sexta-feira, novembro 16, 2012

O Bairro Fantasma

(publicado na edição de ontem do jornal As Beiras)
Cidade Fantasma, algures no Nevada, EUA, Agosto de 2001
Numa das mais recentes sextas-feiras, enquanto esperava um amigo, deambulei durante uma hora pelo Bairro Novo à hora do jantar. Por momentos foi invadido pelo mesmo sentimento que tive quando atravessei uma cidade fantasma no Nevada. Havia casas, uma oficina, um hotel, lojas, os postes de eletricidade intactos e sinais de trânsito imaculados. Mas não havia gente. A estrada, parcialmente coberta de areia, era regularmente atravessada por bolas de feno. Fiz parte de um conjunto de marretas que há uns anos atrás alertou que a abertura de demasiadas grandes superfícies na Figueira poderia ter este resultado. A crise só acelerou o processo. O que mais me custa, é constar que a vitrina da Casa Havanesa já não tem livros. Mas ainda pode ser pior. Há três anos, no Casino da Figueira, chamei a atenção para a lógica estranha dos despedimentos do próprio Casino. Nesse dia fiz muitos amigos... Hoje, as luzes do Casino ainda iluminam o Bairro Novo. Nem quero imaginar como será o Bairro se estas se apagam.

O deseduquês

Publicada no jornal As Beiras de 8 de Novembro de 2012:

terça-feira, novembro 13, 2012

Sobre o Bloco

Estive nesta convenção pela Moção B, a moção dinamizada pelo João Madeira, Daniel Oliveira, Adelino Fortunato, entre outros. Tal como eles não me revi na forma como foi escolhida a atual coordenação do BE.  A minha crítica estende-se ainda à forma como o Bloco tem gerido as suas alianças, por um lado de uma forma muito desconfiada com a esquerda mais moderada (socialistas que não aderiram à terceira via, independentes, etc.) e por outro demasiado condescendente com os ataques dos partidos comunistas do GUE e com as suas políticas de tolerância a ditaduras abjetas (Coreia, China, Angola, etc.). Em suma, cada vez que as táticas e as práticas do Bloco se assemelham ao que de menos interessante tem o PCP, afastamos simpatias e potenciais aderentes.
Com 85 delegados eleitos e apenas 80 presentes, conseguimos 110 votos (~ 25%) para a Mesa Nacional e mais de 120 para a Comissão de Direitos. Não foi nada mau. Tendo surgido muito tardiamente, o movimento que se iniciou com a Moção B deixou no ar um forte potencial contagiante a muitos aderentes da Moção A. 
O discurso final do João Semedo foi inteligente e tomou em conta muitas das nossas críticas. Ainda bem.

terça-feira, novembro 06, 2012

A grande desilusão

Não escrevo por mim, escrevo pelos meus colegas e amigos (cientistas, divulgadores, estudantes, etc.) que tinham grandes expectativas neste Ministro da Educação e Ciência. A sua aura de bom divulgador sempre gerou alguma empatia no meio científico. Fui testemunha direta dessa empatia quando lhe atribuímos o título de sócio honorário da Sociedade Portuguesa de Astronomia. No entanto, os indícios da desilusão estavam lá desde o início, quando aceitou participar num ministério de fusão da educação com a ciência, em que a justificação da fusão era de um economicismo puramente populista, e quando aceitou participar num governo cujo primeiro-ministro apresenta um curriculum estranho, muito mais dedicado à Jota do que aos estudos, um primeiro-ministro sem qualquer noção da importância da ciência no desenvolvimento das sociedades modernas. A que se agrava o facto de estarmos a falar do autor de "O Eduquês em Discurso Directo", livro onde são desenvolvidas ideias altamente moralistas do ensino. 
Cedo se percebeu que a componente dedicada à ciência iria ficar mais a cargo da FCT, do que de um ministério saturado com o trabalho relativo ao ensino secundário. Depois começaram os primeiros problemas de financiamento de bolseiros e universidades. A seguir veio o caso Relvas, tratado com muita condescendência e profunda lentidão. Supunham os meus colegas e amigos que o mesmo autor de "O Eduquês em Discurso Directo" atuasse com firmeza ou, pelo menos, coerentemente fizesse um ultimato ao primeiro-ministro: ou ele ou Relvas. Mas não, as conclusões da inspeção à Lusófona deixam margem para tudo, até para Relvas e outros cábulas poderem repetir as cadeiras que fizeram de uma forma ilegal. Pior, até agora Relvas não teve qualquer tipo de sanção.
Nas últimas semanas, as melhores universidades do país, todas públicas, estão a entrar em colapso adotando medidas terceiro-mundistas para não fechar portas, medidas essas que comprometem seriamente a investigação aí realizada, e que é a melhor investigação que se pratica no país.
A desilusão dos meus colegas e amigos é agora profunda, agora que se tornou evidente que a ciência está a ser progressivamente eliminada por um bando de cábulas e chicos espertos bem nas barbas do ministro e autor de "O Eduquês em Discurso Directo".

Ainda há tomates neste mundo


A Standard and Poor's foi condenada na Austrália a uma indemnização de 13 milhões de euros por ter classificado com triplo A produtos tóxicos adquiridos por muncícipios de Nova Gales do Sul em 2008.