ostensivamente ao longo dos meus dois metros de envergadura de braços. Era a minha maneira de comemorar/protestar no limite do razoável naquele ambiente absolutamente fachista. A dado momento os adeptos ingleses foram separados dos portugueses, eles seguiram através de um cordão de polícias a cavalo e nós tranquilamente para o centro da cidade.
O ambiente antes do jogo não era melhor. Autocarros do Euro2000 largavam os adeptos portugueses no centro da cidade no meio de um caos indiscritivel. Imaginem a Queima das Fitas e a Oktober Fest juntas em ambiente de 6 da manhã, de ressaca, de vomitado, mas ao contrário destas festas com um ambiente violento e sem mulheres, era só homens. Parecia um sultanato anglo-saxónico! À minha frente para entrar no estádio estava um grupo de engenheiros e quadros de uma empresa britânica a conversar. A dada altura começaram a entoar uma cântico que era cantado em redor de todo o estádio, intitulado: "Figo's a mother fucker".

"Os gajos do Porto são todos uns filhos da puta"
O hooliganismo em Portugal tem outros contornos. Quem é adepto do Porto já está habituado a ouvir num daqueles cafés que transmitem os jogos do futebol, indivíduos que fazem comentários do tipo: "Os gajos do Porto são todos uns filhos da puta! Todos!". E continuam: "Até o filho da puta do Fernado Santos quando foi para lá ficou igual àqueles cães!". Isto é proclamado em voz alta para ser audível em todo o café por pessoas que sabem perfeitamente que há ali adeptos do Porto a ver o jogo, há crianças e há pessoas que nem ligam nada a futebol. Toda a gente tem que engolir e calar, apesar de naqueles microsegundos que seguem a proclamação destes mimos me percorrer uma vontade imensa de pegar numa mesa e esborrachá-la em cima do indivíduo, bastam dois ou três segundos de calma para recuperar a clarividência para chegar à conclusão que o melhor é estar quieto e por fim até acabo por ter pena do pobre diabo. Isto que escrevo tanto serve para adeptos do Porto como para os adeptos de qualquer outro clube. Porque isto em Portugal é tudo uma questão de matilha e de cobardia. Se a matilha do Porto for mais numerosa que a dos outros clubes, são os do Porto a ter as mesmas atitudes. O problema é que eu vivo numa região onde a matilha anti-Porto é mais numerosa.

A ideia mais interessante sobre a Europa

A única ideia realmente nova lançada durante estas europeias em Portugal foi recompensada. Obviamente, que a excelente ideia de Miguel Portas sobre uma aliança Europa-Norte de África não foi infelizmente o motivo principal do resultado, foram motivos mais provincianos no âmbito de umas europeias. É revelador que mesmo dentro da sua formação a reacção à ideia do Miguel foi praticamente nula. Em Portugal há um gosto suicida pelo fácil, pelo toma lá-dá cá, mesmo sobre questões complexas que merecem reflexões profundas e que assim ficam sempre adiadas. É por isso que Portugal estava na cauda da Europa dos 15 e vai passar certamente para a cauda da Europa dos 25. Por isso fico contente pelo Miguel, mas não acredito em milagres. Não acredito que este país de perfil esmagadoramente provinciano no contexto europeu consiga participar na futura Europa de uma forma minimamente decente nos próximos anos.

domingo, junho 13, 2004

Resultados das europeias é na Euronews

Nas TVs nacionais a miséria e a pobreza de informação sobre as europeias perpetua-se até na divulgação de resultados. Para sabermos os resultados dos outros países da Europa (e não apenas da nossa parvónia) é preciso mudar para a Euronews (ver sítio).

sábado, junho 12, 2004

Sábado em Coimbra X: com 10 € faz-se a festa

Eu sou um grande adepto das compras no mercado. Os produtos em geral são frescos e de qualidade, sublinho em geral porque no mercado também se apanham barretes. O que é preciso é ter olho vivo e conhecer os vendedores que têm bons produtos. A diferença em relação ao que gasto nos Continentes é grande. Com mais ou menos 10 € encho a cesta no mercado de Coimbra.

Sábado em Coimbra IX

Xenofobia regional pequenina

É neste post de ler e escarrar por mais.

sexta-feira, junho 11, 2004

A Europa que interessa

Maria Manuel Leitão Marques do Causa Nossa transcreve uma sábia declaração de Dominique Strauss-Khan sobre a filosofia que deve reger uma União Europeia que se que fresca e atenta.

