terça-feira, março 18, 2008

A actualidade do livro sobre a ENRON

Porque é que a ENRON faliu da forma como faliu? E o que significa a sua falência no contexto dos mercados mundiais? Eis as principais perguntas a que se propõe responder esta obra da autoria de Bethany McLean e Peter Elkind sobre a empresa que apostou forte na desregulação do mercado de energia. No entanto "The Smartest Guys in The Room" é muito mais do que uma obra sobre política empresarial, é um romance apaixonante forjado pela realidade que narra a impressionante história da ascensão e queda da ENRON, as vidas dos seus quadros, a sua relação com parceiros comerciais, com clientes, com a imprensa e com a política. É deste modo que em jeito de romance vamos seguindo a história dos principais actores, Jeff Skilling (CEO), Ken Lay (Presidente) e Rebecca Mark (sector internacional), desde os tempos de dificuldades vividos no seio de famílias modestas, os dois últimos tendo nascido no Midwest eram a encarnação do sucesso idealizado pelos teóricos do ultraliberalismo puro e duro. Aí estavam os grandes exemplos de que o esforço, o trabalho, o sacrifício, aliado à desregulação e ao ultraliberalismo forjavam o que havia de melhor entre as empresas americanas. Praticamente todos caíram que nem patinhos, a imprensa, os comentadores, os políticos e as principais escolas de economia. Sobre o verdadeiro significado de esforço, de trabalho e de sacrifício, ficamos inteiramente esclarecidos na obra de McLean e Elkin. Durante largos períodos o trabalho dos principais quadros da ENRON pouco os distinguia dos viciados de jogo de um casino, e a se a ENRON era alguma coisa, era sobretudo um casino onde se jogava forte e feio, contra as probabilidades mais desfavoráveis, frequentemente por puro narcisismo e megalomania. E esta é uma das principais interpelações que o livro faz ao leitor. Aceita que a sua fornecedora de internet, de energia ou o seu banco jogue no mercado financeiro a um nível de risco comparado ao jogo de casino? Com a agravante de muitos dos intervenientes, jovenzitos ultraliberais, profundamente crentes nos benefícios sociais do darwinismo de mercado, fazerem uso do mais profundo cinismo, instalando o caos na rede de abastecimento de energia da Califórnia, provocando desemprego, mortes, prejuízo, falências, demissões políticas, em troca de ganhos imediatos de milhões de dólares, ganhos sem esforço, sem produtividade que justificasse os ganhos. Esta foi a permanente história da ENRON, a história de como ganhar milhares de milhões sem produzir, ou produzindo pouco, sem servir os clientes, aproveitando a dimensão e a complexidade da empresa para escapar ao controlo financeiro. Foi assim que foram possíveis grandes manobras através de contas em paraísos fiscais, a criação de fundos de investimento ilegais e especulação bolsista do mais cínico e agressivo que se possa imaginar.
A melhor definição do que era na realidade a ENRON é dada por Rebecca Mark respondendo a um colega céptico em relação às contas da ENRON: "sometimes pigs do fly!"

A ENRON foi ao fundo e levou consigo a Arthur Andersen a empresa de consultadoria que fechava os olhos às manobras mais fraudulentas, juntas produziram dezenas de milhares de desempregados, arruinaram fundos de pensões acumulados durante toda a vida por milhares de trabalhadores e deixaram para a posteridade uma mega-central eléctrica em Dabhol na Índia, que continua parada, e que foi praticamente toda paga pelos contribuintes indianos. Jeff Skilling, o cérebro da ENRON foi condenado a 24 anos de prisão, Ken Lay morreu antes da sentença e a maioria dos quadros envolvidos nas fraudes foram condenados com penas pesadas, à excepção dos que colaboraram com a justiça.

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