quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Darwin e a emancipação da ciência

(Publicado no portal Esquerda.net)

A descoberta por Charles Darwin da evolução pela selecção natural, desencadeou desde cedo reacções acesas e apaixonadas entre a comunidade científica e a sociedade civil. A Igreja de Inglaterra foi a primeira instituição importante a formular uma reacção de rejeição da teoria da evolução. Desde então o carácter revolucionário da obra de Darwin não deixou de ser objecto de ataques ideológicos e religiosos, suscitando no entanto a admiração de eminentes pensadores.

Marx considerava que o grande feito de Darwin foi o de nos interessar pela "história da tecnologia da natureza". Para Darwin a ascensão e o declínio das espécies era determinado pela luta entre organismos, pela selecção natural e pela sobrevivência dos mais aptos. Darwin inspirou Marx, para quem o destino era determinado pela luta de classes económicas. Esta ideia seria reforçada por Friedrich Engels quando este declarou perante o seu túmulo: "Tal como Darwin descobriu a lei da evolução na natureza orgânica, também Marx descobriu a lei da evolução na história humana".

Mais tarde Henri Bergson, filósofo e Prémio Nobel da Literatura em 1927, foi aquele que empregou argumentos mais sofisticados na tentativa de negar a teoria de Darwin. Bergson considerava que o processo de selecção natural a actuar por variações aleatórias não chega para explicar a evolução de um órgão complexo como o olho dos vertebrados. Considerava que houve um impulso vital (élan vital) a dirigir o desenvolvimento dessas partes mais complexas.

Ora, a selecção natural é um processo de acumulação de pequenos passos evolutivos, cada um deles com uma probabilidade baixa, mas não extremamente baixa. Quando um número muito grande destes pequenos passos pouco prováveis se sucede em série, o resultado final desta acumulação de passos é de facto muito pouco provável. O erro de Bergson e dos criacionistas é que insistem num erro estatístico fundamental ao considerarem o resultado final de um processo evolutivo como um único passo, desprezando o poder da acumulação de pequenos passos pouco prováveis.

Recentemente, as teses de Bergson foram retomadas pelos defensores do Desenho Inteligente. Para esta corrente niilista alguns dos seres vivos existentes na Terra não têm passado evolutivo, tendo sido obra de uma inteligência superior. Em 2004 um grupo de professores adepto desta corrente tentou incluir o desenho inteligente no currículo de uma escola secundária de Dover, Pensilvânia, EUA. O caso passou pelos tribunais e o Desenho Inteligente foi excluído do currículo da escola de Dover por violar o princípio constitucional de separação entre Igreja e Estado.

Este como outros ataques à ciência provenientes de seitas religiosas evangélicas norte-americanas associadas a correntes neo-conservadoras mais radicais (onde se inclui a ex-candidata Sarah Palin) despoletaram durante a recente campanha eleitoral americana o movimento "Defenda a Ciência". O seu manifesto contra a pseudo-ciência e a ortodoxia religiosa vincava a importância da defesa do Darwinismo contra as investidas dos criacionistas e do Desenho Inteligente. Este manifesto foi subscrito por milhares de investigadores, entre os quais 14 Prémios Nobel e mais de 100 membros da National Academy of Sciences dos EUA. O movimento "Defenda a Ciência" celebra hoje os 200 anos do nascimento de Darwin e os 150 anos da publicação de "A Origem das Espécies", apelando à defesa do legado de Darwin contra as novas seitas e as novas ideologias que pretendem mergulhar a nossa civilização em novas eras obscurantistas.

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