segunda-feira, abril 21, 2008

A fé na desregulação, aprendendo com a ENRON

Em desespero, os mais puristas ultraliberais vêm-nos dizer que a actual crise financeira resulta de uma insuficiente desregulação dos mercados, segundo os mesmos é preciso desregular ainda mais para tudo funcionar na perfeição. Para interpretar este e outro folclore da crise actual nada melhor do que aprender com o escândalo ENRON.

Depois do falhanço rotundo da desregulação do mercado da energia, implementado na Califórnia a pedido da ENRON, serviu de desculpa exactamente a mesma argumentação purista que ouvimos agora. A desregulação não tinha ido suficientemente longe, segundo a empresa e por isso tudo falhou. No entanto, na altura a cidade que foi mais longe no processo de desregulação, San Diego, viu os preços da energia duplicarem em apenas 3 meses. Houve escolas e empresas que ficaram sem ar condicionado e que eram obrigadas a fechar ao pôr-do-sol porque não podiam pagar as facturas da electricidade. Alguns meses depois, em Janeiro de 2001, numa sondagem organizada pelo San Francisco Chronicle, 92% dos Californianos manifestaram-se contra a desregulação do mercado da energia. Mas, o mais interessante, foi a reacção dos mais puristas da desregulação. Como vingança, alguns dos quadros mais fanáticos da ENRON desencadearam deliberadamente uma série de manobras especulativas e de esquemas ilegais para contornar os escassos mecanismos legais que davam algum poder de controlo ao Estado da Califórnia. O efeito foi agravar ainda mais a situação da Califórnia e aumentar o ódio dos cidadãos em relação à desregulação. Ironicamente, a vingança acabou por arruinar ainda mais as teorias sobre o mercado que estes estavam a tentar provar.
Ler o cap XVII, "Gaming California", do livro "The smartest guys in the room".

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