quinta-feira, janeiro 27, 2005

Prioridade política: combater o absentismo e a aversão à escola

Já posso dizer que conheço um bocadinho a Europa e a grande diferença que noto entre Portugal e os restantes países é o nível educacional: literário e científico. Essa diferença é abissal e é o resultado de termos tido o pior ensino da Europa até meados dos anos 70 (bem pior que a Albânia, que a Grécia ou que a Irlanda). Apenas 21% de portugueses terminaram o ensino secundário. Na Europa, os piores a seguir a nós têm mais de 40% da população com o ensino secundário concluído, mas nos países de leste essas taxas são superiores a 80%. Isto nota-se em todo lado. Nota-se na irracionalidade de grande parte dos nossos empresários que desconfiam das novas tecnologias e que não acreditam na contratação de pessoal qualificado. Nota-se nas universidades onde temos muitos e muitos docentes que ocupam lugares há 20, 30 anos que nunca publicaram um artigo, que nunca confrontaram o seu trabalho com os seus pares internacionais, que passeiam ano após ano a mesma resma de acetatos que despejam aos seus alunos entre dois bocejos, são os mesmos do "dantes é que era bom". Nos serviços mais básicos encontramos pessoal ainda menos qualificado, como é natural. Mas o que não é tão natural é que nesses serviços (restaurantes, cabeleireiros, lojas de electrodomésticos, livrarias, supermercados, etc.) encontramos recorrentemente empregados e gerentes que muito pouco sabem da história, das características ou do processo de produção do produto que nos estão a vender. Por exemplo, em serviços tão simples como os restaurantes esses profissionais em vez de apresentarem bons conhecimentos de gastronomia brindam-nos com bons conhecimentos de futebol ou do big brother do momento. É sempre isto em todo lado, a conversa do portuga pouco passa do futebol, o "meu Benfica", como oiço tantas vezes. Agora saber quantos Watt consome o frigorífico, ou de que casta é o vinho tinto, ou se o shampoo pode ser usado todos os dias, ou se determinado livro já foi traduzido, isso...
As consequências desta catástrofe é que trabalhamos mais do que os outros, mas trabalhamos pior. Somos desorganizadíssimos o que se reflecte em atrasos e lentidão que custam muito dinheiro. E para completar o ramalhete, sublimamos a nossa mediocridade através da arrogância. Depois fazemos tudo ao contrário.

Os 45% de alunos que abandonam o ensino secundário vão contribuir para este pelotão de mediocridade. Esse abandono acontece em muitos meios do nosso país onde estudar ainda é visto como um acto de malandrice, onde a escola ainda é vista de soslaio, onde a referência para os jovens é o Tó Zé da 125 que saca uns cavalos e que trabalha nas obras há 10 anos. Noutros meios, muito típicos do Cavaquistão, a Universidade e os livros são vistos como coisa de comunas. "A minha filha na Universidade misturada com os comunas? Nem pó!". O esforço para impedir que esses 45% de alunos abandonem a escola secundária tem que ser um desígnio nacional, e deveremos fazê-lo sem o miserável esquema das passagens administrativas até ao 9º ano implementadas por Couto dos Santos.

Os nossos políticos que ficaram tão excitados com o Iraque ao ponto de defenderem um esforço quase suicida do ponto de vista financeiro na participação na loucura empreendida pelos EUA, deveriam pensar que o nosso Iraque, a nossa Al-Qaeda, é o absentismo e a aversão à escola. Portugal deveria fazer um esforço gigantesco, diria mesmo megalómano, para recuperarmos num período de 5 a 10 anos o nosso atraso colossal na educação. Deveria ser um de esforço equivalente a realizar um grande evento, como uns Jogos Olímpicos ou um Campeonato do Mundo.
Tudo o resto na política portuguesa é secundário.

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