As vezes que tive oportunidade de falar com pessoas dos continentes asiático ou africano é recorrente um desabafo contra a maneira como EUA gerem os conflitos nessas regiões do mundo. Frequentemente essas pessoas manifestam-se revelando um anti-americanismo bastante feroz. Muitas dessas pessoas têm esperança que a Europa não trilhe os mesmos caminhos dos EUA, e que em vez disso seja capaz de fazer uma ponte equilibrada com as regiões mais desfavorecidas no mundo. Do seu ponto de vista, a Europa é considerada uma tábua de salvação da política internacional. Por isso, a Europa deveria aproveitar esse potencial de confiança que esses povos ainda depositam em nós. Antes que percamos esse potencial de confiança, a Europa deveria assumir mais frequentemente a iniciativa no plano internacional não perdendo de vista os valores mais nobres que foram conseguidos na construção europeia, valores esses sublinhados aqui por Strauus-Khan.

União Europeia: imposto nuclear

Portugal poderia reclamar uma espécie de imposto sobre a produção de energia nuclear. Existem países da UE que têm cerca de uma central nuclear por cada milhão de habitantes, obviamente que esses países têm uma vantagem financeira óbvia nos custos da produção de energia em relação a países como Portugal que não possuem centrais nucleares. No entanto, Portugal não contribui para o rol de riscos inerentes à produção de detritos radioactivos na Europa. Em França, por exemplo, existem mais de 70 reactores nucleares espalhados pelas 59 centrais nucleares do país, o que dá mais de um reactor por cada milhão de habitantes. As vantagens económicas são brutais. Como é desejável que o nosso país mantenha a sua condição de país sem energia nuclear (a Alemanha e a Itália estão a desactivar todas as suas centrais nucleares), Portugal tem toda a legitimidade para propor à UE uma compensação pela sua opção nuclear, ou então a criação de um imposto nuclear que deveria reverter aos países que não têm centrais para desenvolver formas de produção de energia menos poluentes e alternativas.

quarta-feira, junho 09, 2004

Vénus, o Sol e a Terra

"O planeta mais parecido com a Terra em tamanho. Com 95% do diâmetro da Terra e uma
massa de 80%, Vénus é o planeta que mais se assemelha ao nosso, em dimensão e
composição química.
Órbita: A duração do ano é de 224,7 dias terrestres e a distância ao Sol representa 72% daquela que separa a Terra do astro-rei. Um dia em Vénus é maior do que o seu próprio ano: corresponde a 243 dias terrestres.
"
DN

Engraçado isto, quer dizer que ontem o Sol estava quatro vezes mais longe da
Terra do que Vénus, ou seja a dimensão do Sol, relativa a Vénus, é quatro vezes
maior do que vimos. Como a Terra e Vénus são quase do mesmo tamanho, vê-lo ali contra o disco imenso do Sol foi como vermo-nos, à Terra. Vezes o factor de 4 de tamanho
do Sol, dá para sonhar com o tamanho mínimo da Terra... ao pé do disco do Sol.
Paulo César

terça-feira, junho 08, 2004

O sangue de Reagan

Foi com alguma tristeza que li grandes declarações de amor a Ronald Reagan por parte de uma série de blogues de direita que tenho em boa conta. Algumas delas, da parte de pessoas que acho interessantes e que sabem discutir política sem descerem ao nível da lama. Leio-os e aprendo com eles. E sobretudo não os gozo, como fazem alguns blogues da esquerda, quando escrevem coisas de que não gostamos.

Ora, algumas dessas pessoas de direita recentemente condenaram com grande fervor simpatias de alguma esquerda em relação à ETA. E fizeram-no com razão. O que eu acho estranho é algumas dessas pessoas virem agora escrever grandes textos de apreço a uma pessoa como Ronald Reagan. Ronald Reagan é talvez o presidente de um regime democrático que mais sangue tem a escorrer-lhe das mãos. E já nem conto aqui com as milhentas guerras civis que fomentou com a ajuda da ex-URSS, como o caso de Angola. Refiro-me a regimes criminosos que apoiou abertamente, nomeadamente os regimes: filipino, chileno, indonésio e argentino. Destaco o seu apoio a Saddam na guerra contra o Irão. Refiro-me ainda ao seu apoio a grupos sanguinários que nada tinham de libertação, como os Contras da Nicarágua e os Talibãs do Afeganistão. Os crimes executados pelos Contras contam-se entre os mais horrendos do planeta Terra. Os Talibãs ergueram apenas a pior ditadura de que há memória nos últimos 50 anos. As consequências do apoio de Reagan aos Talibãs, reflectem-se ainda hoje na dimensão que ganhou a Al-Qaeda. Ilustro as minhas palavras com um excerto do último livro de Robert Clarke:

The overall covert action program expanded greatly in Reagan's second term. Unclassified studies show that it grew from $35 million in 1982 to $600 million in 1987. With few exceptions, the funds bought matériel that was given to Afghan fighters by Pakistan's intelligence service.

"Against All Enemies", Richard Clarke, Free Press, 2004, pag. 50.

O trânsito de Vénus para a posteridade

Depois de termos passado na Klepsýdra o trânsito de Vénus em tempo real, aqui fica uma bela imagem tirada pelo Observatório da Catania, Itália, na risca H-alfa. Por H-alfa entende-se como a radiação cujo comprimento de onda é de 6563 Å (primeira transição atómica da série de Balmer do átomo de hidrogénio) que é emitida pelo plasma da cromosfera solar que está a uma temperatura de cerca de 10000ºC. Quando olhamos para as fotografias que são tiradas neste comprimento de onda, estamos a ver apenas uma das camadas que constituem o Sol, neste caso a cromosfera.

(Sítio do Observatório da Catania)

segunda-feira, junho 07, 2004

Trânsito de Vénus: onde ver


(Sítio ESO Venus Transit 2004)

Coimbra: O Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra estará aberto à visita do público, propondo um conjunto de iniciativas em torno do referido evento, em particular a observação astronómica, em condições de segurança, e sua explicação. As iniciativas decorrerão entre as 8h30 e as 13h00 e a participação é gratuita e aberta a todos. A organização deste dia conta com a colaboração da Secção de Astronomia, Astrofísica e Astronáutica da Associação Académica de Coimbra.

Cascais: O NUCLIO (Núcleo Interactivo de Astronomia,) em colaboração com a Marina de Cascais e a Câmara Municipal de Cascais, convida o público a assistir ao trânsito de Vénus no dia 8 de Junho, na Marina de Cascais (terraço da loja 20). O NUCLIO põe à disposição do público telescópios com filtros especiais e telescópios solares, e estarão presentes astrónomos
profissionais e amadores a acompanhar a observação do trânsito. Na loja 20, estará patente uma exposição sobre o trânsito de Vénus e a sua importância histórica, assim como actividades educativas.

Ligações:
The Venus Transit 2004 (ESO)
ESA
Observatório de Lisboa

Mala de viagem

"C´è troppo peso", diz-me a funcionária quando faço o check in. Depois acrescenta: "27 kg, fa niente!". Para além dos calhamaços, dos apontamentos, das fotocópias e dos artigos que fizeram a viagem de ida e volta, trouxe para Portugal uns pequenos pecados com os quais me vou deliciar nos próximos tempos: Campari, vinagre balsâmico, um pedregulho de parmesão (24 meses), orégãos caseiros e uma garrafa de lambrusco romagnolo.

quinta-feira, junho 03, 2004

Gelateria


(Ferrara, Italia, 2 de Junho, 2004)

TV Berlusconi: futebol, cantoretas e gajas

O nivel da TV em Italia anda proximo do zero. A horas decentes, os canais do estado e os canais privados - todos controlados por Berlusconi - passam horas a fio de programas de variedades onde vao desfilando uns cantorzecos romanticos. No intervalo de cada cantoreta fala-se de futebol. A alternativa sao programas de futebol, onde nos intervalos da discussao futebolistica se cantam umas cancoezecas de despedacar il cuore ou musiquitas de claque de futebol. Todos estes programas sao moderados por impressionantes apresentadoras que fazem babar uma assistencia sobretudo composta por homens a caminhar rapidamente para a terceira idade. E' um desespero! Onde esta a Italia do Renascimento?

terça-feira, junho 01, 2004

Bolonha


(Bolonha, 29 de Maio, 2004)

Europa: aposta ambiental

Portugal deve cumprir os objectivos do protocolo de Quioto sobre a emissão de gases poluentes. Relembro que o protocolo de Quioto serve de eixo à politica ambiental da UE. Nestas europeias em vez de se futebolizar as eleições (Força Portugal: muito se riram aqui os meus colegas Italianos quando lhes contei), deveriam aparecer propostas serias para que em Portugal se faça um esforço importante na redução de emissões, nomeadamente na redução da emissão dos transportes rodoviários e das emissões associadas à produção de energia. Por isso, uma das apostas deveria ser na massificação da utilização de transportes públicos e de preferência em transportes que não emitem gases poluentes (hidrogénio, gás natural, eléctricos, etc.). Uma segunda aposta deveria ser num forte investimento em sistemas alternativos de produção de energia como a energia eólica, a energia solar (temos uma media de horas de Sol por dia muito mais alta que os paises da Europa central e do norte que apostam mais do que nós na energia solar), e desenvolver a energia das marés. Nem todos os países possuem o luxo de ter uma faixa costeira como a nossa virada para o Atlântico com diferenças de altura entre marés bastante generosas. Não esqueçamos que Portugal depende perigosamente do petróleo, que em parte é importado de países criminosos como a Arabia Saudita, apesar de o nosso governo tratar o regime saudita como aliado.

São assuntos como estes que esperava serem objecto de discussão e reflexão nas europeias, pois são os assuntos mais importantes para o futuro do país. Esperava isso da esquerda. Estou à espera...

Desejo fortemente que os Verdes europeus (não confundir com a secção do PCP chamada abusivamente de Verdes) sejam os grandes "vencedores" destas europeias. Por "vencedores" entendo um forte incremento da sua representação no Parlamento Europeu (PE). E espero que a nossa esquerda mais interessante seja eleita e se "encoste" aos Verdes no PE.